Trechos da homilía do Papa BentoXVI a Loreto por ocasião do Ágora dos jovens italianos. Domingo, 2 de Setembro de 2007
Queridos irmãos e irmãs, amados jovens amigos. Depois da vigília desta noite, o nosso encontro conclui-se em redor do altar, com a solene Concelebração Eucarística. (...) Este é verdadeiramente um dia de graça! As Leituras que acabamos de ouvir ajudam-nos a compreender como é maravilhosa a obra realizada pelo Senhor, que nos trouxe aqui a Loreto, em tão grande número e num jubiloso clima de oração e de festa. Neste nosso encontro no Santuário da Virgem cumprem-se, num certo sentido, as palavras da carta aos Hebreus: “Vós aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo”. Celebrando a Eucaristia à sombra da Santa Casa, também nós nos aproximamos da “reunião festiva e da assembléia dos primogênitos inscritos nos céus”. Assim, podemos experimentar a alegria de nos encontrarmos diante “do Deus Juiz de todos e dos espíritos dos justos, que atingiram a perfeição”. Juntamente com Maria, Mãe do Redentor e nossa Mãe, vamos sobretudo ao encontro do “Mediador da Nova Aliança”, nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Hb 12, 22-24). O Pai celestial, que falou aos homens muitas vezes e de diversos modos (cf. Hb 1, 1), oferecendo a sua Aliança e encontrando muitas vezes resistências e rejeições, na plenitude dos tempos desejou estabelecer com os homens um pacto novo, definitivo e irrevogável, selando-o com o sangue do seu Filho unigênito, morto e ressuscitado para a salvação de toda a humanidade. Jesus Cristo, Deus que se fez homem, assumiu em Maria a nossa própria carne, tomou parte na nossa vida e quis compartilhar a nossa história. Para levar a cabo a sua Aliança, Deus procurou um coração jovem e encontrou-o em Maria, “jovem mulher”.
Ainda hoje Deus está à procura de corações jovens, busca jovens com um coração generoso, capazes de reservar espaço para Ele na sua vida, a fim de serem protagonistas da Nova Aliança. Para acolher uma proposta fascinante como a que o próprio Jesus nos apresenta, para estabelecer com Ele uma Aliança, é necessário ser jovem interiormente, capaz de se deixar interpelar pela sua novidade, para empreender novos caminhos juntamente com Ele. Jesus tem uma predileção pelos jovens, como é oportunamente evidenciado pelo diálogo com o jovem rico (cf. Mt 19, 16-22; Mc 10, 17-22); respeita a sua liberdade, mas nunca se cansa de lhes propor metas mais excelsas para a própria vida: a novidade do Evangelho e a beleza de um procedimento santo. Seguindo o exemplo do seu Senhor, a Igreja continua a ter a mesma atenção. Eis por que motivo, queridos jovens, ela olha para vós com imenso carinho, está próxima de vós nos momentos de alegria e de festa, de prova e de confusão; ela vos sustenta com os dons da graça sacramental e vos acompanha no discernimento da vossa vocação. Caros jovens, deixai-vos empenhar na vida nova que brota do encontro com Cristo e sereis capazes de vos tornar apóstolos da sua paz nas vossas famílias, no meio dos vossos amigos, no interior das vossas comunidades eclesiais e nos vários ambientes em que viveis e trabalhais.
Mas o que faz tornar-se verdadeiramente “jovem” em sentido evangélico? Este nosso encontro, que se realiza à sombra de um Santuário mariano, convida-nos a olhar para Nossa Senhora. Portanto, perguntemo-nos: como foi que Maria viveu na sua juventude? Como foi que nela o impossível se tornou possível? É Ela mesma que nos revela isso no cântico do Magnificat: Deus “viu a humildade da sua serva” (Lc 1, 48a). A humildade de Maria é aquilo que Deus aprecia mais do que qualquer outra coisa nela. Aqui em Loreto o nosso pensamento dirige-se, naturalmente, para a Santa Casa de Nazaré, que é o Santuário da humildade: a humildade de Deus que se fez carne, que se fez pequenino, e a humildade de Maria que O recebeu no seu seio; a humildade do Criador e a humildade da criatura. Foi deste encontro de humildade que nasceu Jesus, Filho de Deus e Filho do homem. “Aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14, 11). Hoje esta perspectiva indicada pelas Escrituras parece mais provocadora do que nunca para a cultura e a sensibilidade do homem contemporâneo. O homem humilde é visto como um renunciatário, um derrotado, alguém que nada tem a dizer ao mundo. E, no entanto, esta é a via-mestra, e não apenas porque a humildade é uma grande virtude humana, mas porque, em primeiro lugar, representa o modo de agir do próprio Deus. É o caminho escolhido por Cristo, o Mediador da Nova Aliança que, “identificado como homem, se humilhou a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2, 7-8).
