Como Deus quer
Sábado de manhã. Os meninos chegam aos poucos, em grupinhos ou sozinhos. Brincam, riem, se chamam. Daniela os saúda, um a um, junto com Paolino, Gabriel e Cristina. São uns trinta e fazem parte dos Cavaleiros, o grupo dos ginasiais, estudantes do ensino fundamental que, ajudados por alguns adultos, se encontram para viver uma amizade cristã. Começa o encontro e, mais tarde, se divertirão juntos. Daniela distribui o panfleto de CL sobre Eluana. A tragédia da moça em coma não tinha ainda chegado ao fim. “Vamos lê-lo juntos e depois me digam o que pensam.” Alguns minutos de silêncio e, depois, é como uma avalanche. Não estão indiferentes. Ouviram falar em casa, na escola, na televisão. Os comentários se entrelaçam. Ao fundo, uma voz: “Não sei o que pensar. Estou um pouco confuso...”. “Mas, ora” – intervém decidido Daniel – “Eluana não fala, não se move, que vida é essa?”. “Concordo com você”, comenta Giulio. A discussão se instala. Daniela faz algumas considerações, raciocínios, e até “força a barra” para mostrar seu modo de ver.
As vozes se alteram. Num canto, porém, Francesco está com o rosto banhado em lágrimas. Francesco tem alguns problemas físicos: não fala, mas se comunica por meio de um teclado. Quando nasceu, os médicos disseram que jamais andaria, que não compreenderia nada... Ao contrário, Francesco ri bastante, às vezes cantarola, é um garoto tranquilo. Gabriel percebe as suas lágrimas e diz a Daniela. “Francesco, por que você está chorando?”. No teclado, ele digita: “Choro porque é preciso viver como Deus quer”. Ninguém mais fala. O olhar dos jovens passa do vídeo a seu amigo. Não há mais necessidade de palavras. O encontro acabou. O menino “que nunca compreenderia nada” mostrou na carne que existe um Mistério bom que faz todas as coisas. Basta ter olhos para ver. Como faz Giulio, que, ao final da manhã, antes de se despedir, tem ainda algo para dizer: “Posso mudar de idéia a respeito do que disse antes?”.
Segunda-feira de manhã. Daniela, de sua mesa de professora, olha seus alunos. Fecha o livro com a lição planejada. Da bolsa, retira o panfleto de Eluana no qual escreveu em destaque a frase de Francesco e a relê pela enésima vez. Depois diz: “Hoje, para começar, quero lhes contar a respeito de um amigo meu, Francesco, um garoto da idade de vocês, que sábado me disse...”.
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