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Passos N.81, Abril 2007

DESTAQUE - Dom Giussani, os Bispos, os Papas

Dom Giussani e o valor do Papa na vida do Movimento: trechos de suas obras

Carta aberta de Dom Giussani aos grupos de CL, depois da audiência concedida por João Paulo II em 18 de janeiro de 1979
in: Litterae Communionis, edição italiana,
fevereiro de 1979


Este Papa é o acontecimento que Deus suscitou, nele encarnando e exaltando diante dos nossos olhos a história de fé e martírio do povo polonês. A figura humana deste Papa é o fato concreto com o qual devemos nos envolver para olhar para ele, ouvi-lo e nos identificarmos com a sua mentalidade, para segui-lo.
Assim que saí da audiência, no cerne da minha alegria eu experimentava um grande sentimento de responsabilidade: uma vontade de servir àquele homem com todas as minhas forças e com toda a minha vida. Eu gostaria que essa responsabilidade invadisse a todos nós. Meus amigos, num mundo onde a fé está tão confusa e a injustiça é tão grande, sacudamos a nossa inércia, rompamos o nosso egoísmo, subvertendo o nosso burguesismo.
Meus amigos, sirvamos a este homem, sirvamos a Cristo neste grande homem com toda a nossa existência.


Cartas à Fraternidade
in: La Fraternità di Comunione e Liberazione
Milão, San Paolo, 2002


Março de 1982
O que aconteceu em 11 de fevereiro é certamente a maior graça em toda a história do Movimento. A certeza quanto ao valor da nossa experiência implícita nesse acontecimento nos impele com maior tranqüilidade e generosidade de coração a obedecer aos bispos e a colaborar com a sua pastoral, sem o que se torna incerta a edificação do povo de Deus.
Peçamos ao Espírito de Cristo que o abandono de nós mesmos à Maternidade de Maria e o apaixonado serviço ao projeto eclesial do Papa caracterizem a vida da Fraternidade. E espero que o esforço do nosso caminho de educação à fé, para um apostolado mais sereno no âmbito da Igreja, prepare a todos, em meio à total liberdade dos corações.

3 de abril de 1990
Nas trevas da cruz ou na luminosidade da Páscoa, o nosso coração seja totalmente consolado justamente pelo calor da promessa de Cristo: “Se então vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará o Espírito Santo a todos os que lho pedirem!” (Lc 11,13).
Na amizade em que Cristo uniu as nossas vidas, o que desejamos, o que procuramos, a não ser nos admoestarmos e nos sustentarmos reciprocamente nestas coisas, atravessando dificuldades e decepções, atravessando todas as estranhezas, antipatias duras ou simpatias despojadas de bem verdadeiro?
O que nos torna seguros no caminho é a atenção a cada palavra do Papa, percebida sempre dentro da mensagem total do Seu ensino, e vivida sempre no amor fiel à Sua grande figura de amante de Cristo, e de Seu representante na terra.

2 de junho de 1992
Caríssimos amigos, como graça pascal o Senhor misericordioso, que nos chamou à Sua Aliança, me concedeu o dom de uma carta pessoal do Santo Padre, na qual, respondendo aos votos “expressos também em nome de Comunhão e Libertação”, a certa altura ele me dizia textualmente: “Exprimo-lhe minha viva gratidão [...] especialmente pelo amor que alimenta pela Igreja. Obrigado, caro Monsenhor...”.
Vocês bem podem imaginar a emoção que senti em particular pelo motivo assinalado pelo Papa: a apaixonada fidelidade à Cátedra de Pedro, justamente, o “amor pela Igreja”, justamente. Com efeito, é do fato de pertencer a ela que reconhecemos brotar a consistência da nossa pessoa, e portanto delinearem-se os próprios critérios últimos da nossa maneira de sentir o homem, da nossa visão do mundo e do nosso juízo sobre o mundo de hoje; é desse pertencer, finalmente, que reconhecemos surgir o afeto positivo e enérgico pela vida dos irmãos homens que dilata todo o horizonte dos nossos interesses e das nossas obras.

