Campanha eleitoral
Milão, feira na praça Lagosta. Beatrice ajeita seu cachecol e pensa que o frio é demais para um mês de março; observando o movimento, logo conclui: “Nossa! todo mundo está com muita pressa. Ninguém vai me escutar!”. Seus amigos, universitários como ela, ao invés de curtirem o merecido repouso na manhã deste sábado, estão ali fazendo campanha eleitoral. Não desanimam frente a algum insulto e muita indiferença. Um ou outro para e logo nascem as discussões. Beatrice vai em frente, infiltra-se entre as barracas de verdura e de queijos. A certa altura, aproxima-se de uma senhora que aparenta uns sessenta anos: “Com licença, a senhora conhece Mario Sala?”. “Não, não voto. Obrigada”. A conversa parece encerrada ali. Beatrice ameaça sair, mas decide dar meia volta e pergunta para a senhora: “Por quê?”. A mulher é categórica: “Não confio mais em ninguém”. “Por quê?”. Em questão de segundos, a senhora apoia a bolsa no chão e observa a moça, acha que com ela se pode conversar, ou talvez nem sabe direito o porquê, e começa a falar de si. “Sou separada do meu marido, mas o caso ainda não se encerrou do ponto de vista legal e, portanto, não tenho direito à pensão. A casa popular onde vivo está caindo aos pedaços. E há anos ninguém me visita”.
“SENHORA, QUAL É SEU NOME?”. “Mara”. “Eu me chamo Beatrice, faço o segundo ano de Letras. Senhora, se a gente não confia, nunca recomeça. Mas vamos sair um pouco desta confusão”. Afastam-se um pouco dali e continuam a conversar. No fim, a mulher pega a mão dela e diz: “Sabe de uma coisa? Eu gostaria de confiar”. Beatrice já nem se lembra da campanha eleitoral, agora só quer ajudar aquela senhora. “Posso lhe dar meu e-mail?”. Mara sorri: “Não tenho computador, filha”. A garota pensa consigo mesma: “Que pergunta idiota que eu fiz!”. A mulher retira da carteira um papel meio amarelado: “Este é o meu telefone. Desculpe, eu escrevo porque não o decorei. Eu não tenho ninguém para quem dar, mesmo. Mas pra você eu dou”.
ESSE ENCONTRO FICOU MARCADO na memória de Beatrice. Não podia deixar de contar para os amigos. Alguém lhe pede o número do telefone da senhora. Dois dias depois, o telefone toca na casa de Mara. A mulher logo pensa que são as costumeiras vendedoras de produtos, ou uma pesquisa eleitoral... Em vez disso: “Bom dia, senhora Mara. Aqui é da secretaria de Mario Sala. Como está?”. Mara começa a chorar. Aquela moça lembrou-se dela. E conta de novo com detalhes a sua situação. O telefonema é longo e a secretária, ao final, lhe diz: “Infelizmente, o Governo pouco pode fazer em relação à sua pensão. Mas se a senhora quiser, posso pô-la em contato com a Obiettivo Lavoro, que pode ajudá-la a encontrar um trabalho. E gostaria de levá-la para conhecer o Banco de Alimentos”. Há pessoas que se interessam por ela!
No outro lado da cidade, uma outra pessoa também pensa nela. É Beatrice. “Quem sabe o que pode acontecer com dona Mara? Gostaria de revê-la para lhe dizer pessoalmente que quando a conheci eu descobri uma coisa importante: a campanha eleitoral também é uma oportunidade de encontro. Nós também temos, como ela, a necessidade de sermos amados. No próximo sábado, vou voltar à feira. Tenho certeza de que vou encontrá-la lá”.
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