A verdade do eu
Giorgio, meu querido, desconforto, não ceticismo, desconforto porque embora com um coração novo, e tendo dentro de mim um espírito que me leva longe daquilo que possa ser o passado, eis que ele se reapresenta com uma virulência que, se não fosse confortado pela presença contínua de alguém que me protege, sempre ao meu lado, jamais saberia quais escolhas deveria fazer. Jesus, com a sua presença contínua permite viver com constância a escolha indicada por Ele e, mesmo com todas as tempestades, Ele dá a serenidade necessária nos momentos difíceis. Sem dúvida, somos constantemente colocados à prova, coisa que talvez Ele não queira, mas é sempre útil, e cada vez mais, para verificar o quanto confiamos a Ele o próprio sacrifício. Mas, parafraseando o título do Meeting de Rímini “A verdade é o destino para o qual somos feitos”, tudo se liga, até a Sua vontade de nos colocar à prova, porque a verdade é aquela que Ele afirmou desde o início, para que o destino se cumpra e seja um destino de amor e beleza. Mesmo vivendo uma vida inteira no mal e na iniqüidade mais absoluta, porque Ele quis assim, tendo nos deixado a liberdade de agir também no mal. Mas, como há um só destino na vida, e é aquele desejado por Ele, naquele ponto a verdade será determinante, e conseguirei viver com um novo brilho. O desconforto de não conseguir fazer surgir a verdade por meio das escolhas feitas é o que torna a vida pior... a verdade que me transforma neste novo homem, a quem fez tanto bem ser acompanhado por você e por todos vocês no caminho do renascimento. (...) Não é verdade que nada mudou, porque parecia que deveria acontecer uma mudança radical mas, depois, aconteceu da forma mais tênue. Eu iria ser transferido, durante o dia, para a solitária, quer dizer, ia ficar sozinho num lugar com chão de terra, muito frio e úmido, mas depois preferiram deixar-me onde eu estava, mas mantendo a porta sempre fechada. Menos pior, devemos ficar contentes com soluções menos restritivas e devemos sempre agradecer. É por isso que falava do desconforto, mas, como já lhe disse, tomo tudo como um contínuo ser colocado à prova por Sua vontade e aceito poder Lhe demonstrar que nunca mais quero afastá-Lo de mim porque muito se dignou em proteger-me.
Bruno, Biella – Itália
É possível viver assim
Caros amigos, gostaria de lhes agradecer pela Escola de Comunidade porque me fez perceber como era redutiva a opinião que tinha do Encontro e como facilmente reduzo a “algo já sabido e ouvido” aquilo para o qual, ao contrário, deveria escancarar o coração. Deus veio ao meu encontro por meio dos amigos que já tinham sido agarrados por Ele e continua a se manifestar neste lugar privilegiado, mas não só isso. Se Cristo é, realmente, tudo em todos, é possível encontrá-Lo sempre, onde e quando Ele quer. Talvez, pensava, o problema poderia estar na consciência que a pessoa tem, se é educado a reconhecê-Lo. No fundo, quantos não reconheceram Jesus de Nazaré? Vittadini perguntava: “O que lhe aconteceu, hoje? Onde você O viu, hoje?”. A minha resposta foi: “Sei lá!”. Com uma sensação de desilusão e tristeza. Mas eu, vivo ou não vivo? Então, esta noite comecei a pensar no que aconteceu hoje. Esta manhã, com uma colega, fui ao quarto de um de nossos pacientes, um senhor idoso que não podia fazer sua higiene sozinho. Depois de tê-lo despido e banhado, fiquei olhando para ele: sonda no nariz, um tubo de traqueostomia, cateter, bolsa de sangue, feridas no corpo por estar há tanto tempo deitado... De bonito, não tinha nada, era necessitado de tudo. Enquanto eu o olhava, ele abriu os braços: que ternura! Parecia uma criança, parecia Jesus na cruz: não tinha lhe sobrado nada. No entanto, o olhar era doce, reconhecido, transparecia uma Beleza que ia além de tudo isso. “O que é o homem para que cuides dele?”. Não acho que isso seja sentimentalismo. Penso, mais que tudo, que essa beleza dos doentes se deve realmente a uma Presença objetiva que se manifesta. Depois, me veio em mente o milagre da nossa unidade no hospital: pessoas tão diferentes e, no entanto, que vivem uma unidade muito verdadeira e autêntica. É algo que me comove todas as vezes que paro para olhar e todas as vezes que se manifesta de uma maneira tão explícita! Esta noite, olhava para meu marido cansado e nervoso, as crianças mais “elétricas” do que nunca, os trabalhos de casa intermináveis... No entanto, eu experimentava uma sensação de gratidão e de alegria infinita no coração. Como isso é possível? Sem Jesus, sem o sacramento, seria possível viver assim?