23 de dezembro de 1994
Caríssimos amigos, há pouco tempo, o Santo Padre fez-me a comovente surpresa de um convite: para assegurar a mim e a todos os amigos de Comunhão e Libertação do seu ininterrupto amor e da sua cotidiana oração por mim e pela obra que empreendemos.
Amá-lo, este grande sinal e continuação de Si que Jesus nos doou, amá-lo, afetiva e efetivamente amá-lo, foi sempre a nossa paixão, a primeira experiência do que diz São Paulo no texto para nós mais significativo do nosso carisma, “mesmo vivendo na carne, nós vivemos na fé do Filho de Deus, que me amou e deu a si mesmo por mim” (Gl 2,20).
Esta é a súplica do nosso olhar e do nosso coração diante da cabana de Belém.
E é o propósito que oferece ao Santo Padre a nossa vida, ímpeto comum da gratidão e da fidelidade a Ele.
O Espírito que tornou carne o Verbo de Deus “revigore a alma nos nossos corpos débeis”.
Tenham, por isso, a caridade do perdão e da colaboração para comigo, que vivo entre vocês para trazer este amor cheio de letícia e ao mesmo tempo doloroso, amor a Cristo, ao Papa, ao meu e seu destino.

7 de outubro de 1997
Depois da Sua ressurreição, Jesus Cristo, o mistério de Deus encarnado no homem Jesus, se cumpre, se realiza no tempo e no espaço, ou seja, na história humana, unindo, ligando em unidade consigo mesmo e entre si todos aqueles que O reconhecem. Esta unidade se chama corpo misterioso de Cristo, e na história todo este misterioso método de relacionamento entre o homem e Deus se revela como um povo, diferente de todos os outros povos, que se chama também Igreja de Cristo, tal como no Antigo Testamento se chamava Israel.
A grande companhia do povo de Cristo, que é a Igreja, subsiste, assim, existencialmente, em qualquer lugar onde uma companhia de homens cristãos vive, uma companhia até pequena (cf. Mt 18,20), como forma inicial da grande comunidade com os Bispos e o Papa.

3 de junho de 1998
O que aconteceu no sábado, 30 de maio, o encontro com João Paulo II, foi para mim o maior dia da nossa história, que se tornou possível pelo reconhecimento do Papa. Foi o “grito” de testemunho da unidade que Deus nos mandou, unidade de toda a Igreja.
E além disso pela primeira vez percebi tão intensamente o fato de existirmos para a Igreja, de sermos fator que constrói a Igreja. Senti-me agarrado pelas mãos e pelos dedos de Deus, de Cristo, que moldam a história.


Do “Estatuto da Fraternidade”

Prólogo. Como exemplificação contingente da dinâmica do grande método cristão da encarnação, o Movimento sempre pretendeu pôr em prática sua vocação “católica” e “missionária” assumindo um compromisso na Igreja, com a Igreja e pela Igreja, obedecendo ao Papa e aos Bispos e buscando a unidade dos cristãos dentro de cada ambiente, sinal da ressurreição de Cristo para o homem de hoje.
Artigo 2. A Fraternidade se propõe a favorecer e promover o empenho da pessoa com a experiência cristã, segundo o magistério e a tradição da Igreja Católica, para que cada um realize, através do tempo, sua identidade e vocação. Esse empenho é posto em prática e sustentado numa comunhão vivida, como dimensão e exigência fundamental da pessoa, que torna cotidiana a memória do acontecimento de Cristo, transfigurando a existência a ponto de incidir, num tempo e de uma forma adequados, na sociedade inteira.
Artigo 3. Guiados pelo Papa e pelos Bispos, os membros da Fraternidade participam da vida da Igreja em suas Dioceses e colaboram com o testemunho cristão em todos os ambientes - escola e universidade, fábricas e escritórios, mundo da cultura, bairro e cidade - e com o trabalho, que é a forma específica da relação adulta com a realidade.


