Notas do testemunho de Rosa Brambilla (Rosetta) durante as férias nacionais dos Jovens Trabalhadores, dia 27 de janeiro em Diamantina (MG)
Em 2003, eu fui visitar Dom Giussani e disse a ele que só se eu ficasse louca é que poderia esquecer o que ele e o Movimento foram para a minha vida, uma experiência de misericórdia que transpassa tudo. É impossível a gente esquecer esse olhar para a realidade!
Eu encontrei o Movimento durante uma festa na casa de amigos. Também durante aquela festa se percebia um certo olhar e eu me perguntava: “por que essas pessoas são diferentes?”, e, depois, durante um passeio, um amigo, Antônio, me respondeu que era por causa de Cristo. O que me encantava era que dentro de cada coisa que se vivia, com a qual se relacionava, havia Cristo, Ele estava presente.
Em 1960, Dom Giussani começou a introduzir o gesto da caritativa na Bassa. Para mim, fazer isso tinha um custo, pois eu precisava sair da minha cidade e fazer um trecho de bicicleta, depois pegar um trem, um ônibus e outro ônibus até encontrar os amigos em Milão. Eu tinha 17 anos e já trabalhava pintando porcelana para ajudar a minha mãe. Então, eu comecei a trabalhar à noite , num outro lugar, para conseguir ganhar um pouco mais de dinheiro e usá-lo para ir encontrar esses amigos em Milão.
Meu irmão não gostou muito dessa minha idéia e brigou comigo. Então, eu propus à minha chefa (do lugar onde eu trabalhava durante o dia pintando porcelana) para ela deixar eu levar alguns objetos para pintar em casa durante a noite e assim poder receber um pouco mais; e ela concordou.
Quando uma coisa se torna importante pra gente, fazemos qualquer coisa para ter aquilo. As coisas que pra mim antes eram importantes, passaram a ser nada comparadas ao que tinha encontrado.
Naquela época eu não me dava conta de como um gesto como o da caritativa pudesse incidir no modo de olhar para a realidade; tratava-se também de aprender um novo modo de usar o tempo. Domingo após domingo, ensinava-me que o tempo, tudo nos é dado para estar frente a Ele, para nos aproximar de Cristo. Foi para aprendermos isso que Dom Giussani nos educou à caritativa. A caridade é o coração de Deus que se abre para nós.
A experiência da caritativa me ajudava a viver a realidade cotidiana com mais responsabilidade. No trabalho, eu comecei a rezar junto com alguns colegas e isso nos ajudava a dar um ritmo ao nosso dia. Foi através da caritativa que eu aprendi a usar a razão, ou seja, a dar-me conta da realidade. Com o passar do tempo, me dava conta que o amor a Cristo, a paixão para torná-Lo presente era o motivo que originava a ação, mesmo frágil e imperfeita, mas o meu ser era impregnado do olhar de um Outro.
Havia também o gesto do dízimo que era proposto para sustentar os nossos primeiros amigos que vieram para o Brasil em 1962. A gente não media quanto dar ou não, pois quando a gente se apaixona não mede nada. Na proposta do dízimo aprendíamos a partilhar a experiência dos nossos amigos em missão e estas coisas nos tornavam mais inteligentes.
Pouco a pouco, me dava conta de que aquilo que encontrei eu o queria para sempre e que o meu coração queria abraçar o mundo... Queria que todos pudessem encontrar aquilo que eu encontrei.
Se vocês encontraram uma coisa que correspondeu, vocês sempre voltam. O encontro com o outro dilata você. A experiência do encontro faz você abraçar tudo e todos. Aí conversei com Dom Gius e comecei a verificação.
Nesse percurso todo, a caritativa foi fundamental.
Aquilo que aconteceu a Nossa Senhora – esse acontecimento que me foi comunicado de forma tão carnal (a ponto que meus olhos podiam ver e minhas mãos tocar Cristo) – para mim aconteceu por meio do encontro com Dom Giussani.
Na caritativa, a gente se inclinava para o outro, reverenciava a realidade; a caritativa me educou a isso. A gente se sente tão pequena diante do outro que te abraça como você é! Na caritativa, na ação, a gente percebe que não somos nós, mas é um Outro que faz. O outro precisa ser cuidado com essa atenção, como se fosse único.
Basta uma simplicidade de olhar para nos tornar inteligentes e “gigantes”. E a caritativa nos tornou “gigantes”.
Por isso, volto a dizer que precisaria ser louca pra esquecer o quanto fui abraçada.
Basta a simplicidade de obedecer. A caritativa nos torna homens.
Imagine que alguém olhou pra você desse jeito! Nunca mais você esquecerá esse olhar. Quando a mãe de um menino da nossa creche se oferece para ajudar no que for preciso, isto é sinal de que ela fez experiência de ser amada, de ser olhada.
Quando somos sérios diante das coisas, percebemos que tudo nos foi dado para nos tornarmos mais humanos, mais radiantes, mesmo fazendo tudo o que os outros fazem.
Uso a palavra simplicidade (de seguir e de obedecer), pois isto nos lança dentro do tempo e do espaço de uma forma que é gigantesca demais. E todo dia é necessário um trabalho sobre si. Nisto a oração ajuda a reconhecer a minha verdadeira natureza, a reconhecer que sou feita de um Outro. É um trabalho constante. Mesmo quando tivermos 90 anos seremos educados a olhar as coisas dessa forma.
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