Dany
Encontros
No dia 7 de setembro, fazia sol no Rio, e um céu azul brilhante abria-se claro e ardente para o que além se estendia. Era feriado da Independência, amigos casavam, minha sobrinha estava para nascer. No caminho para o aeroporto, o Dot me liga pedindo para comprar cachaça, pois nos esperavam em Roma com grande festa. Dois meses antes havíamos recebido a notícia da viagem para a Equipe dos Universitários (CLU). Corremos para acertar passaporte, passagens, estadia, dinheiro. As aulas começaram e, além do trabalho com o estágio, foi preciso nos organizar com os estudos. E, de repente, estava no avião para Roma. Lembro do dia em que fui convidado: estávamos nas férias do CLU, sobre o Pico do Pião, em Ibitipoca, deitados diante da imensidão de montanhas. Desde ali, acompanhava-me, talvez como um tremor fino e imperceptível, uma espera por um grande fascínio, sem, no entanto, saber o que me esperava, o que encontraria. Num momento longo de silêncio no avião, não conseguia dormir, estava inquieto. Desde a chegada em Roma fomos profundamente tocados pela beleza dos monumentos, das paisagens, dos lugares santos, das pinturas de Caravaggio, etc. Porém, o que nos deixava mais impressionados era o encontro com as pessoas. Com elas, tudo adquiria uma vivacidade e dessa forma experimentávamos uma amizade em cada cidade que chegávamos. Dos encontros que fazíamos, uma identidade fascinante se desvelava e depois um relacionamento se tecia. Assim, comíamos juntos, conversávamos e ríamos, assistíamos juntos às missas, encontrávamos com eles nas universidades – onde pudemos nos aproximar de uma incontestável e marcante presença no ambiente universitário – escutávamos suas canções populares, do mesmo modo que os fizemos conhecer Vinícius de Moraes. A maioria deles tínhamos acabado de conhecer, outros conhecíamos por breves passagens pelo Brasil, e, no entanto, era como se fôssemos todos de uma mesma família. Também impressionava a consciência dos passos que davam corriqueiramente nos seus cotidianos, de jeito tão simples que quase se podia não dar importância. Seja no estudo em conjunto, no momento de rezar o Ângelus, na atenção com os amigos, nas Escolas de Comunidade, nas decisões futuras ou na preparação para uma vida adulta de trabalho. Toda essa profunda impressão se tornaria descrita em Tabianno, onde passamos três dias para a Equipe Internacional do CLU e guardamos algumas anotações. “Até os fios de nossas cabeças estão contados”, assim começou Carrón e chamava a atenção para um “antes”, que Deus nos escolheu antes da criação do mundo. “Esse ‘antes’ é o segredo de tudo”, disse. A partir deste segredo, sabia delinear os aspectos mais fundamentais do que se colocava. Finalizando o dia de assembléia, comentava sobre os testemunhos: “a liberdade, o sentido, a paz, um novo tipo de relação com os amigos, o reconhecimento da minha dependência que me torna alegre e agradecido. O desejo de que isto aconteça a todo o momento. Tudo porque o homem fora da consciência do Mistério se sentirá ‘preso e chateado’”. A religiosidade como um relacionamento humano, concreto e essencial, sem o qual “o meu eu decai”, era o que sempre insistia. Quando voltávamos para o Brasil, o céu sobre o relevo das nuvens por onde voávamos me fazia lembrar o dia em que ficamos juntos nos telhados do Duomo de Milão e a primeira noite em Roma, no qual subimos para o terraço do Colégio Urbano, de onde se via a Basílica de São Pedro e toda a cidade de Roma, e rezamos um Ângelus antes de dormir. Diante da janela do avião, vinha-me a pergunta: o que tínhamos vivido nessas duas semanas não era exatamente aquilo que Carrón havia falado de maneira tão precisa? Toda a beleza que experimentamos não resplandecia a verdade daquelas exatas palavras? Já no Rio, um colega de turma me perguntava do que tinha mais gostado. “Dos encontros”, eu disse. “Não! Qual cidade?”, especificou, e percebi a diferença entre a viagem que eu tinha feito e a que ele fizera. A impressão que tive foi de que vim de mais longe. Antes de viajar, não sabia o que me esperava, além de esperar por um misterioso e vasto Inesperado. Então, recebo um e-mail de uma grande amiga: “Grata pelo envio de suas anotações e pela sua alegria por ter ‘visto a Cristo’”. A maior e mais imprevisível surpresa é que, naqueles encontros cheios e eternos que fiz, vi o que havia já visto antes, encontrei quem tinha já encontrado, alguém próximo e conhecido. Esta é a gratidão pela vida agora: “Deus nos escolheu antes da criação do mundo”.