O senso de Deus e o homem moderno
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997, pp. 148-149

O cristianismo é um evento irredutível, uma presença objetiva que quer atingir o homem provocando-o e julgando-o até o fim. Jesus disse aos apóstolos depois da ressurreição: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20).
O cristianismo é um fator dramaticamente decisivo para o homem, somente se é considerado nesta sua originalidade, nesta sua densidade de fato, cuja fisionomia, há dois mil anos, era a de um homem singular, mas que já naquela época tinha também o rosto das pessoas que se uniam e iam, duas a duas, fazer aquilo que ele fazia e as mandava fazer, e depois voltavam para junto dele. Em seguida, foram por todo o mundo então conhecido, como uma só coisa, para levar aquele Fato. O rosto daquele homem é hoje o conjunto dos que crêem, que são o seu sinal no mundo, ou - como disse São Paulo - são o Corpo dEle, Corpo misterioso, chamado também “povo de Deus”, guiado, como garantia, por uma pessoa viva, o Bispo de Roma.
Se o fato cristão não é reconhecido e mostrado nesta originalidade que lhe é própria, serve apenas para ser um espesso conjunto de sugestões de interpretações, de pensamentos e talvez até de obras, mas paralelo e freqüentemente subordinado a todas as sugestões das quais a vida se serve.


Um café em companhia
Un caffè in compagnia. Milão, Rizzoli, 2004, pp. 105ss

Os rostos secretos de Pedro. Os três Papas

Partindo de considerações análogas às suas a respeito do “abismo” que se abre diante da Igreja, e apontando as famosas “inquietações” de Paulo VI, alguns observadores consideram desastroso o seu pontificado, ou, mais respeitosamente, estendem sobre ele um véu de silêncio.
O papado de Paulo VI é um dos maiores papados! Na primeira parte da sua vida, ele demonstrou uma sensibilidade extrema - que ninguém jamais lhe poderá negar - ante toda a problemática da angústia vivida pelo homem e pela sociedade de hoje. E ele achou uma resposta! Ele a deu nos últimos dez anos. O papado de Paulo VI só é desastroso para quem não o seguiu até o fundo.

Foi o Papa que concluiu o Concílio.
Ah, certamente. Seria preciso repassar a história de todos os seus discursos que, de maneira corajosa e impopular, detiveram a falsa democracia, a equívoca dogmática que muitos padres conciliares tentaram fazer passar, cheios de uma pretensão democraticista. Mas eu nunca gastei tempo com essas coisas...

É interessante entender por que o senhor não gastou seu tempo com isso.
Em primeiro lugar, porque a história da Igreja está nas mãos de Deus. Além disso: quando alguém tem uma consciência bem clara de que é fiel à tradição que lhe foi ensinada, e vê que o magistério da Igreja, à medida que se desenvolve, sublinha sempre de novo as mesmas coisas, e não tem consciência de alguma vez ter estado em contradição com esse magistério, então, para esse homem, o que importa é agir, e ponto final. É agir corajosamente, julgando e apontando também o que não está de acordo com a tradição viva da Igreja.

Qual foi o método usado por Paulo VI para enfrentar a dispersão do povo católico, a perda de rumo das multidões?
Foi o método do “Credo”. Em outras palavras, a proclamação autêntica do dogma, sine glossa, com clareza, e da presença da Igreja no mundo (basta ver o discurso sobre o povo cristão de 23 de julho de 1975, aquela quarta-feira...).

Naquele mês de agosto, quando um papa havia morrido e outro ainda estava por ser feito, o que o senhor esperava para a Igreja?
Um homem que desse continuidade à intuição da tragédia na qual a Igreja se encontrava. E do único remédio, que é voltar à fé no sobrenatural como elemento determinante da vida da Igreja: voltar à autenticidade da Tradição. Enfim, eu esperava um papa que continuasse o caminho que Paulo VI, nos últimos anos, havia indicado de maneira evidente.

E João Paulo I foi eleito. O senhor o conhecia?
Eu o vi uma vez, quando era patriarca de Veneza. E ele estava totalmente de acordo com a análise e a terapia que eu propunha para a situação.

