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Passos N.95, Julho 2008

SOCIEDADE - CDO CARTA DO PRESIDENTE

Um interesse real pelo bem das pessoas

por Bernhard Scholz

Esta é a carta que o novo presidente da Companhia das Obras escreveu aos associados. Muito mais que um programa para a associação, ela contém uma indicação de método útil para todos

Caros amigos, nos últimos anos, tive a oportunidade de encontrar muitos de vocês por causa do meu trabalho na Escola de Administração da Fundação pela Subsidiariedade. Pude conhecer muitas obras, mas, sobretudo, conheci muitas pessoas que trabalham nelas com um interesse real e perspicaz pelo bem das pessoas, com uma caridade que se exprime até o sacrifício, com um gosto pela beleza como sinal de uma positividade presente em tudo, com uma esperança que torna possível viver mesmo situações dramáticas com uma gratuidade surpreendente.
Os próprios colaboradores da Companhia das Obras (CdO) que encontrei e estou conhecendo nestes dias vivem o serviço com grande disponibilidade e real dedicação. Então, descobri a nossa companhia como uma realidade extraordinária – rica de uma humanidade viva, caracterizada pela criatividade e liberdade. E isso não vale apenas para as obras mais famosas, das quais se fala publicamente, mas também para muitas obras pequenas e empresas menos conhecidas.

A CdO desenvolve-se, de fato, como apoio recíproco na criação de obras que desejam colocar no centro o bem da pessoa, reforçar a liberdade, favorecer a responsabilidade e contribuir para o bem comum. Nessa experiência, que se exprime em uma contínua e incansável tensão ideal, está o valor social e a dignidade cultural da CdO. Quanto mais uma obra expressa o desejo autêntico da pessoa, mais é desenvolvida uma relação orgânica e verificável entre o bem da pessoa, o bem da empresa e o bem comum. Nesse sentido, a CdO é um testemunho de que é possível viver o trabalho de um modo que, respondendo à própria necessidade, contribua para responder à necessidade de todos.
Nos próximos meses quero, sobretudo, compreender melhor esta nossa amizade operativa e solicitar um diálogo entre nós sobre as razões que sustentam o nosso trabalho e sobre as perspectivas que as nossas experiências nos sugerem, começando pelos órgãos que representam a CdO em todas as suas expressões. Não é uma capacidade de projetos que nos salva, mas temos responsabilidades diante dos sinais evidentes que nos interpelam e nos pedem para encontrar modalidades cada vez mais adequadas para um real apoio recíproco.
Sem querer pré-julgar o resultado desse diálogo, permito-me sublinhar três pontos que me parecem particularmente importantes e que vejo como uma continuidade dos mandatos de Giorgio Vittadini e de Raffaello Vignali.
A primeira preocupação diz respeito aos jovens e seu ingresso no mundo do trabalho. É preciso, antes de mais nada, fazer o que for possível para valorizar todas as oportunidades. Quando um jovem entra em uma empresa ou em uma obra não precisa apenas de uma formação profissional contínua, mas também da oportunidade de uma educação. A emergência educativa, de fato, não cabe mais apenas à família e à escola, mas, de modo crescente, à empresa: é preciso criar as condições para que aqueles que começam a trabalhar possam fazer experiência do próprio trabalho como possibilidade de um amadurecimento não apenas profissional, mas também humano. Precisamos procurar compartilhar, o máximo possível, as nossas experiências positivas que documentam essa possibilidade.
A segunda, diz respeito à rede entre as empresas. Dentro da CdO nasceram e se desenvolvem muitas relações entre empresários – diferentes entre si pela modalidade de agregação, pela finalidade e pela dimensão –, que refletem a verdadeira natureza da associação: um lugar onde os próprios associados tomam a iniciativa de trabalhar e construir juntos. Essas agregações entre os associados são fatos originais e preciosos, que são acompanhados, apoiados, observados e compreendidos para que possam se tornar, também eles, patrimônio de experiência comum.

Por fim, gostaria de sublinhar a necessidade da formação profissional e administrativa tanto para as empresas com fins lucrativos como para aquelas sem fins lucrativos. Aquele critério ideal ao qual nos referimos, requer um empenho contínuo para encontrar métodos e instrumentos o mais adequados possível para o desenvolvimento das empresas, para dar continuidade a tudo o que nasce da nossa criatividade.
À política, pedimos e continuaremos a pedir uma tutela das iniciativas que nascem das pessoas e das várias associações e movimentos presentes na sociedade. Sugerimos a todos, seguirem o princípio da subsidiariedade que favorece a ligação entre liberdade e responsabilidade, raiz de uma sociedade democrática não apenas na forma, mas também na substância. Sabemos que podemos contar com políticos sensíveis a esses temas, entre os quais também o amigo Raffaello Vignali que me precedeu na presidência da CdO e a quem agradeço pelo grande trabalho feito, sobretudo reafirmando “a honra de construir empresas”.

O emergir de um trabalho reconhecível pela sua diversidade é a documentação de que a nossa amizade tem sua origem em algo que a precede e a plasma de seu interior. Reconhecer essa origem ideal não apenas como geração histórica, mas como geração presente, é um ato de razoabilidade. São os fatos que falam. Nós somos os primeiros a nos surpreendermos com essa novidade que emerge em meio aos nossos limites, erros e aproximações. Mas toda a riqueza humana e social que nos capacita viver nessa dinâmica plena de construção e de acolhida não é obvia; antes, ela sempre corre o risco de se perder dentro de uma laboriosidade cotidiana que se esquece de suas razões. É preciso, então, uma fidelidade ao ideal e isto quer dizer uma fidelidade à nossa amizade, que reflete em si a razão que deu início à CdO. Para que tudo possa existir e para que tudo possa contribuir para o bem de cada um. Essa é a nossa originalidade – em tudo.
Mas, o que é o “bem” da pessoa? O que é o “bem comum”? O nosso trabalho, as nossas obras e a nossa companhia responderão tanto mais adequadamente a estas perguntas quanto mais souberem orientar-se pelo carisma de Dom Luigi Giussani que, hoje, se faz presente pelo padre Julián Carrón. Este carisma é a origem sempre nova da CdO e podemos descobrir isso na sua verdade exatamente por meio do nosso trabalho e da nossa amizade. E, assim como, quanto mais a árvore cresce mais tem necessidade de raízes profundas, quanto mais crescem as nossas obras e mais cresce a própria CdO, mais nos convém beber desta linfa vital – lembrando-nos de que os frutos são para todos. Todas as nossas atividades e as nossas tentativas serão tanto mais significativas e “atraentes” quanto mais forem expressão de uma experiência cristã que se torna possibilidade de humanidade para todos.

O Meeting de Rímini deste ano terá como título “Ou protagonistas ou ninguém”, um título que nos chama, na sua simplicidade evocativa, ao sentido do nosso próprio serviço recíproco: fazer de tudo para que aqueles que encontramos possam se tornar protagonistas: da própria vida, do próprio trabalho, da própria empresa, do bem comum. E quanto mais alguém trabalha com essa intenção, mais se tornará, ele mesmo, protagonista. É nisto que está a reciprocidade da nossa companhia e uma autêntica capacidade de acolhida e de diálogo com todos.
Sou profundamente grato por poder colaborar com vocês nesta grande e apaixonante aventura humana, tão plena de desafios e, sobretudo, tão plena do desejo de realizar novas maneiras de viver por meio do difícil empenho com o trabalho cotidiano.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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