Vislumbro nesta palavra de Deus uma mensagem importante e mais atual do que nunca para vós, que desejais seguir Cristo e fazer parte da sua Igreja: não sigais o caminho do orgulho, mas sim o itinerário da humildade. Ide contra a corrente: não escuteis as vozes interessadas e sedutoras que hoje, de muitas partes, difundem modelos de vida caracterizados pela arrogância e pela violência, pela prepotência e pelo sucesso custe o que custar, pelo aparecer e pelo ter, em detrimento do ser. De quantas mensagens, que chegam até vós, sobretudo pelos mass media, vós sois destinatários!
Sede vigilantes! Sede críticos! Não sigais a onda produzida por esta poderosa ação de persuasão. Prezados amigos, não tenhais medo de preferir os caminhos “alternativos”, indicados pelo amor autêntico; um estilo de vida sóbrio e solidário; relacionamentos afetivos sinceros e puros; um compromisso honesto no estudo e no trabalho; e o profundo interesse pelo bem comum. Não tenhais medo de ser diferentes e criticados por aquilo que pode parecer uma derrota ou estar fora de moda: os homens têm uma profunda necessidade de ver alguém que ousa viver em conformidade com a plenitude de humanidade manifestada por Jesus Cristo.
Queridos amigos, o caminho da humildade não é portanto a vereda da renúncia, mas sim da coragem. Não é o êxito de uma derrota, mas o resultado de uma vitória do amor sobre o egoísmo e da graça sobre o pecado. Seguindo Cristo e imitando Maria, devemos ter a coragem da humildade. (...) O Senhor realizou maravilhas em Maria e nos Santos! Penso, por exemplo, em Francisco de Assis e em Catarina de Sena, Padroeiros da Itália. Penso também em jovens esplêndidos, como Santa Gema Galgani, São Domingos Sávio, Santa Maria Goretti, e nos Beatos Piergiorgio Frassati e Alberto Marvelli. E penso inclusive nos numerosos rapazes e moças que pertencem à plêiade dos Santos “anônimos”, mas que para Deus não são anônimos. Para Ele, cada pessoa individualmente é única, com o seu nome e o seu rosto. Todos nós somos chamados a ser santos! (...) É verdade, os desafios que deveis enfrentar são numerosos e grandes! Porém, o primeiro deles permanece sempre o do seguimento de Cristo até o fim, sem reservas nem compromissos. E seguir Cristo significa sentir-se como uma parte viva do seu corpo, que é a Igreja.
Não podemos definir-nos discípulos de Jesus, se não amamos e não seguimos a sua Igreja. A Igreja é a nossa família, na qual o amor ao Senhor e aos irmãos, sobretudo na participação eucarística, nos faz experimentar a alegria de poder antegozar já agora a vida futura que será totalmente iluminada pelo Amor. Portanto, sentir-se Igreja é uma vocação à santidade para todos; é o compromisso diário a construir a comunhão e a unidade, vencendo toda a resistência e superando toda a incompreensão. Na Igreja nós aprendemos a amar, educando-nos para a recepção gratuita do próximo, a atenção solícita às pessoas que se encontram em dificuldade. A motivação fundamental que une os crentes em Cristo não é o sucesso, mas o bem, um bem que é tanto mais autêntico, quanto mais é compartilhado, e que não consiste antes de tudo no haver ou no poder, mas sim no ser. É assim que se edifica a cidade de Deus com os homens, uma cidade que contemporaneamente cresce a partir da terra e desce do Céu, uma vez que se desenvolve no encontro e na colaboração entre os homens e Deus (cf. Ap 21, 2-3).
Caros jovens, seguir Cristo comporta, além disso, o esforço constante em dar a própria contribuição para a edificação de uma sociedade mais justa e solidária, onde todos possam gozar dos bens da terra. Bem sei que muitos de vós já se dedicam com generosidade ao testemunho da própria fé nos vários âmbitos sociais, atuando com voluntariado, trabalhando para a promoção do bem comum, da paz e da justiça em todas as comunidades. Um dos campos em que parece urgente atuar é, sem dúvida, o da salvaguarda da criação. É necessário um sim decisivo à tutela da criação e um compromisso vigoroso em vista de inverter as tendências que correm o risco de levar a situações de degradação irreversível.
Diletos jovens amigos, depois de ter ouvido as vossas reflexões da tarde de ontem e desta noite, deixando-me orientar pela Palavra de Deus, agora desejei confiar-vos estas minhas considerações, que tencionam ser um encorajamento paternal a seguirdes Cristo para assim serdes testemunhas da sua esperança e do seu amor. Quanto a mim, continuarei a permanecer ao vosso lado mediante a oração e com o afeto, a fim de poderdes continuar com entusiasmo o caminho do Ágora, este singular percurso trienal, feito de escuta, de diálogo e de missão.
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