O senhor guarda alguma lembrança daqueles 33 dias?
Fiquei muito impressionado quando, logo depois da eleição, ouvi o Papa falar na televisão. Ele disse algo como: “Ser eleito era uma coisa que eu não previa, por isso me aconselhei com meus amigos. Eles me disseram que aceitasse e eu aceitei”. Foi belíssimo. Deus quis - eu acredito - o sacrifício desse homem (pois foi um sacrifício real! E talvez nós só saibamos no fim do mundo até que ponto foi martírio); Deus quis esse sacrifício para preparar a Igreja para a entrada de João Paulo II. Um papa estrangeiro que é a encarnação do que os últimos dez anos de Paulo VI intuíram e exprimiram.

Em poucas palavras...?
A clara certeza do que significa o conteúdo da mensagem cristã também para a história deste mundo. Ou seja, a fé no Deus que se fez homem, com o conseqüente entusiasmo por esse Homem, no qual é possível depositar toda a esperança de cada indivíduo e do mundo inteiro. Portanto, a história como o lugar em que se realiza a glória de Cristo, fórmula suprema da própria história. E, por outro lado, a presença! A Igreja como presença no mundo, em toda parte e de todas as formas, e presença como Igreja: esse é o instrumento da glória de Cristo na história.


O caminho para a verdade é uma experiência
São Paulo, Companhia Ilimitada, 2006, pp. 136-138

Autoridade única
A autoridade suprema é aquela em que encontramos o sentido de toda a nossa experiência: Jesus Cristo é esta autoridade suprema, e é o seu Espírito que nos faz compreender isso, abrindo-nos à fé nEle e à fidelidade a Sua pessoa. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (cf. Jo 20,21): os Apóstolos e os seus sucessores (Papa e Bispos) constituem, na história, a continuação viva da autoridade que é Cristo. Na sua dinâmica sucessão na história e multiplicar-se no mundo, o mistério de Cristo é proposto sem interrupção, esclarecido sem erros, defendido sem compromissos. Eles constituem, pois, o lugar em que a humanidade pode haurir o sentido verdadeiro da própria existência, com aprofundamento crescente, como numa fonte segura e continuamente nova.
Aquilo que o gênio é no grito da necessidade humana, aquilo que o profeta é no grito da espera humana, eles são no anúncio da resposta. Mas como a resposta verdadeira é sempre incomparavelmente precisa e concreta em relação à espera - inevitavelmente vaga ou sujeita a ilusões -, do mesmo modo eles são como rocha definitiva e segura: infalível. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”.
A sua autoridade não apenas constitui o critério seguro para a única visão do universo e da história que lhes exaure o significado; ela é também um estímulo vivo e tenaz à verdadeira cultura, é sugestão incansável à visão total, é condenação inexorável de todo tipo de exaltação do particular e de toda idealização do contingente, ou seja, de todo erro e de qualquer idolatria. A sua autoridade é, portanto, o guia supremo no caminho para uma genuína convivência humana, para a verdadeira civilização.
Onde tal autoridade não é viva e vigilante, ou então onde é combatida, o caminho humano se complica, torna-se ambíguo, altera-se, desvia-se para a ruína, mesmo que o aspecto exterior pareça potente, próspero, inteligente, como hoje. Onde tal autoridade é ativa e respeitada, o caminho da história se renova com segurança e equilíbrio, rumo a aventuras mais profundas de humanidade genuína, mesmo que as técnicas de expressão e de convivência sejam rudes e duras.
Ainda hoje é o dom do Espírito que nos permite descobrir o significado profundo da Autoridade Eclesiástica como diretriz suprema para o caminho humano; eis de onde nasce aquele abandono último, aquela obediência a ela plenamente consciente pela qual ela não é mais o lugar da Lei, mas o lugar do Amor. Fora do influxo do Espírito, uma pessoa não pode compreender a experiência daquela devoção definitiva que une o “fiel” à Autoridade, devoção que se afirma freqüentemente na cruz da mortificação da exuberância de uma própria genialidade ou de um próprio plano de vida.


