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Passos N.83, Junho 2007

EXPERIÊNCIA - 24 de março

Uma atração vencedora

Caros amigos, a imponência do acontecimento que vivemos no sábado, dia 24 de março, na Praça São Pedro marcará a nossa história para sempre. Somente a identificação com o que aconteceu nos permitirá descobrir, no tempo, todo o seu alcance. (...)
Todos nós fomos testemunhas daquilo que Cristo é capaz de fazer, se nos deixamos atrair por Ele. Foi a Sua atração, de fato, que se demonstrou vencedora mais uma vez. Mas toda esta beleza não bastaria, se ali não estivesse o eu de cada um de nós, disponível a deixar-se arrastar por ela até o reconhecimento de Cristo presente.

(Da carta de padre Julián Carróna todo o Movimento,
depois da audiência de 24 de março de 2007)



A seguir algumas contribuições vindas de personalidades muito diferentes que participaram da audiência com Bento XVI num gesto de amizade com o Movimento. Um leque de encontros e histórias imprevisíveis que os levaram à praça de São Pedro, entre as cem mil pessoas reunidas no dia 24 de março, até o Batismo de Hisako Hiseki, mulher de Etsuro Sotoo


WAEL FAROUQ
Professor de Língua Árabe e de História e Filosofia Islâmica no Cairo

O passo de uma identificação

Gostaria de comunicar três coisas importantes para mim sobre o encontro que o Movimento teve com Sua Santidade, o Papa Bento.
1. O grande significado que o convite teve para mim fez-me participar deste gesto. Um convite a compartilhar a vida de pessoas queridas, de uma pessoa querida. Quem conhece a cultura árabe pode entender melhor o que significou, para mim, ter sido convidado para participar de um gesto tão importante para a vida de amigos.

2. O arrepio que senti ao ver e escutar o Papa pessoalmente, um homem de alma cândida como a de uma criança. Para fazer uma comparação, foi como quando vi pela primeira vez, ao vivo, O Juízo Universal, de Michelangelo, uma obra que há muito tempo gostava, mas que conhecia somente por fotos e reproduções de livros.

3. A consciência vive como relacionamento. É o encontro feito que me permite compreender. Estar ali, em Roma, foi um outro passo de uma identificação que me possibilita rever toda a minha história e a minha cultura com um novo olhar.


EMILIO FEDE
Diretor do telejornal italiano TG4

Duas horas ao vivo

Sábado, praça de São Pedro. Milhares de pessoas que vieram de todo o mundo para celebrar os vinte e cinco anos da Fraternidade de Comunhão e Libertação. As orações, quase sussurradas, às quais se juntavam as músicas. E os rojões que exaltavam a fé em Deus. As imagens ao vivo do especial transmitido pela TG4 são sugestivas. Assim como o testemunho de pessoas que dedicaram em honra a Deus o próprio trabalho e o modo de ser, numa sociedade freqüentemente distraída e mortificada pela insolência e pelo egoísmo.

Uma jornalista espanhola, a quem perguntei ao vivo o que representava para ela o senso de pertencer, me respondeu quase com lágrimas nos olhos: “Estarmos sempre prontos a percorrer o caminho que esta companhia nos indicou”.

São 100 mil as pessoas na praça. Representam mais de setenta países do mundo. O Papa as saúda e abençoa e faz um discurso que contém a essência de um sentimento que quase vivia materialmente naquela atmosfera que ninguém poderá esquecer.

Fiquei perplexo quando me pediram para comentar aquela transmissão porque temia não estar à altura. Depois, lembrei-me da Vigília de Natal de 1981 – era diretor do telejornal TG1 –, quando um jovem padre de Comunhão e Libertação conseguiu que eu fosse recebido pelo Papa Wojtyla que, na capela privada, ministrou-me o sacramento da comunhão.

Talvez tenha conseguido encontrar o tom e as palavras certas. As palavras certas inclusive para entrevistar padre Julián Carrón que, em nome de Dom Luigi Giussani – que foi o fundador – guia, hoje, esta Fraternidade.


