A educação é reconhecida mun-
dialmente como fator primário de desenvolvimento social e econômico de uma nação, mas parece que a prática sempre está aquém da teoria. Parece que os investimentos nunca estão à altura do desafio ou que o problema não está sendo enfrentado de forma adequada.
Educar é desenvolver todas as potencialidades do eu, é a construção da identidade pessoal. E isso acontece a partir de um constante confronto com o educador, com o adulto. A “instrução formal” – escola, universidade – tem um papel importante, mas que não pode responder à totalidade da educação. Deve-se compreender o verdadeiro significado da palavra, sem reducionismos. A educação não se reduz a coisas que precisam ser sabidas e feitas, a oferecer instrumentos e treinamento para uma função. Essa é uma educação que não educa.
A mudança de uma sociedade passa por uma verdadeira educação à liberdade. Não é um problema que pode ser reduzido apenas a questões como a da formação eficiente para o mercado de trabalho, ou da privatização do ensino, ou da falta de verbas. Estas questões são importantes e devem ser enfrentadas, mas a questão de fundo é aquela de oferecer uma “hipótese educativa”, isto é, um princípio unitário com o qual o educando compara a si e a todas as outras coisas, procurando compreender seu lugar no mundo, descobrir onde estão os verdadeiros valores e o que deve motivá-lo e direcioná-lo em suas ações.
Esta é a importância da tradição, corretamente colocada. Ela é a primeira e mais natural hipótese educativa. Ela não é um peso do passado a ser carregado, mas toda a experiência humana acumulada que permite a cada um de nós ser aquilo que é. Sem uma tradição, o homem não consegue entender-se a si mesmo, saber o que lhe aconteceu na história. Torna-se fácil, desta forma, manipulá-lo e dominá-lo.
Um povo sem memória – vivida não como saudade, mas como consciência – não sobrevive. Um povo começa a existir como consciência, objetivo, quando alguém transmite a sua história, quando os artistas transmitem a sua beleza. Através da memória, da tradição assim compreendida, nos chega a arte e a beleza que nos foi deixada como herança. O belo é a atração positiva que dá início a tudo, que gera a capacidade de fazer, de afirmar o bem, isto é, da ética. Quanto mais a educação ama a pessoa, mais ama o povo e a sua memória.
A construção contínua de uma sociedade mais justa e mais fraterna depende de uma educação também contínua de nossa humanidade, onde aprendemos a olhar para nós mesmos e para os outros, redescobrindo aquela experiência em comum que dá sentido e gosto para a vida. Educarmo-nos à consciência de pertencer a um povo, nascido da partilha de um valor em comum, da riqueza da relação com os outros e com um Mistério que nos transcende, é um caminho básico não apenas para a construção da nossa própria humanidade, mas também para viver de uma forma justa a realidade política neste e em qualquer outro momento de nossa história.
Defender uma educação à liberdade implica em reconhecer e apoiar os grandes e verdadeiros “espaços educativos” da sociedade: a família é o primeiro espaço educativo a ser defendido. Para isso, é necessário combater as condições de pobreza em que se encontram muitas famílias; mas também ajudá-las numa educação capaz de preparar os jovens para construir também eles sua própria família, combatendo o relativismo cultural que procura destruir a objetividade de qualquer valor; e ainda garantir a liberdade para educar os próprios filhos segundo suas tradições e suas convicções.
A educação acontece nos outros âmbitos da vida social, particularmente nas escolas. É fundamental liberar recursos para formar e pagar professores, equipar as escolas etc. Porém, nada disso terá efeito se a educação não for considerada – também nestas instituições – como espaço de encontro e comparação entre uma “hipótese educativa” e a realidade.
Uma educação à liberdade supõe ainda o apoio integral, inclusive no campo financeiro, a todas as propostas educativas que se propõem a serem eficientes e públicas. Creches, escolas, centros de formação, universidades, criadas pelas próprias comunidades ou por organizações religiosas e leigas, que atendam a estes dois pré-requisitos devem receber apoio e incentivo. A sociedade e o Estado devem reconhecer a enorme contribuição destas instituições não-governamentais à educação brasileira, fiscalizando suas atividades, mas também lhes dando condições de realizarem sua missão.
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