Por um rosto assim…
Chiara está pensativa quando chega seu ponto. Sai do ônibus um segundo antes que as portas se fechem. Levanta a gola do casaco. Faz muito frio em Florença nesta manhã de fim de janeiro. Caminha rapidamente e pensa no dia que a espera: a prova que precisa preparar, os amigos... E depois, como um flash, revê as imagens dramáticas do terremoto do Haiti, as palavras de Fiammetta, voluntária da Fundação AVSI que quis permanecer lá para ajudar no socorro. Quase não percebe que chegou diante do prédio ultramoderno da Faculdade de Química. “Ok. Aqui estamos. O dia começa”, pensa. “Oi Chiara, tudo bem?” É seu amigo, Andrea. “Fora o frio.” Caminham pelo corredor. É ali que Tommaso os alcança. “Então, vamos fazer um estande para arrecadar fundos para a AVSI do Haiti? Não somos em muitos, mas acho que vale a pena. Vamos nos jogar por inteiro.” “É verdade, não somos em muitos... mas você tem razão”, diz Andrea. “Pedimos autorização e pronto. É claro que se alguém pudesse nos dar uma mão não seria mal...” Chiara concorda. Depois, levanta a cabeça. E sorri: “Ali estão alguns que podem nos ajudar”.
DO FUNDO DO CORREDOR aproximam-se três rapazes: Andrea, Claudio e Amerigo, universitários de esquerda. Ultimamente nasceu uma bela amizade entre eles, inesperada. Não concordam em muitas coisas, às vezes discutem acirradamente, mas sempre há um desejo de ir a fundo que vai além da simples estima. Tommaso os para: “Rapazes, queríamos lhes fazer uma proposta”. “Diga.” “Estamos organizando um estande para recolher fundos em prol do terremoto. Vocês nos ajudam?” “Para que associação?” “AVSI”. Alguns segundos de espera, depois Andrea rompe o silêncio: “Não, não é possível”. Diante desta resposta Chiara pensa consigo: “É, nós somos sempre ‘aqueles de CL’. E eles, ‘os de esquerda’”. A coisa parece terminar ali.
POUCOS DIAS DEPOIS, CHIARA E SEUS AMIGOS estão prontos com seu estande. Poucas pessoas comparecem. O dinheiro recolhido na metade da manhã é pouco. E eis que chegam à mesa os três rapazes de esquerda. Sem dizer uma palavra, colocam na mão de Chiara uma nota de 500 euros. Ela os olha assustada. Gira a nota nas mãos e pensa: “Essa nota é falsa. Eles querem nos gozar. Brincadeira de mau gosto! Não esperava isso deles...”. Claudio, quase lendo meu pensamento, pega da mesa um exemplar de Boas Notícias, o jornal da AVSI, que traz na capa as mulheres de Kampala: “Vocês acham que, por um rosto assim, eu daria dinheiro falso?”. Não.
É noite quando Chiara volta para casa pensando naquele encontro. Tem na cabeça aquela pergunta que também circulou entre os amigos: “O que eles podem ter visto em nós, a ponto de colocar em nossas mãos todo aquele dinheiro?”. E uma resposta brota com força, em uma carta escrita alguns dias depois, e dá arrepios: “Cristo. Eu não me dou conta, mas é assim: transbordamos de uma Presença que atrai o coração de todo homem”. Mais forte do que “nós” e “eles”.
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