Cassiano, Rio de Janeiro – RJ
Começar a confiar-se
Caro padre Carrón, houve um longo período da minha vida em que acreditava que a proposta do Movimento e da Fraternidade não funcionasse, quer dizer, que não levasse a estar feliz com a própria existência, por causa de uma certa inadequação da minha parte: não fazendo bem as tarefas, não obtinha bons resultados. Assim, comecei a ser mais aplicada, mas as coisas não mudavam: no fundo, estava sempre descontente. Nos raros momentos em que tomava consciência do meu mal-estar, tentava sempre colocar em outro a responsabilidade. A um certo ponto, convenci-me de que nunca conseguiria alcançar uma satisfação verdadeira, porque o ambiente em que trabalhava, mesmo sendo de inspiração cristã, de fato tinha perdido sua identidade. Tentei muitas vezes mudar de trabalho, batendo à porta de lugares próximos ao Movimento, enganada pelo desejo de empenhar minhas energias junto com outros “parecidos”: a última tentativa desapareceu exatamente no dia da morte de Dom Giussani. Foi o início da mudança: comecei a aceitar que Deus tinha escolhido para mim o ambiente em que trabalhava para que por meio do cotidiano pudesse começar a oferecer a minha dificuldade e, finalmente, pedir que Cristo, a cada dia, se fizesse reconhecer nos rostos dos meus alunos e dos meus colegas. Pensava, naquele ponto, ter resolvido tudo: podia esperar ser feliz. Tinha, inclusive, começado a compartilhar algumas questões com as pessoas da minha Fraternidade... tinha voltado a fazer as tarefas! Depois, vieram os dias escuros. A sociedade para a qual trabalhava anunciava demissões e eu estava convencida de que corria risco. Estava diante de uma encruzilhada: ou deixar-me asfixiar pelo pânico ou ceder à evidência das circunstâncias e reconhecer a dependência do Mistério que pode salvar a minha existência. Devia começar a confiar-me não com palavras, mas na carne. Hoje, reconheço aquela encruzilhada como uma etapa fixada para mim por um Outro que me queria conduzir a um a mais. Comecei a confiar, a pedir-lhe que se fizesse reconhecer a cada dia. Hoje, depois de dois anos, fico surpresa ao ver o que me aconteceu: não sou mais aquela pessoa ansiosa que se debatia durante os dias, sempre muito curtos, para conseguir fazer tudo. A associação não me despediu e trabalho com portadores de deficiências especiais. Agora, os meus dias começam com o pedido de que Cristo venha e o tempo parece ter se dilatado. Olho para meus alunos com renovado maravilhamento, certa de que me são confiados, a cada instante, para a minha felicidade. Nos Exercícios da Fraternidade, o senhor me pediu para levar a sério a minha adesão à proposta do cristianismo e de verificá-la. Obrigada, porque se faz tarde e acho que não posso mais adiar.
Donata, Cassano Magnano – Itália
Julgar a experiência
Carlos, de Brasília, nos enviou esta carta que recebeu de sua amiga após a assembléia de Escola de Comunidade dos Jovens Trabalhadores.
