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Passos N.83, Junho 2007

DESTAQUE - O Papa no Brasil

Os movimentos eclesiais e as novas comunidades na América Latina

por Dom Filippo Santoro

A seguir a colocação de Dom Filippo Santoro, Bispo de Petrópolis, durante a V Conferência Geral do Espiscopado Latino-americano


Uma cordial e respeitosa saudação a toda esta assembléia por parte dos movimentos eclesiais e novas comunidades aqui presentes. Eu teria gostado, com todo o coração, que esta apresentação dos movimentos eclesiais e novas comunidades fosse feita por um leigo. Além do mais, temos aqui conosco dois fundadores, que com muita razão poderiam falar. Porém os amigos pediram que eu fizesse esta apresentação, pois assim manifestamos que na nossa experiência não existe oposição entre clérigos, consagrados e leigos, entre sacerdócio e laicato. Há, em primeiro lugar, algo comum que nos une, que é o Batismo e o carisma. Antes da especificidade de ministérios e estados de vida, existe a experiência do encontro com um carisma concreto que torna familiar a pessoa de Jesus Cristo. Por isso aceitei transmitir este texto que é fruto do trabalho comum dos participantes dos movimentos presentes nesta Conferência de Aparecida.

Ao longo dos séculos o Espírito Santo suscitou diversas respostas apropriadas para cada tempo. Os movimentos eclesiais são uma manifestação da rica e plural fecundidade do mesmo Espírito, e são “expressão da perene juventude da Igreja!”, como disse o Papa aqui em Aparecida 1. Não se trata de uma realidade uniforme, mas de um variado conjunto de novas e diversas formas de vida e apostolado na unidade da Igreja. Além disso, o Santo Padre, em outra ocasião, confirmou que “Na mensagem ao Congresso mundial de movimentos eclesiais, no dia 27 de maio de 1998, o Servo de Deus João Paulo II repetiu que, na Igreja, não existe contraste ou contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão caristmática, da qual os Movimentos são uma expressão significativa, porque ambas são igualmente essenciais para a constituição divina do povo de Deus” 2. O Servo de Deus João Paulo II também destacava que: “cada movimento se distingue do outro, porém todos estão unidos na mesma comunhão e para a mesma missão” 3. É notório que na comunhão na fé da Igreja os movimentos mostram “diversidade de formas” 4, de espiritualidades, estilos, itinerários, métodos educativos e inclusive, em alguns casos, de configurações canônicas. Outro elemento que marca esta manifestação da bondade divina é o que o Papa Bento XVI disse, que: “Depois do Concílio, o Espírito Santo nos presenteou os movimentos5.

Interessa-nos dizer três coisas que tocam os aspectos mais elementais da vida cristã:


1. Existencialmente nasce e vive o discípulo
Sobre o tema central desta Conferência, “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nEle nossos Povos tenham Vida”, nos parece importante destacar que, antes da preocupação por formar os discípulos, é conveniente indicar como nasce um discípulo. O Papa, aqui na esplanada deste santuário mariano, nos disse que a Igreja “cresce muito mais por ‘atração’: como Cristo ‘atrai tudo para si’, com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da Cruz” 6. O discípulo nasce por uma atração, pelo poder do Espírito que irrompe e transforma a vida das pessoas, gerando o Povo de Deus. O Espírito de Jesus Cristo Ressuscitado, através dos seus carismas, manifestado no testemunho de pessoas tocadas pelo mistério, cria o novo sujeito da nova evangelização, o discípulo.

Nossos movimentos estão integrados por muitas pessoas que tinham abandonado a Igreja, para os que a vida cristã significava pouco ou nada. Todos eles tiveram um encontro vital e começaram a interessar-se por Jesus Cristo e pela vida da Igreja.

