Indicações conclusivas do V Encontro Nacional de Educadores apresentadas por Dom Filippo Santoro no dia 15 de julho de 2007.
O centro da nossa reflexão foi a figura do educador: perguntamos: O que nos permite ser permanentemente educados? O que permite uma educação permanente? Indico três coisas:
Em primeiro lugar, a natureza do nosso coração, que em si mesmo não se conforma com as coisas mesquinhas e sufocantes; quer sempre crescer. Nos educamos se realmente prestamos atenção ao nosso coração, se não o deixamos sepultado. Se nós, como fala o Papa Bento XVI, acolhemos o desafio de dilatar a razão sem ceder a todos os reducionismos que a querem sufocar no âmbito restrito do conhecimento sensível considerando o método científico como o único que explica a realidade toda. Sabemos que as dimensões do coração são mais amplas que as dimensões matemáticas e científicas. Por isso, somos educados quando escutamos a grandeza do nosso coração e o ímpeto verdadeiro da nossa razão.
O outro elemento que nos educa constantemente é a presença entre nós de um fato cheio de verdadeira autoridade. A presença entre nós de uma autoridade “auctoritas” que permite o crescimento das dimensões da nossa vida. Algo que se insere no nosso caminho como a oferta de um abraço total que nos acolhe como somos e nos abre à perspectiva de um crescimento contínuo. É o encontro com um mestre verdadeiro que pode ser uma pessoa ou uma comunidade educativa. Assim era a presença de Cristo para os seus amigos; os apóstolos e os discípulos. Ele acolhia a totalidade da pessoa, inclusive o limite e o pecado, e o que é o mais extraordinário, a própria morte. Um abraço total ao presente e ao destino.
Tanto para os educadores como para os alunos é importante responder à pergunta “quem sou eu”, mas é muito mais decisivo responder a uma pergunta parecida: “Quem sou eu para você?” Esta é a pergunta secreta de todos, particularmente dos jovens: quem sou eu para você? Quem sou eu para você, pai? Quem sou eu para você, mãe? Quem sou eu para você, educador?... Quem sou eu para você? E qual era a resposta que o Senhor dava? “Eu sou tudo para você”. O educador é o eco deste tudo, a presença deste tudo, a presença de algo que não é fragmentado, parcial ou dividido. No educa o permanecer desta autoridade e deste abraço mesmo no meio de todas as contradições e das mais diversas circunstâncias.
Uma amizade verdadeira
Segundo ponto: Como este fato que nos educa permanece entre nós? Como a beleza de um encontro bonito não se apaga e não some – “o que era doce acabou”, como a banda que dá a todo mundo um momento de alegria, e depois passa. O permanecer é possível por meio de uma amizade que contenha algo maior que a minha boa vontade, o meu desejo, o meu interesse e meu entusiasmo; algo que não termina, que carrega uma presença maior.
Uma amizade que carrega em si um significado amigo da minha vida, um significado grande como o destino. Uma amizade na qual esta presente o sinal do destino. Esta amizade se torna o método, porque nela alguém me indica a fonte de algo novo, que me ilumina não só nas questões últimas, mas nos aspectos cotidianos. Uma nova abordagem de tudo, um novo coração pronto para viver a realidade, desde o significado das coisas até a técnica, desde as coisas mais profundas até as mais simples, de como preparar uma sala de aula, de como preparar uma boa acolhida. Algo parecido ao que aconteceu neste encontro nacional onde experimentamos uma forma bonita de estarmos juntos - com os cantos, com a liturgia, com o almoço, com a festa, com significado, que nos acompanha e que não termina com o encerramento do encontro, porque carrega entre nós uma presença maior.
Nesta perspectiva, indico dois aspectos. Isso é possível, seja na experiência dos educadores do Movimento Comunhão e Libertação, seja nos encontros que se realizam nas várias dioceses como acontecem, por exemplo, aqui em Petrópolis e em outras cidades, onde vários educadores começam a se reunir dando vida à Pastoral da Educação. É uma amizade não restrita a um pequeno grupinho, mas aberta às várias experiências, a todos porque é católica. Não queremos fazer grupinhos, mas desejamos viver um horizonte grande a partir da beleza do encontro feito nestes dias.
A nossa responsabilidade pública
No terceiro ponto dizemos que a nossa responsabilidade pública começa tendo clara a consciência daquilo que somos, a nossa identidade. O que comunicamos nestes dias tem uma dignidade cultural que pode ser proposta a todos, diante do mundo da educação e dos seus vários problemas. O horizonte do nosso trabalho é a sociedade, é aberta a todos, porque fala das exigências de todos os educadores e desenvolve a questão da razão, do coração do relacionamento educativo; do pleno desenvolvimento de professores e alunos. A nossa experiência tem uma dignidade cultural e comunica uma proposta cheia de esperança para todos. Trata-se de uma visão total, que nos habilita a dialogar com todos - com relativistas, construtivistas e indiferentes. Diante da confusão e da falta de pontos de referência, prevalece o desejo de relacionarmos com todos, a partir de uma identidade clara e, precisa, com a clareza daquilo que somos e daquilo que nós queremos comunicar. Assim, fortalecendo a nossa amizade, será possível intervir nas leis, pedindo melhores condições para os professores, e, sobretudo, ajudando a definir uma proposta educativa integral. Progressivamente, será possível entrar nos detalhes das leis, das problemáticas e das provocações que a realidade da educação nos oferece.
Nesta perspectiva, o aspecto mais importante é a experiência de unidade que forma um juízo novo. Isso torna possível, por exemplo, diante de uma batalha pública entrar com um juízo original sem se deixar determinar pela lógica dos sindicatos ou dos partidos das reivindicações (pois quando se trata de um aliado do governo há uma atitude, quando se trata da oposição, há uma outra), mas tendo um critério novo que parte da nossa experiência. Ou também diante de uma greve, qual atitude tomamos? Quais critérios seguir? O que privilegiar? Somos chamados a viver a nossa fé de forma original e não reativa.
Na Diocese de Petrópolis, encontrei uma experiência interessante: uma rede de escolas diocesanas conveniadas com a prefeitura. Trata-se de um conjunto de obras que realizam o princípio da subsidiariedade. Estamos diante de uma maneira original de viver a identidade cristã, arriscando atividades educativas (creches e escolas) nas regiões mais necessitadas da cidade. Cito, também, o exemplo da implantação do Ensino Religioso confessional e plural no Estado do Rio de Janeiro. Sabemos que no Brasil existe um ensino religioso antropológico que no fim não dá em nada. Em São Paulo, os professores que ministram o Ensino Religioso são formados em História, em Filosofia, em Psicologia, na sua grande maioria, não devem ter muita simpatia pelo fenômeno religioso. No estado do Rio de Janeiro, conseguimos por meio de um trabalho cultural e, depois político, a aprovação da referida lei. Depois, nasceu a idéia de oferecer os textos a partir da nossa experiência. Com um grupo de educadores, preparamos a confecção de livros do Ensino Religioso de primeira a quarta séries. Os textos são um primor, seja pelas ilustrações do cartunista Ziraldo, seja pelo conteúdo, fruto de uma larga experiência educativa. Os dois primeiros volumes, As Obras de Deus e O Fato Cristão, já estão prontos, publicados pela Editora Vozes.
Este é nosso caminho: uma educação permanente que nos faz crescer numa amizade que permanece, e que cria obras originais no mundo da educação e na sociedade.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón