Vai para os conteúdos

Passos N.76, Setembro 2006

EXPERIÊNCIA - RÍMINI | Serviço voluntário

A tropa do Meeting

por Luca Pezzi e Matteo Forte

Um exército de voluntários para construir e para fazer girar a grande roda da quermesse de Rímini. Alguns, oferecendo as semanas centrais das férias de agosto para preparar a Feira: o assim chamado “pré-Meeting”. Outros, empenhando-se durante a manifestação, nos trabalhos mais diversos

DO PRÉ-MEETING...

Há uma anedota que fala de um viajante que encontrou três escultores amadores, concentrados no próprio trabalho. Curioso, pergunta a eles o que estão fazendo. O primeiro, responde: “Estou entalhando pedras”. O segundo, mais convicto que o outro, diz: “Construo um muro”. O terceiro, no entanto, com o olhar cheio de certeza, disse: “Construo uma Catedral!”. Embora consciente de que jamais veria seu trabalho terminado, o último artista sabia que estava participando da realização de uma obra que continuaria além da sua existência, que permaneceria para sempre, porque pertencia a um Outro.
Chegando no dia 19 de agosto na Feira, era possível encontrar jovens que trabalharam durante dias para a realização e preparação dos estandes: o assim chamado “pré-Meeting”. Muitos deles dormiram em casas de amigos. Outros, pagaram para ficar ali, trabalhando, o que é uma maneira bastante insólita de passar as férias.

Retocar “buraquinhos”
A maior parte dessas pessoas só parou de trabalhar dias depois da abertura da Feira e alguns partiram quando o Meeting “oficial” ainda não tinha começado. É o caso de Lorenzo, que voltou para a Sardenha na madrugada do dia 20. Trabalhou numa função comercial, afixando cartazes entre os pavilhões. “Voltei para casa com o desejo de que o estudo com meus amigos faça parte da formação de toda a minha pessoa assim como afixar cartazes faz parte da realização de todo o Meeting. Por isso, voltei para casa feliz, mesmo não tendo ficado para ver o evento”.
Betta, da Academia de Artes de Brera, em Milão, passou os últimos dias do pré-Meeting retocando os “buraquinhos” deixados pelo reboco que ruiu de uma inscrição do estande da Fraternidade San Carlo. “Enquanto você faz coisas que lhe agradam, como reproduzir um quadro de Mirò para embelezar uma parte do recinto, tudo está bem. Mas quando lhe pedem para fazer uma coisa da qual não gosta, você pode apenas sujeitar-se ou se perguntar: ‘O que pode me acontecer de interessante naquilo que estão me pedindo?’. Retocar os ‘buraquinhos’ me educa à paciência e disciplina que me faltam para o meu trabalho na Academia”.

2000 quilômetros
David, um estudante de Madri (Espanha), chegou a Rímini no dia 16 de agosto e ficou até quarta-feira, dia 23. “Você percorreu 2000 quilômetros para vir trabalhar de graça. Quem o obriga a isso?”. Ele responde: “Na verdade, nestes dias, poderia descansar. Para mim, o trabalho não é bonito somente quando está pronto, mas durante. Não dou o meu tempo por algo que recebo depois, mas trabalho, e pago para trabalhar, porque já fui pago. Somos ‘pagos’ enquanto fazemos. Vim a Rímini para encontrar uma beleza e um fascínio que me atraem”.

...AO MEETING

Uma senhora, parada na frente do shopping, em Rímini, pergunta: “Mas que Feira é esta? Já vi muitas em minha vida, mas nenhuma assim”. A senhora, enquanto fala, olha em volta e vê centenas de jovens com camisetas verdes e vermelhas. São os voluntários do Meeting que, em período de férias, pagam para construir uma obra que tem como dimensão o mundo.