MAGDI ALLAM
Vice-diretor do jornal italianoCorriere della Sera

Um sinal do destino

Foi a primeira vez que fui à praça de São Pedro para assistir e aplaudir o Papa. E, provavelmente, seja um sinal do destino o fato de tratar-se de Bento XVI, o sumo Pontífice que mais que qualquer outro encarna o feliz sodalício entre fé e razão e em quem me reconheço plenamente, a ponto de ser chamado de “muçulmano ratzingeriano”.

Assim como não é certamente um acaso o fato de me encontrar ali, no meio dos amigos de Comunhão e Libertação, no 25º aniversário da fundação da Fraternidade do Movimento de Dom Giussani, com quem compartilho a espiritualidade que se funda sobre a experiência do encontro entre pessoas de boa vontade e sobre o primado dos valores fundados pela nossa humanidade. Eu vivi esta experiência como uma extraordinária manifestação de fraternidade espiritual entre o Guia e o povo de fiéis que se sentem partícipes de uma missão humana e religiosa em defesa da vida, da verdade e da liberdade. E entre eles, também estou eu, com convicção, paixão e determinação.


MARIA ROSARIA PARRUTI
Magistrado da guarda civil da Prefeitura de Pescara (Itália)

Os encarcerados, as folgas dos carcereiros e os dois furgões alugados

A idéia de convidar um pequeno grupo de detentos e agentes penitenciários das prisões de Lanciano e Vasto para o encontro com o Papa na praça de São Pedro nasceu do fato de que, tendo encontrado o capelão da penitenciária de Vasto, com quem há tempos nasceu uma amizade, desejei que a beleza presente no encontro com Cristo que me alcançou chegasse de modo mais claro também às pessoas com as quais trabalho cotidianamente. Queria, em suma, que a possibilidade que me foi dada também pudesse alcançá-los.

Quem está numa prisão, sem dúvida, passou por graves erros que o levou, depois, aos fatos cometidos mas, quase sempre, quem está em tais condições também teve poucas oportunidades na vida. O que significa a reeducação da qual a Constituição italiana fala no artigo 27, se não a tentativa de oferecer uma oportunidade de mudança àqueles aos quais se pede um trabalho sobre si mesmo, e que só pode ser possível através da consciência da própria culpa?

Foi assim que fomos levados a propor a participação no encontro. O que mais me comoveu foi constatar que diante das dificuldades surgidas (de fato, por um descuido o acompanhamento de agentes não foi reconhecido como uma atividade de serviço e, por isso, faltou também a disponibilidade de transporte da polícia penitenciária, com o qual os agentes e detentos convidados deveriam viajar), um grupo de policiais decidiu acompanhar os detentos, sacrificando suas folgas, e alugaram dois pequenos furgões de nove lugares para transportá-los. Quiseram estar presentes, mesmo tendo que usar um dia de descanso e pagando o transporte para todos!

Isso foi, para mim, um testemunho grande daquilo que padre Carrón disse ao Papa: “O coração do homem ainda é capaz de reconhecer a beleza se a encontra em seu caminho”.

Éramos dezesseis: fomos acompanhados e ajudados por meus amigos, que conseguiram entradas para nós para que pudéssemos assistir ao gesto sentados.
Por evidentes razões de segurança, os detentos não tinham guarda-chuvas, mas também esta foi uma ocasião para compartilhar: junto com os agentes, tentamos abrigar a todos. Detentos e agentes ficaram tocados com a grande atenção com a qual os presentes seguiam o gesto, com a coralidade e até a chuva foi ocasião para relembrar que sem trabalho nada de bom pode ser construído.

A todos os que gastaram sua energia para organizar a viagem enviei o belíssimo artigo publicado no Avvenire do dia seguinte, porque me pareceu um eficaz juízo daquilo que havíamos vivido, com o pedido de que a semente lançada e a novidade vista e reconhecida possa germinar quando e como Deus quiser.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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