A realidade dos movimentos mostra hoje, de forma concreta, a dimensão do discipulado, que, a partir de uma adesão amorosa à Pessoa do Senhor Jesus, se imerge nos seus ensinamentos, percorrendo-o como Caminho, buscando aderir-se à verdade cuja beleza fascina o ser humano faminto de autenticidade e sentido, aspirando a viver sua Vida, dando assim gloria a Deus. Seus integrantes aspiram a levar a sério sua vocação à santidade e olham à Virgem Maria para entrar, ao ritmo do palpitar do seu coração, na apaixonante aventura de seguir ao seu Filho, entregando-se ao desígnio amoroso do Pai. Muitos que vêem este testemunho existencial se surpreendem e dirigem as suas mentes e seus corações a Jesus, e fascinados pela Luz que dEle emana o seguem com um entusiasmo e ardor, que se faz cada vez mais intenso e comunicativo.


2. A necessidade de uma pedagogia e de um método educativo da fé
Para crescer no discipulado até fazer-se missionário é necessário um método. A doutrina é importante, mas não é suficiente, fazem-se necessários caminhos pedagógicos provados, que conduzam ao encontro com o Senhor que responde às perguntas da razão e ao desejo de felicidade. Adere-se ao conhecimento de Cristo pela experiência, mediante algo que corresponde à estrutura de nossa humanidade. Os movimentos constituem uma rica experiência de pertença e de vida de comunidade na pluralidade da Igreja. Esta experiência de família de Deus está à disposição e ao serviço da Igreja inteira.

Este processo se desenvolve através de um itinerário educativo que comporta a catequese, a oração, a meditação assídua da Palavra de Deus, os sacramentos, a adoração Eucarística, a caridade, a solidariedade, a cultura e a missão. Nesta experiência vital o discípulo sabe-se acolhido, deixa-se transformar e descobre-se impulsionado ao apostolado de anunciar a Jesus e colaborar na transformação do mundo segundo o Plano de Deus. Sem um método não há discípulo, pois só educa quem se deixa educar.


3. A missão como comunicação a todos de uma fascinação irresistível
O missionário é um discípulo que comunica a beleza, o entusiasmo, o ardor, a audácia da vida nova em Cristo que recebeu como dom. Para os movimentos, a missão, antes que ser um conjunto de iniciativas é o anuncio e a comunicação dessa vida, esse dar-se em cada circunstância. Fomos tocados pelo encontro impactante com uma pessoa, um missionário, que comunicou-nos algo diferente como irradiação ardorosa do Espírito Santo, que suscita a fascinação pela Pessoa de Jesus.

Hoje freqüentemente afirma-se: “Cristo sim, Igreja não”. Os movimentos oferecem um espaço de encontro vital com Cristo e sua Igreja. O testemunho e o anuncio acontecem em todos os ambientes pessoais, sociais, culturais e eclesiais. A ação do Espírito acende o coração; sob seu impulso, a vida se lança a obras de evangelização e promoção humana. Na realidade latino-americana não existe movimento eclesial que não tenha um intenso compromisso social a partir do Evangelho, particularmente com os mais pobres e desprotegidos.

Conscientes do dom recebido e da responsabilidade que implica, assim como com a humildade de filhos e filhas da Igreja, os integrantes dos movimentos eclesiais e novas comunidades que peregrinam na América Latina e no Caribe vibram com entusiasmo por participar, sob a guia dos Pastores das Igrejas locais, na grande missão evangelizadora do Continente, anunciando mais Jesus e seus ensinamentos, e construindo uma sociedade mais justa e reconciliada, aprendida na escola de Maria e seguindo seus passos de primeira e mais perfeita discípula e missionária.


Notas

[1] Bento XVI, Oração do Santo Terço no Santuário de Aparecida, 12/05/2007.
[2] Bento XVI, Discurso à Fraternidade de Comunhão e Libertação no XXV Aniversário de seu reconhecimento pontifício, 24 de março de 2007.
[3] João Paulo II, Discurso no Encontro com os Movimentos Eclesiais, 30/05/1998.
[4] João Paulo II, Mensagem ao Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais, 27/05/1998.
[5] Bento XVI, Discurso aos Bispos da Alemanha em Visita Ad Limina, 18/11/2006.
[6] Bento XVI, Homilia na Missa de Inauguração da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, Aparecida, 13/05/2007.

 
 

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