Ver o bom na multidão
Giuditta, de Milão, fala sobre a semana em que foi anfitriã de padre Romano Scalfi, da Fundação “Rússia Cristã”. “Nasceu um relacionamento por meio do qual conheci pessoas importantes para mim, que estudo russo. Uma das pessoas é Pavel Men’, irmão de padre Aleksandr Men’, que me contou a história da sua família. Padre Scalfi, em todas as coisas que fazia, via o bom. Muitas vezes, na Feira, nos encontrávamos em meio à multidão e ele tinha dificuldade para caminhar. Eu bufava, mas ele dizia: ‘Você não fica comovida em ver o povo de Deus?’. Ajudou-me a ver o Meeting através de seus olhos, para os quais cada um tem valor”. Por exemplo: “A cada passo, alguém o parava e ele sempre tinha uma palavra para cada um. Ou, cada vez que íamos buscá-lo de carro sabia manter um relacionamento familiar com o motorista de plantão”.

Aos confins... da Feira
Nesta 27ª edição, um trabalho foi acrescentado: “Três vezes por dia vendíamos bilhetes para o bus-Meeting”, conta Pietro, de Milão. No total, o trabalho envolveu 14 voluntários: 10 dividiam-se entre a bilheteria e o quiosque colocado na entrada da Feira e os outros quatro entre Viserba e a Praça Marvelli. “O trabalho era cansativo porque continuamente tínhamos que entrar e sair da Feira. O fato de fazer isso juntos e de ser acompanhados, ajudava. Depois de três dias, por exemplo, nos encontramos com o responsável e colocamos os problemas tentando melhorar”. Também houve, como todos os anos, quem trabalhou nas cancelas. “Nós, da jurisprudência, cobríamos o turno das 13h30 às 19h30, quer dizer, as horas mais quentes do dia”, explica Dodo. “A cancela leste era reservada para a militância. Nosso trabalho consistia em verificar o ingresso de quem chegava ali e ajudar aqueles que se perdiam. Portanto, o trabalho em si não era particularmente empolgante. O que o tornou belo foi o fato de contribuir para que o Meeting funcionasse bem e fosse visível aos olhos do mundo.”
Também havia pessoas que passavam a noite nas cancelas. É o caso de Antonio. “No início, me garantiram que trabalharia na praça de alimentação. Depois, me transferiram para ser porteiro nas cancelas e eu disse: ‘Tudo bem, afinal eu dei minha disponibilidade ao Meeting por uma semana’. Então, também disse sim. Trabalhávamos da meia-noite às oito da manhã. Muitas vezes, tínhamos a tentação de dormir”. Uma coisa, desta experiência, marcou Antonio: “A unidade que nasceu entre nós, que trabalhávamos neste turno. Surgiu uma amizade também com aqueles que eu não conhecia antes. Uma noite, cantamos durante quinze minutos. Além disso, sempre mantínhamos contato por meio do rádio”.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

DIÁRIO
15 de agosto: trabalhos até às 16h. Depois, tivemos algumas horas livres antes da peregrinação, organizada pela comunidade de Rímini, pela solenidade da Assunção de Nossa Senhora. O lugar é fora da cidade. Encontramo-nos em uma pequena praça e apesar do cansaço do trabalho, as expressões dos meus companheiros eram felizes e concentradas no gesto que estávamos fazendo.
17 de agosto: no intervalo do almoço, nos pórticos à beira das piscinas, um grupo de pessoas se reuniu espontaneamente para cantar juntas. Quem animava os cantos eram os jovens da Academia de Brera.
No final da tarde, nos encontramos para uma assembléia sobre o trabalho voluntário no Meeting coordenada pelos organizadores do evento: Franco Caco, Emilia Guarnieri e Marco Bona Castellotti. Começamos com alguns cantos, mas sentindo o desânimo com o qual cantávamos, Emilia interrompeu e disse: “O que pode vencer o cansaço? Somente a consciência de que estamos aqui para responder a Alguém que nos chama”. Com ânimo decididamente diferente voltamos a cantar e, depois, começaram as perguntas.
A primeira foi de uma mexicana, Yamile, médica que trabalha com tóxico-dependentes e menores vítimas de violência sexual. Estes são seus dias de férias e quis passá-los no Meeting, trabalhando, porque conheceu pessoas que fizeram esta experiência e voltaram mais felizes do que ela depois de suas clássicas férias na praia.
18 de agosto: a impressão que se tem andando pela Feira é que será impossível prepará-la até o dia 20. Existe uma força de trabalho, a multidão é realmente enorme! Ninguém, porém, parece se preocupar muito. “Todos os anos, parece que nunca se chegará ao fim – dizem alguns –depois, ao contrário, no domingo de manhã sempre está tudo pronto”.
19 de agosto: hoje os trabalhos são maiores do que o usual, porque estamos na véspera da abertura da Feira. Nesta noite alguns amigos ficaram no pavilhão até às 2 da manhã para terminar seus trabalhos. Enquanto me encaminho para a saída vejo um grupo de jovens que acabaram de preparar uma Mostra. Estão muito cansados. Contaram-me que cantaram juntos durante aquela “longa noite de trabalho”, pois o cantar juntos ajudava a estar despertos e a trabalhar melhor.

Lorenzo, Milão

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Humanidade potencializada

Para mim, a experiência de trabalhar e participar do Meeting neste ano foi realmente muito bonita. Pela segunda vez fui coordenar um estande de artesanato brasileiro na Feira. No dia que antecedeu o início do Meeting, pude participar de um encontro com Giancarlo Cesana e Emilia Guarnieri com todos os voluntários. Fiquei marcada quando eles disseram: “Estamos aqui por algo de outro, para um trabalho gratuito. O cristianismo é um acontecimento racional porque permite a potencialização do humano. O trabalho no Meeting somente potencializará a nossa humanidade se nos abrir à novidade. Busquem sempre as razões e abram-se à verdade. Com este trabalho vocês podem aprender a amar a realidade e as pessoas por aquilo que são. E aprender esta misteriosidade não se aprende filosoficamente, mas por meio de gestos (uma ação que carrega uma mensagem). Envolvam-se na Feira com todo o ser de vocês. Estamos aqui para aprender em que consiste este ato de amor, não é uma troca”. Comecei o trabalho com o desejo de experimentar verdadeiramente o significado destas palavras. E, tudo o que vivi junto com os meus amigos, com as voluntárias italianas Silvia e Francesca, estudantes de Milão que foram escaladas para o nosso estande, foi a verificação do que Cesana e Emilia nos disseram. A disponibilidade das duas, a letícia durante as muitas horas atendendo as pessoas – trabalhávamos, em média, das 10 às 23h –, para mim foram sempre um testemunho e um chamado de atenção para a minha postura. Então, mesmo diante das dificuldades, era sempre a presença de Jesus, por meio delas, que me ajudava a recuperar o fôlego. Começávamos o dia rezando juntas o Angelus, oferecendo aquele dia a Jesus, para que se cumprisse a nossa felicidade e a de cada pessoa que encontrássemos. E, foram dias cheios de encontros com velhos e novos amigos. De fato, aquilo que Dom Gius nos ensina sobre a caridade, eu experimentei nestes dias, porque o doar-se, realmente, preenche e corresponde aos desejos do coração.
Gislaine, São Paulo - SP

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Quando cheguei ao Meeting, agradeci a Nossa Senhora
por ter me dado essa grande graça, primeiro de estar vivendo essa experiência que se chama Comunhão e Libertação, e depois por ter ganho as passagens para ir na Itália com a promoção “Passos rumo ao Meeting 2006”. Rezei pelos amigos que me ajudaram a conseguir ganhar o prêmio da revista e pelos que trabalham em Passos por terem me dado essa oportunidade. Para a Campanha íamos à Igreja para vender a revista após as missas e conseguir assinaturas e renovações. Não fazia isso só para ganhar o prêmio, mas para que as pes-soas pudessem conhecer as experiências, testemunhos e juízos que a revista traz, com um desejo grande de que Cristo se torne cada vez mais conhecido por meio desse instrumento.
A grandeza da revista e do Meeting me fizeram acreditar que quando faço as coisas por amor a Cristo, tudo se torna bonito.
E ver aquelas pessoas trabalhando gratuitamente para que o Meeting pudesse ser realizado, dos que limpavam as mesas, os banheiros, o chão, até o pessoal que dava informações e os monitores das Mostras, foi impressionante. Todos tinham atenção ao outro que estava ali para participar, e isso foi um chamado de atenção para que eu viva melhor os gestos propostos pelo Movimento, na certeza de que tudo isso é para que Cristo se torne conhecido.

Carlos Roberto, Brasília – DF

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página