O homem e o seu destino
L’uomo e il suo destino. Gênova, Marietti 1820, 1999, pp. 27-28

Jesus Cristo prossegue na história, em todos os tempos, dentro do mistério da Igreja, seu Corpo, formado por todos aqueles que o Pai colocou em suas mãos, como Ele mesmo diz, e que Ele, com a força do seu Espírito, identificou no Batismo consigo mesmo como membros do seu Corpo. O magistério de Cristo é - portanto, coincide com - o da Igreja, pois por ela é autenticamente lido e ouvido.
Ela é obedecida na medida em que o que diz é instrumento e veículo da Tradição, ou seja, na medida em que é formalmente ortodoxa na fé e coerentemente fiel na práxis à autoridade do Papa. Por isso, do ponto de vista institucional, a autoridade é a forma contingente que a presença de Jesus Ressuscitado utiliza como expressão operante da sua amizade com o homem, comigo, com você, com cada um de nós todos. Este é o aspecto mais impressionante do mistério da Igreja, o aspecto que mais impressiona o amor próprio do homem, a própria razão do homem.


Por que a Igreja
Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2004, pp. 285.286.289-290.295-296 e 383.384-385

a) O magistério ordinário
A primeira modalidade daquela comunicação verdadeira que Cristo veio trazer ao mundo acontece pela própria fidelidade à vida da comunidade eclesial.
Tradicionalmente, esta modalidade é indicada pela expressão magistério ordinário.
O cristão chega às verdades divinas propostas pela Igreja por uma via ordinária, que é a própria vida da comunidade. A condição é que esta seja verdadeiramente eclesial, ou seja, unida ao bispo, que se supõe por sua vez unido ao bispo de Roma, o papa. Eis a fonte normal de um conhecimento último seguro; não um estudo teológico ou exegese bíblica - que são instrumentos, em última instância, nas mãos da autoridade que guia -, mas as articulações da vida comum da Igreja ligada ao magistério ordinário do papa e dos bispos em comunhão com ele.

b) O magistério extraordinário
A segunda modalidade mediante a qual as verdades da fé são comunicadas na Igreja é oferecida por uma posição extraordinária do seu ensinamento, que se identifica em última análise com o papa, enquanto este quer afirmar algo segundo a totalidade da sua autoridade. E isso pode acontecer ou de modo solene e clamoroso, com a convocação de um Concílio ecumênico, que é a assembléia de todos os bispos sob a direção do bispo de Roma; ou então por meio de uma intervenção pessoal do pontífice, uma iniciativa que é chamada definição ex cathedra.
A autoridade, na vida da Igreja, constitui, pelo que diz respeito à comunicação da verdade, um conduto que reúne em si uma dupla funcionalidade, como acontece com o leito de um rio: a primeira é uma função ideal, indica a direção do rio rumo à foz; a segunda é uma função limite, semelhante à da margem do rio, de tal modo que cabe a ela julgar quando uma afirmação ou um ensinamento contraria, excede ou transborda aquelas margens que asseguram a direção ideal.
Primeiramente, deve ser lembrado que a referência última das Igrejas ao papa é documentada como já vivida poucos anos após a morte de Cristo.
Em que consiste, então, aquela infalibilidade? É, antes de tudo, uma característica devida ao fato de que Deus comunica a si mesmo por intermédio da Igreja. Não é, portanto, uma capacidade do homem, mas prerrogativa da potência de Deus, que se manifesta na garantia do seu Espírito a toda a sua Igreja, guiada pelo sucessor de Pedro.

Apostolicidade
Assim como Cristo quis ligar a sua obra e a sua presença no mundo aos apóstolos, indicando um deles como ponto de referência cheio de autoridade, do mesmo modo a Igreja está ligada aos sucessores de Pedro e dos apóstolos, papa e bispos. Tal sucessão, historicamente documentável para o bispo de Roma, é unitária e ininterrupta, justamente mediante a ação do bispo de Roma.
O valor de tal sucessão apostólica está no caráter de milagre que confere ao próprio fenômeno da Igreja. A resistência construtiva no tempo, justamente naquelas expressões ideais e naquelas estruturas de experiência e de organização que pareceriam (como de regra são) essencialmente contingentes, é, na dimensão histórica da Igreja, o milagre maior. Constitui o enraizar-se das palavras de Jesus no tecido da história: “Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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