Pra mim a Assembléia foi uma retomada e um chamado de atenção ao mesmo tempo. Retomada pelas coisas que trabalhamos nos últimos encontros, pelas experiências compartilhadas, mas, mais do que isso, foi um chamado de atenção para como devo me comportar, como não posso me deixar ser absorvida por minha própria medida. Como foi dito pelo Silvio, nos empenhamos pelas coisas do dia-a-dia, mas muitas vezes não vemos a beleza que há nelas. E quero aprender a fazer das palavras ditas, juízo de minhas experiências. Quero olhar para meu projeto final e entender porque me empenho tanto por ele, porque me esforço tanto por uma coisa que lá na frente posso não obter o retorno desejado. Quero de verdade deixar que Ele, Cristo, tome conta da minha vida!
Mônica, Brasília – DF
Jornada de início
Ontem estava muito feliz por voltar a participar da Jornada de Início do Ano, um gesto nosso onde pude rever o espetáculo de um povo que caminha, uns mais outros menos, com maior ou menor dificuldade, mas que caminha. Sobretudo estava feliz porque finalmente pude escutar Carrón. Pode parecer banal, mas foi assim. A certeza de ter alguém que guia, simplifica as coisas, torna tudo menos complicado. Ter diante alguém que ajuda, que indica o caminho, não é pouca coisa. No Movimento estamos habituados a isso, mas não é tão normal. É normal estar sozinhos, seguindo a própria imaginação, a própria capacidade de “conseguir”. É normal o esforço a ser realizado para que tudo corra bem (no trabalho, na família, com os filhos, etc.), é normal ficar aflito para “conseguir” e ninguém lhe diz como. É normal que a vida se torne uma grande competição e nós, os tristes concorrentes. Depender, não porque se “consegue” depender, mas porque se reconhece, como disse Carrón, faz com que até os detalhes de um gesto como o de ontem provoque um maravilhamento. Enquanto ele falava podia-se ver que era um homem ligado a Jesus, um homem que no fundo da sua escuridão, diz: “Tu”. Era evidente. Enquanto ele propunha isso a mim, via-se que ele mesmo dizia “Tu” a Jesus. Percebi uma profunda conexão com o último encontro público do qual participei, com a presença de Giussani. Na ocasião, estava sentado na “casa de Deus” e, agora, via pelo monitor o olhar de Carrón, mas esta é, para mim, a certeza de um guia. Se ele é assim, a mim não resta nada além de seguir este olhar e, cedo ou tarde, pela graça de Deus, também será assim comigo. Tudo é muito simples!
Vincenzo, Cantù – Itália
Um “sim” e basta
Caros amigos, foi com grande preocupação que acolhemos o convite para realizarmos o Dia Nacional da Coleta de Alimentos aqui em Rio Preto. Com grande preocupação, pois ficávamos pensando: como é possível que alguns gatos pingados possam realizar algo desta dimensão? Mas aí as coisas começaram a acontecer. Primeiro recebemos a visita do Nando e da Brisa e partir daí a nossa história começou a se desenrolar de um modo diverso, começaram a aparecer os voluntários e os coordenadores. Entendi que as coisas não dependiam de mim, dependiam do meu “sim” e Deus age através do nosso “sim”. No dia anterior à Coleta, a Cida de São Paulo veio para nos ajudar. Ela achava que devia apenas trabalhar algum tempo como voluntária, mas eu pedi que ela ajudasse o Marco na coordenação de uma das lojas, então ela trabalhou o dia todo, e isso trouxe muita alegria e estreitou ainda mais a nossa companhia. No dia da Coleta tínhamos alguns tantos de caras novas. Eu ficava impressionada e muito feliz em ver que o meu “sim” foi o “sim” de todo mundo, todos trabalhavam felizes e disponíveis para todas as tarefas. Esta foi a primeira vez que fizemos a Coleta, mas já estamos nos preparando para as próximas. Tenho certeza de que esse primeiro “sim” já se transformou em uma história maior para nossa vida e para a vida de todos os que nos conheceram por meio desse gesto.
Glorinha, São José do Rio Preto – SP
Lembrança Dom Gianni Danzi (1940-2007)
Agora é o primeiro na escalada da vida
Dom Gianni Danzi faleceu em Varese (Itália), no último dia 2 de outubro. A seguir as palavras de um caro amigo. Uma amizade que durou cinqüenta anos.
Conheci Dom Gianni Danzi no dia 4 de outubro de 1961. Encontramo-nos no curso de Propedêutica da Teologia no seminário diocesano, em Saronno. Ele era de Viggiù, na região de Varese, fronteira com a Suíça e era perito industrial, orgulhoso por poder fazer projetos de casas de cimento armado. O que fez com que se tornasse imediatamente meu amigo foi o seu temperamento inquieto e radical. “Sabia sempre onde estava”, disse o Cardeal Angelo Scola na sua homilia durante o funeral. Inimigo do formalismo e da hipocrisia era sempre leal com quem encontrava. Em setembro de 1962, fomos ao encontro dos Três Dias de Varigotti, onde encontrou Dom Giussani pela primeira vez. Ficou fascinado, a ponto de ser determinado por ele em toda a sua vida. Um outro momento muito significativo daqueles Três Dias foi o testemunho de William Congdon sobre a busca da beleza na realidade. Aquelas palavras encontraram em Dom Danzi um ânimo já predisposto para histórias familiares ligadas à arte (o pai e os irmãos trabalhavam com mármore). O cálice da sua primeira missa, o brasão episcopal, o anel, o pastoral de madeira, foram todos desenhados por ele. Na sua casa, estavam expostas obras de arte provenientes de todas as partes do mundo. Muitos jovens pintores e escultores encontraram nele conselho, encorajamento e ajuda. A ele podia-se aplicar o dito de Saint-Cyran: “A alma cristã é extraordinariamente elástica e universal”. A perspectiva de se tornar padre diocesano lhe parecia reduzida. Foi assim que, no terceiro ano de Teologia, pediu e obteve a permissão para terminar os estudos no seminário do Pontifício Instituto das Missões (Pime). Mas também essa possibilidade se lhe revelou pequena. Voltou para casa e, durante alguns meses, entre os mais difíceis de sua vida, ficou em dúvida em relação à forma vocacional de sua vida. Neste período, nossa amizade consolidou-se, nos encontrávamos todas as segundas-feiras à tarde, no tempo livre do seminário. Íamos ao Campo das Flores, acima de Varese, para fazer escaladas na rocha. Aceitou o conselho para entrar no seminário da diocese de Lugano onde, no outono de 1966, tornou-se padre. Depois de alguns meses como secretário do Bispo de Lugano foi enviado, como coadjutor, para Stabio, e, depois, foi nomeado pároco em Leontica, uma pequena no coração de Canton Ticino (com a tarefa de ensinar religião nos colégios). Logo aparelhou a residência paroquial para poder hospedar os alunos que queriam fazer retiros espirituais durante os fins de semana. Em 1978 foi transferido, sempre como pároco, para Dao, perto de Bellinzona. Foram anos extraordinariamente intensos. A sua abertura universal o levou a se interessar pela Polônia. Viu-se, assim, guiando as primeiras peregrinações de Comunhão e Libertação em Czestochowa. Desse modo, teve ocasião para conhecer o Cardeal de Cracóvia, Karol Wojtyla, e tornou-se amigo de seu secretário. Quando, a partir da revolução dos estaleiros de Danzica nasceu Solidarnosc, Dom Danzi se mobilizou, incessantemente, para levar ajuda à Igreja polonesa. Em 1982 foi chamado a Roma, para trabalhar junto à Administração do Patrimônio da Sede Apostólica. Aqui se realizou o seu desejo de missão: colocou-se a serviço do Papa para servir toda a Igreja. Coordenou o primeiro Encontro Internacional dos Jovens para o ano jubilar 1983/84, preâmbulo das sucessivas Jornadas Mundiais da Juventude. Por sugestão do Papa, abriu, dentro dos muros da Cidade do Vaticano, um lugar de acolhida aos pobres, confiado às irmãs de Madre Teresa de Calcutá. Pouco tempo antes de sua morte, foi um incansável animador da Ágora dos jovens em Loreto. Eu o vi pela última vez no dia de seu funeral. Diante de seu féretro totalmente despojado (“Bastam quatro pranchas de madeira”) me vi, em um último diálogo com ele, pensando quão imprevisível é a ironia de Deus sobre a nossa vida. Lembrei-me que, todas as vezes que íamos escalar (nas agulhas da Grignetta, em Marmolada, na Cima Piazzi, no Gran Paradiso), era eu quem ficava na frente, na corda. Na escalada mais importante da vida, aquela que leva ao cume definitivo, ele passou na minha frente. Tenho certeza de que está cuidando para que eu o alcance. A Deus, Gianni.
Fabio Baroncini,
Milão
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón