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Passos N.95, Julho 2008

CULTURA | LIVRO - REFLEXÕES SOBRE A VIRGEM SANTÍSSIMA

Devoção Mariana

por José Cândido da Silva*

Meditando sobre os títulos que Nossa Senhora recebeu através dos tempos, o autor penetra na dimensão que a Virgem Santíssima ocupa no plano de Deus, convidando o leitor a meditar também sobre esse mistério

A editora Formatto, que dedica-se a publicar livros de formação cristã, traduziu recentemente a obra “Reflexões sobre a Virgem Santíssima”. É muito oportuna a edição contemporânea deste livro do Cardeal Newman, egresso da Igreja Anglicana à fé católica. Este livro, além de ser uma verdadeira catequese sobre Maria, Mãe de Jesus, é uma apologia da Igreja Católica na reafirmação de uma verdade sobre a Mãe de Deus, muito específica do catolicismo romano. Por isso ele afirma com uma lógica baseada na sua experiência que – ao contrário do que apregoavam os protestantes daquela época, e poderíamos acrescentar, os evangélicos de hoje – a devoção a Maria não obscurece a centralidade de Cristo na Igreja e nem nosso amor a Ele. Pois é exatamente a teologia liberal dos protestantes que nega a divindade de Jesus e influencia os ambientes e países de formação protestante, na Europa, a negarem Jesus e a traírem a Tradição Apostólica.
O Cardeal Newman vai percorrendo com argumentação lógica e coerência bíblica as verdades fundamentais sobre Maria: a sua maternidade divina, imaculada conceição, sua assunção à glória celeste. Antecipando de alguma forma o Concílio Vaticano II, ele apresenta os fundamentos bíblicos e a dupla referência essencial da identidade e da missão de Maria em relação a Cristo e à Igreja. Por isto ele afirma que honrar a Mãe é honrar o Filho e que Maria é um milagre da graça de Deus em previsão dos méritos de Jesus Cristo seu Filho. Belíssima a frase que dá título ao quinto capítulo: “Maria começa onde os outros terminam”, que lembra a Constituição Dogmática Lumen Gentium que afirma ser Maria a pré-figura da Igreja “sem ruga e sem mancha, nem algo semelhante, mas santa e imaculada” (Ef 5,27), que nos antecipa e nos dá ânimo e esperança para chegar no definitivo de plenitude pela graça de Deus, Espírito Santo.
Fazendo um breve resumo das Escrituras desde o Antigo Testamento o nosso autor lembra a força da oração de homens e mulheres de Deus até chegar à poderosa prece intercessora de Maria junto ao seu Filho por nós que somos pecadores. E, por meio de outras breves reflexões, o autor dá aos cristãos católicos a motivação e as “razões de sua esperança” (1Pe 3,15) em todos os atos de devoção mariana.

O autor e seu contexto
O cristianismo na Inglaterra teve influência da cultura celta, extremamente religiosa e mística. Um grande santo inspira o cristianismo celta: São Patrício. No século IV ele começa a sua pregação, organiza a Igreja na Irlanda e, posteriormente, na Inglaterra, a partir de mosteiros ao redor dos quais toda a estrutura da Igreja se constituía. No século VI o Papa Gregório Magno enviou um missionário que foi apelidado de Agostinho de Cantuária para se distinguir do Agostinho do século IV, mais conhecido. Neste contexto despontam eminentes figuras, desde São Tomás Moro a tantos outros como o Cardeal Newman.
Nascido em Londres a 21 de fevereiro de 1801, John Henry Newman foi criado em um ambiente calvinista, de onde saiu após os 15 anos de idade por discordar da doutrina, por ele chamada de “detestável”, da predestinação, inclusive para a condenação. Como diácono da Igreja Anglicana participa do movimento de Oxford, no qual intelectuais estudavam os escritos dos primeiros Padres da Igreja. Foi neste círculo de estudos que Newman reconheceu a continuidade e a fidelidade à Igreja dos Apóstolos objetivada na Igreja Romana. Começa seu itinerário de conversão.
A Igreja da Inglaterra inclui três tipos de vivência cristã, identificados como Low Churh (Igreja Baixa) de tendência evangélica que assumiu os ideais de um cristianismo protestante; a High Church (Igreja Alta), que além de conservar a tradição litúrgica e solene do catolicismo romano, mantém uma identidade de fé, de doutrina e de espiritualidade com a Tradição Apostólica; e a Broad Church que tenta conciliar as duas tendências anteriores. Nas três tendências não se pode, infelizmente, garantir a validade das ordenações por problemas históricos que tornam confusa a linha de sucessão apostólica. A contínua concessão à mentalidade ultraliberal, que permeia todo o anglicanismo até hoje, criou em Newman insatisfações que o levaram a se decidir pela Igreja de Roma no dia 8 de outubro de 1845. Foi uma decisão dolorosa e um itinerário sofrido, com acusações e calúnias que serviram para purificar ainda mais a sua fé. Ordenado padre católico romano em 1847 é honrado com o cardinalato pelo Papa Leão XIII em 1879. Faleceu em 11 de agosto de 1890, com 89 anos de idade e foi reconhecidamente homenageado em toda Inglaterra.
O testemunho do Cardeal Newman adquire notável importância quando se sabe que antes da sua conversão ele abominava a fé católica. Depois de convertido ele afirmava estar constrangido e arrependido. A grande diferença entre o Cardeal Newman e os que hoje estigmatizam a Igreja Católica é a honestidade na busca da verdade. Era-lhe até desculpável em uma época de grande polarização entre católicos e protestantes ter esta atitude agressiva. Hoje isto não é mais uma realidade.

* Sacerdote, mestre em Teologia e professor da PUC Minas e do Instituo Santo Tomás de Aquino (ISTA).

Serviço:
“Reflexões sobre a Virgem Santíssima”

Cardeal Newman
105 páginas
R$ 20,00

Formatto Publicações
Tel: (11) 3554-4773

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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