O debate científico no Meeting de Rímini. Da Astrofísica à Matemática, às biociências. Diversos cientistas e estudiosos se apresentaram dando um testemunho a respeito de suas pesquisas e de sua paixão. Dois pontos-chave: o desejo inesgotável – e jamais satisfeito – de conhecimento do homem, e a possibilidade de uma ciência interessante para todos, como ajuda e convite a se tomar consciência da realidade
A gigantografia no infravermelho da Via Láctea – que acolhia os milhares de visitantes da Mostra “...Por que tantos pontos luminosos? A Via Láctea entre Ciência, História e Arte” – como também o número perfeito (um dos 43 conhecidos) que enchia quase toda a tela, durante o concorrido encontro “Vastidão e Infinito na Ciência”, foram, para todos, sinais das ilimitadas possibilidades abertas pela razão, quando é utilizada segundo os critérios do método científico. Mas foram também sinais da insondabilidade do real e de um infinito continuamente tocado pelos instrumentos de observação e pela audácia imaginativa dos pesquisadores.
Desejo inesgotável
Portanto, trata-se da ciência vista como vertiginosa subida até às extremas dimensões da realidade e, por isso, potente chamado de atenção àquele inesgotável desejo do homem, que nenhuma descoberta e nenhuma teoria jamais poderá satisfazer. Essa é uma primeira consideração que emerge do intenso programa científico do Meeting 2006. O visitante poderia ficar confuso ou até mesmo esmagado pela profusão de dados, pelo choque das imagens: é assustador ouvir falar do buraco negro, que é o núcleo do eixo central da nossa galáxia; ou da energia obscura que preenche o universo e acelera a sua expansão; ou, ainda, investigar o espaço ultraprofundo filmado pelo telescópio espacial Hubble e ver aflorarem objetos cuja luz foi emitida há mais de dez bilhões de anos; e assistir, atônitos, à simulação de um evento catastrófico realmente “galáctico”, que mostra a Via Láctea, dentro de alguns bilhões de anos, trombando com a galáxia Andrômeda.
O explorador
Tudo isso, porém, seria ainda estranho e distante, se não fosse comunicado pelo relato de testemunhas, de cientistas que, aceitando o desafio lançado no primeiro dia, unem “razão e paixão”. Assim, aquilo que poderia ser só espetáculo – fascinante ou aterrorizante – se transforma em mensagem, em apelo, em paradigma de um modo de se abordar a realidade. Modo bem expresso na figura do explorador, de quem se aventura – curioso e atento – por territórios desconhecidos, pronto a captar inclusive os mais frágeis sinais que possam ser o indício de um evento importante que deverá ser levado em consideração e tentar ser explicado. É uma posição humana interessante, que a prática e o rigor científico vão aperfeiçoando, e que se apóia sobre a consciência pessoal de se encontrar frente a uma realidade amiga e compreensível, organizada em sistemas complexos, e não entregue à mercê do puro acaso, mas fundada numa trama sutil, ordenada e que pode ser rastreada. O universo que se apresenta ao olhar crítico dos cientistas do século XXI é um universo “contingente e conveniente”, como sinteticamente o descreveu o Cardeal Schönborn ao visitar, com visível entusiasmo, a mostra sobre a Via Láctea: contingente porque poderia ser muito diferente do que é; conveniente porque são muitos os exemplos de fenômenos à primeira vista indiferentes ou hostis ao homem que, em vez disso, se revelam preciosos e providenciais.
Ocasiões educativas
Mas, também para ler os dados científicos sem reduzi-los há necessidade de testemunhas, que vivam sem obstruções essa aventura própria dos pesquisadores. Desse jeito, descobre-se a ciência como um bem para todos. Eis aí um segundo tema para reflexão. A ciência se torna interessante não só para os especialistas e os apaixonados pelo tema, mas para todos. Oferece-se como uma ajuda para tomarmos consciência da realidade que nos é dada, nos convida a interrogá-la, procurando não deixar de lado nenhuma pergunta. É difícil resistir à atração de certas imagens do cosmo, ou à beleza de certas formas geométricas, ou ao fascínio de certas demonstrações matemáticas, mas para os cientistas esses episódios são ocasiões educativas para se aprender a ver a beleza por toda parte, inclusive nas situações menos evidentes. E, por meio delas, isso se torna educativo para todos e aplicável a todas as nossas interações diárias com a realidade.
Exigência de sentido
A mesma lógica pode ser aplicada aos temas da bioética, que trazem para o palco aspectos da ciência à primeira vista contraditórios com o que dissemos até agora. São inegáveis os riscos, denunciados no Meeting, que derivam de um neomecanicismo que não reconhece a unicidade da pessoa e cancela diferenças e especificidades. Mas tal atitude é anticientífica; a pretensão manipuladora de tantos profetas das biociências e, de modo ainda mais preocupante, das neurociências, apóia-se sobre uma concepção e uma prática de ciência que não respeitam a sua verdadeira natureza.
O debate bioético expressa uma exigência de sentido que emerge, de modo agudo, diante de casos clamorosos; mas é a mesma exigência que nasce da prática científica a todo momento e que apela para a responsabilidade dos pesquisadores. É difícil pensar que se conseguirá encontrar repentinamente o senso de responsabilidade nas situações extremas se não o exercitamos nos detalhes de cada dia.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón