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Passos N.110, Novembro 2009

MOVIMENTO - PARAGUAI

"Se existe o paraíso, é aqui"

por Amanda Barion

Um grupo de São Paulo viaja a Assunção para conhecer a obra de padre Aldo, dispostos a aprender aquilo que pensam que já sabem. Relato de três dias vividos intensamente

No último dia 05 de outubro, Cleuza e Marcos Zerbini viajaram com mais sete membros da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo e outros quatro amigos de CL para a cidade de Assunção, no Paraguai, para visitarem a obra social de padre Aldo Trento. A visita foi motivada por um primeiro grupo da Associação que, dois meses atrás, foi conhecer o trabalho e sentiram a necessidade de compartilhar a mesma experiência.
O grupo visitou, no primeiro dia, a “Casa de Acolhida”, em um bairro distante de Assunção, que tem como objetivo receber jovens infratores que, por determinação judicial, passam por um período de 2 anos em processo de reabilitação e socialização na companhia de Pedro, que os trata como um pai. À noite, o grupo conheceu a charmosa pizzaria do complexo da obra de padre Aldo.
Várias situações marcaram os visitantes. O primeiro impacto é que tudo no local tem uma razão de ser e não se faz nenhum projeto. As necessidades surgem e são atendidas. Exemplo disso é a pizzaria, que foi construída para atender um grupo de mulheres desempregadas da comunidade. Também é importante citar a preocupação com a beleza de uma forma tão exuberante que chega a ser comovente. Por exemplo, ao entrar no complexo, o visitante se depara com uma arquitetura no formato de um castelo.
Mas esses detalhes até parecem insignificantes perante a grandiosidade do trabalho realizado no Hospital para doentes terminais. O grupo acompanhou, no dia seguinte, logo cedo, uma missa dentro do hospital que é realizada todas as manhãs às 7h. Não se pode falar em trabalho, pois o que vimos foi a própria vida dos voluntários ali presentes, a dedicação integral dos médicos, das enfermeiras, dos nutricionistas, enfim de toda a equipe junto com padre Aldo, que passa a maior parte do dia dando atenção, oração e carinho a cada paciente.
Uma visitante lembra o encontro com um bebê, desenganado pelos médicos, totalmente apático, sem responder a nenhum sinal vital, mas alimentado por sonda, em um lindo berço com um pijama de bichinhos e brinquedos ao lado.
À tarde, o grupo foi até a “Casinha de Belém”, uma casa que recebe crianças que, por força judicial, ou foram retiradas, por maus tratos, do convívio da família ou foram abandonadas. É impossível não notar o trabalho de recuperação das crianças que voltam, em um curto espaço de tempo, a sorrir, a ter seus olhos brilhando e ser simplesmente crianças, sem preocupações, pois lá encontram um carinho verdadeiro, não se fazendo necessário outros cuidados de psicólogo, psiquiatra, assistente social ou algo do tipo.
Na quarta-feira, os visitantes conheceram a casa dos idosos, que tem como objetivo acolher idosos abandonados, oferecendo um lar. Após percorrerem as obras de ampliação do Hospital com padre Aldo, o grupo terminou sua visita conhecendo a escola para crianças carentes dirigida por padre Paulino, um homem que tem a mesma postura de carinho, cuidado e atenção à beleza que padre Aldo. Quando ele percorreu com os visitantes cada sala de aula, as crianças, ao perceberem a sua presença, imediatamente se levantavam e diziam em alto e bom tom: “Buenos dias, padre Paulino”. Alguns corriam em direção a ele para abraçá-lo e beijá-lo.
É praticamente impossível descrever com palavras o respeito e o amor que padre Aldo e sua equipe têm por cada pessoa ali presente. Para nós, fica um sentimento e uma sensação de como somos pequenos perante aquela obra e aquelas pessoas.

UM NOVO INÍCIO. Paulo, conhecido como Lico, é um dos coordenadores da Associação. Há algum tempo observa a mudança de alguns amigos e desta vez aceitou o convite de sua irmã Cleuza para ir ver com os próprios olhos o que ela diz ser “morrer com dignidade”. No seu retorno, ele nos deu o seguinte depoimento: “Eu levei um choque com o que vi. Chegamos de manhã, almoçamos e fomos encontrar o Pedro, que trabalha com os meninos presidiários e recupera mesmo os meninos. Depois, chegamos ao hospital; um lugar em que as pessoas são levadas para morrer. Eles pegam pessoas abandonadas, jogadas na rua... e eles morrem, porque a Aids lá não tem controle e medicamento como aqui. Naquele dia, tinha um rapaz que estava para morrer e foi rezada uma missa dentro do quarto dele. Fizemos uma oração, e padre Aldo passou de quarto em quarto, ajoelhando-se nos pés da pessoa, colocava a comunhão na boca e a beijava. Eu pensava que já tinha visto tudo na minha vida e, vendo aquilo, fiquei chocado. O que mais me impressionou foi ver a maneira como o trabalho é feito com os doentes e com as crianças. E como eu sou meio ‘São Tomé’, decidi entrar escondido por trás do hospital para ver como eles tratavam as pessoas longe da gente, ou se tinham aquele carinho só na nossa frente. Vi que o tratamento é melhor ainda. As pessoas que estão para morrer são tratadas como se estivessem bem. Eles não ficam pensando que o outro vai morrer, e o tratam normalmente. Também tem três crianças doentes que têm a cabeça grande. Elas foram achadas na rua e o pessoal do hospital cuida delas. O primeiro impacto é ter medo, mas depois eu não saía de perto delas. E lá tem uma freira muito bonita que abandonou tudo para viver ali em um quartinho bem pequeno e só tem duas roupas. Ela trabalha umas 20h por dia e você nem a vê entrando, e ela vai de quarto em quarto conversando, dando carinho aos doentes. De frente para o hospital fica a escola e tem uma janela que, quando a luz de dentro acende, significa que uma pessoa morreu, e as crianças convivem com a morte e não têm medo. Fiquei impressionado com a alegria daquelas crianças, que foram maltratadas, abandonadas. Elas não precisam de psicólogos, porque o carinho e a forma como elas são tratadas é o que as ajuda. Elas têm uma mãe que é a responsável da casa e o pai que é o padre Aldo. O mais impressionante é que você não ouve um grito, e é tudo lindo. Na casa dos idosos, eles fizeram um trabalho com eles que chegaram sujos e não gostavam de tomar banho e, agora, estão todos arrumados, barbeados, todos limpinhos. Eu não acreditava em mais nada, porque estou acostumado a ver um monte de coisas ruins por aí, mas fiquei tão impressionado que quero voltar para ficar uns quinze dias lá. Você fica com o desejo de fazer alguma coisa para ajudá-los. Eu me senti um Zé-Ninguém e pensei: "Se existe o paraíso, é aqui”. As pessoas que estão ali vieram do inferno e ali eles realmente encontram a felicidade. O trabalho do padre Aldo é incrível! Quem vê aquilo e não muda é porque não tem jeito mesmo. Aqui, na Associação, eu não tenho problemas. Atendo as pessoas, choro junto com elas, mas, indo ao Paraguai, eu aprendi mais coisas e entendi que tenho que melhorar muito. Preciso mudar os meus conceitos”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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