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Passos N.76, Setembro 2006

DESTAQUE - MEETING 2006

Entrevista com Nikolaus Lockowicz: Uma fé razoável
tratando das coisas do mundo

por Alessandro Rondoni

Uma das personalidades mais agudas da cultura da Europa Central avalia a inimizade entre fé e razão que domina o Velho Continente e convida os leigos cristãos a um testemunho em todos os âmbitos, inclusive político. Uma lembrança de Dom Giussani: “Tinha um carisma particular de transmitir às gerações a fé cristã como uma coisa fresca, nova”

Nikolaus Lobkowicz, diretor do Centro de Estudos sobre a Europa Centro-Oriental, é uma das personalidades em destaque no mundo intelectual da Europa Central. Na Alemanha foi docente de Teoria Política e Filosofia na Universidade de Munique, da qual foi Reitor por mais de dez anos, e Presidente da Universidade Católica de Eichstätt. Nasceu na Tchecoslováquia e também foi professor nos Estados Unidos, tendo a cidadania americana. Nós o entrevistamos durante o encontro “Laicidade x Laicismo”, realizado no Meeting.

O que despertou seu interesse no tema do Meeting, que colocou a razão no centro das atenções?
Creio que o destaque da razão pertence a uma tradição antiga e importante da Igreja, tanto como premissa da fé quanto como estrutura de interpretação da mesma. Tal destaque é incomum porque tanto os protestantes quanto as Igrejas livres não querem ter ligação com a razão, negam-na. Por isso há o perigo de que a fé seja algo totalmente irracional e esteja somente ligada à palavra textual.

Fala-se muito de laicidade. Quais modelos existem?
O senador italiano Marcello Pera fez uma eficaz distinção entre a tradição americana e a francesa, nascida da revolução.
A posição americana (a fé não está excluída da vida pública; nde) é a mesma da maior parte das instituições européias e é importante porque leva à paz. Guerras religiosas não são mais pensáveis. Na Europa, existe a separação entre Igreja e Estado. É preciso, porém, especificar que esta separação não acontece em todos os países. A situação americana é a melhor e a mais simples. Inclusive porque criou um sistema universitário e escolar imenso que não existe em nenhuma outra parte do mundo. Exatamente porque a Igreja não está presa ao Estado.

Como se coloca, hoje, a questão da liberdade?
A Igreja, no final do século XIX, tinha medo da liberdade. De um lado estava interessada no poder e, de outro, pensava que precisava proteger os homens do mundo moderno. Um dos passos mais importantes do Vaticano II foi o abandono deste medo. Criou-se, assim, uma situação na qual só os crentes obedecem e não mais povos inteiros. Não há mais paternalismo autoritário, há uma situação mais difícil do que a anterior, porém, mais evangélica.

Sobre a educação, o senhor escreveu há algum tempo no “Il Nuovo Areopago” que é preciso tomar consciência, dentro da experiência, do sentido da tradição. O que o senhor quer dizer?
A tradição é o nexo histórico com Cristo. Se a colocamos entre parênteses cai-se em uma ingenuidade terrível, começa-se a discutir problemas já resolvidos há tempos e se perde a riqueza enorme da Igreja. A tradição é importante porque se ela não é conhecida perde-se qualquer nexo entre o evangelho e a vida da Igreja. Existem problemas difíceis como, por exemplo, o fato de a raiz dos sacramentos estar no Evangelho, que só podem ser resolvidos estudando-se a tradição. Vivemos em um mundo a tal ponto ingênuo que as pessoas não têm mais sequer vontade de conhecê-la.

Qual é, atualmente, o rosto da Europa?
O problema principal da Europa é não ter um fim, uma meta. Falamos de colaboração econômica, mas, o que queremos? Uma Europa que renega a própria tradição cristã não pode ter sucesso porque tem que excluir 70% da sua história. Esta tradição é judaico-cristã, cristã-iluminista, cheia de contradições, mas a Igreja nunca a renegou. Se a Europa a renega, a história não pode terminar bem. Sou muito cético em relação à construção da Europa.

O senhor falou da importância não de partidos católicos, mas de católicos livres na política. O que isso significa?
Acho que entre os católicos a política é considerada como algo sujo, motivo pelo qual não se quer ter muita ligação com ela. No entanto, também não é preciso surpreender-se pelo fato da política caminhar de modo diferente do que almejam os cristãos. Os políticos não devem dizer que são cristãos, mas transformar suas convicções em ações. Hoje, faltam figuras como Schuman, Adenauer, De Gasperi, De Gaulle. Em uma situação em que diferentes tradições têm diferentes partidos políticos, o cristão pode ser ativo em todos eles, menos nos comunistas, e era assim no início da República Federal Alemã, onde muitas personalidades católicas significativas estavam presentes também entre os social-democratas. Nos Estados Unidos, os católicos podem ser encontrados tanto entre os democratas quanto entre os republicanos e podem ter opiniões diferentes sobre problemas políticos concretos, embora dentro de determinados limites.

O que chamou a sua atenção no Meeting deste ano e como o senhor conheceu Dom Giussani?
Todas as vezes que venho ao Meeting fico profundamente impressionado, antes de mais nada, com a plenitude dos projetos que são realizados e, depois, com a cordialidade que há com todos. É diferente do que acontece na Alemanha, na Katholikentag, onde se leva em consideração tudo mas falta um objetivo. Aqui, se vê uma multiplicidade, uma pluralidade que, porém, tem uma perspectiva central.
O pensamento de Dom Giussani teve, para mim, grande importância, embora, quando o conheci, fosse muito “velho” para me tornar um membro de CL. Giussani tinha um carisma particular, que era o de transmitir às gerações a fé cristã como uma coisa fresca, nova. Nunca ofereceu imperativos negativos aos jovens mas sempre viu e comunicou o positivo.
(colaborou Chiara Savoldelli)

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Nikolaus Lobkowicz nasceu em Praga (Tchecoslováquia), em 1931. Depois de ter trabalhado como docente na Universidade de Notre Dame (Indiana - EUA) entre 1960 e 1967, começou a ensinar Teoria Política e Filosofia na Universidade de Munique (Alemanha), onde também foi Reitor a partir de 1971 por mais de dez anos. Em 1984 foi nomeado Presidente da Universidade Católica de Eichstätt, permanecendo neste cargo até 1996. Depois da queda do Muro de Berlim se ocupou ativamente na reconstrução dos países da Europa Centro-Oriental, e com este objetivo fundou o Zentral Institut für Mittel-und Osteuropastudien (Centro de estudos sobre a Europa Centro-Oriental), do qual é Diretor.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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