Certo dia, no início do século passado, voltando de uma viagem do território inglês da África negra, lorde Chamberlain recebeu a visita de Teodoro Herzl e, enquanto degustavam um chá, lhe disse: “Voltei da África Oriental e descobri um país para você: a Uganda, onde o clima é excelente para os europeus... e pensei comigo mesmo: eis um lugar para o doutor Herzl”. Naquele período, o fundador do sionismo batia às portas das Grandes Potências em busca de uma terra para os judeus da Europa Oriental, russos, sobretudo, cansados dos contínuos ataques e das ondas anti-semíticas que abalavam a vida daquelas comunidades.
A proposta inglesa não o desagradou e levou-a ao Congresso Judeu de 1903 como sendo uma interessante “solução transitória”. Mas o Congresso não se convenceu e, naquela e nas sessões sucessivas, reprovou a opção ugandense: a única terra para os judeus era e deveria ser a terra dos Pais, a Palestina.
As primeiras tomadas de posse, os escambos econômicos, a observação recíproca entre dois povos que se tornavam vizinhos depois de séculos de distanciamento, como duas famílias rivais que se vêem, de repente, vizinhas de casa, moradoras da mesma aldeia, provavelmente com o jardim em comum. Durante um período, os sentimentos são mistos: interesse e suspeita, desejo de colaboração e impulso à separação. No entanto, todo o distrito interfere, dá conselhos ou até pretende indicar as soluções corretas para a convivência ou para a vitória de uma sobre a outra. Sabe-se o que aconteceu depois. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Grã Bretanha, sempre odiada pelos árabes e invejada pelos judeus, renuncia ao “Mandato” sobre a região.
A nascente Organização das Nações Unidas tenta uma divisão da terra em dois Estados e o projeto (que, para os palestinos, seria mais vantajoso à luz das possíveis soluções das quais se falam hoje) é desdenhosamente rejeitado pelos árabes. Os judeus declaram o nascimento do Estado de Israel: estoura a primeira guerra árabe-israelita. Repetidamente agredido e sistematicamente ameaçado de extinção, o Estado de Israel ergue a barreira da força. Acontecerá uma segunda guerra em 1967 e uma terceira em 1973, às quais se sucederão as invasões israelenses do Líbano (1978, 1982 e a atual) e a Primeira e Segunda Intifadas palestinas (1987 e 2000). Durante muito tempo o conflito foi de ordem essencialmente nacional e política. Não entre judeus e muçulmanos, mas entre israelenses e árabes. As organizações palestinas eram rigorosamente laicas e marxistas em alguns casos, assim como os governos árabes. Vem exatamente do Líbano a primeira caracterização religiosa, que diz respeito, porém, aos cristãos: no curso da longuíssima e atroz guerra (parcialmente) “civil” estes se vêem em lados opostos ao dos palestinos e dos muçulmanos libaneses. Sentiam ameaçada a existência do Líbano e, com isso, a possibilidade de existir enquanto cristãos libaneses. Mas é com o acontecimento da revolução khomeinista no Irã, em 1979, e com a revolta anti-soviética dos mujahiddin afegãos que começa a “islamização” das guerras do Oriente Médio. Em 1982 nasce, no sul do Líbano, a milícia Xiita Hezbollah e, a partir dos anos sucessivos, nos territórios ocupados de Gaza e da Cisjordânia, lenta mas tenazmente, a organização sunita Hamas substitui a laica OLP.
Nos últimos anos explodiu o fenômeno do terrorismo islâmico e palavras como mártir e kamikaze tornaram-se tristemente familiares. Hoje, parece que nada nem ninguém consegue desatar o nó. Nem a força militar ou as políticas dos protagonistas, nem mesmo a comunidade internacional, embora chamada a uma nova tentativa com a Força Multinacional. Podemos consultar incontáveis documentos eclesiais e apelos papais com nostalgia e saudade. Uma sabedoria não somente humana e moral, mas também política.
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