Mudanças na vitrine
Revista Veja
A Holanda é um dos países mais liberais da Europa. Comportamentos considerados tabu em muitos países, como eutanásia, casamento gay, aborto e prostituição, são legalmente aceitos pelos holandeses. Em Amsterdã, turistas podem comprar pequenas quantidades de maconha em bares especiais, os coffee shops, e escolher abertamente prostitutas expostas em vitrines, uma tradição da cidade. No passado, De Wallen, o bairro da Luz Vermelha, como é chamado nos guias turísticos, foi relativamente tranqüilo e apinhado de curiosos. Desde que a prostituição foi legalizada, sete anos atrás, tudo mudou. Os restaurantes elegantes e o comércio de luxo que havia nas proximidades foram substituídos por hotéis e bares baratos. A região do De Wallen afundou num tal processo de degradação e criminalidade que o governo municipal tomou a decisão de colocar um basta. Desde o início deste ano, as licenças de alguns dos bordéis mais famosos da cidade foram revogadas. Os coffee shops já não podem vender bebidas alcoólicas nem cogumelos alucinógenos, e uma lei que tramita no Parlamento pretende proibi-los de funcionar a menos de 200m das escolas. Ao custo de 25 milhões de euros, o governo municipal comprou os imóveis que abrigavam dezoito prostíbulos. Os prédios foram reformados e as vitrines agora acolhem galerias de arte, ateliês de design e lojas de artigos de luxo.
Nos últimos vinte anos, a gerência dos prostíbulos saiu das mãos de velhas cafetinas holandesas para as de obscuras figuras do Leste Europeu, envolvidas em lavagem de dinheiro e tráfico de mulheres. Boa parte dos problemas é conseqüência do excesso de liberalidade.
A experiência holandesa não é a única na Europa. Zurique, na Suíça, também precisou dar marcha a ré na tolerância com as drogas e a prostituição. O bairro de Langstrasse, onde as autoridades toleravam bordéis e o uso aberto de drogas, tornara-se território sob controle do crime organizado. A prefeitura coibiu o uso público de drogas, impôs regras mais rígidas à prostituição e comprou os prédios dos prostíbulos, transformando-os em imóveis residenciais para estudantes. Em Copenhague, na Dinamarca, as autoridades fecharam o cerco ao Christiania, o bairro ocupado por uma comunidade alternativa desde 1971.
(Thomas Favaro, Cidades, 05.mar.2008)
Felicidade e religião
Gazeta de Ribeirão
A relação entre felicidade e religião, pelo fato de esta última se pautar pela culpa, e à sexualidade e emoções reprimidas e suprimidas, pode, como no entender de Freud, corroer a felicidade. Por outro lado, considerando o bem-estar que muitos religiosos assumem sentir pela opção que fizeram, também pode, muitas vezes, ser associada à satisfação e prazer. Por sua vez, associada a critérios positivos de saúde mental, dados indicam que, indivíduos, uma vez religiosos, apresentam menor probabilidade de se tornarem delinqüentes, viciados em drogas e álcool, divorciados e suicidas. Tendem a ser fisicamente mais saudáveis e a viverem longamente. Tendem a reter, ou recuperar, maior felicidade após passarem por divórcio, desemprego, doença grave ou sofrimento intenso. Pesquisas também revelam uma estreita correlação entre fé e capacidade de enfrentar crises, pessoais ou sociais.
Verifica-se, portanto, que pessoas, religiosamente ativas, registram níveis mais altos de felicidade. Aquelas que tiveram escores mais elevados, numa escala de comprometimento espiritual, foram duas vezes mais prováveis para se declararem muito felizes, que aquelas com pontuações menores. Procurando explicar tais associações entre felicidade e religião, ou seja, entre fé e bem-estar subjetivo, pesquisadores têm considerado várias possibilidades. Uma hipótese reside no fato de que a fé, uma vez comunitária, fornece suporte social devido à sua prática coletiva. Outra explicação está no significado e propósito que muitas pessoas extraem de sua fé. Esta última hipótese pressupõe que religião satisfaz a mais fundamental de todas as necessidades humanas, ou seja, a necessidade de sabermo-nos importantes, que nossas vidas significam e contam alguma coisa, para além de sermos, apenas, um pequeno ponto no universo.
(José Aparecido da Silva, Ciência e Saúde, 02.mar.2008)
Renda e educação dos pais pesam mais do que cor
Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento
A desigualdade de acesso à educação entre negros e brancos no Brasil se deve mais à origem social do que à discriminação de cor. Entretanto, o preconceito também influencia a diferença. Essa é uma das conclusões de um estudo feito pelo Centro de Internacional de Pobreza. Nesse modelo, os fatores que influenciaram o sucesso educacional (chegar ao nível de escolarização indicado para a idade) são os socioeconômicos, mais do que a cor da pele. Por exemplo, a probabilidade de uma criança de 7 anos estar alfabetizada em 1982 cresce quando a educação do chefe de família e a renda da casa são maiores, independentemente de o aluno ser branco, preto ou pardo. A região também influencia, e a probabilidade cresce na seguinte ordem: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Desse modo, a criança nascida na região Norte teria menos chances de estar alfabetizada, e a nascida no Sul, mais chances. Esse padrão de influência da educação dos pais e da renda se repete em todos os níveis analisados — ensino fundamental, ensino médio e superior.
O fato de a região e de a origem social serem mais relevantes que a discriminação por cor traz uma conclusão ruim, na opinião do autor do estudo. “Isso só mostra que o Brasil é um país com baixa mobilidade social e que o peso da origem social é grande. É muito difícil para alguém com renda baixa e cujos pais não tiveram acesso à educação conseguir atingir um nível educacional alto”, afirma Osório. Para o especialista, isso pode explicar a manutenção dos negros entre os segmentos de renda mais baixos da sociedade e a perpetuação de uma desigualdade racial que vem dos tempos da escravidão.
(Tiago Mali, Notícias, 22.fev.2008)
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