Passos N.75, Agosto 2006

IGREJA - JOÃO PAULO II

Amar o amor humano. A herança de Wojtyla

por Dom Livio Melina

Os 25 anos do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família, sugerido pelo Papa Wojtyla, tendo em vista seu amor pelos jovens.

O título do congresso, “Amar o amor humano” – organizado em Roma, na Universidade Lateranense, pelo Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre o Matrimônio e a Família, de 11 a 13 de maio, em comemoração pela passagem do seu 25º aniversário de fundação –, foi tirado de uma expressão usada pelo próprio João Paulo II em seu livro-entrevista Cruzando o limiar da esperança. Respondendo ao jornalista Vittorio Messori, ele desvendou o motivo oculto do seu interesse pelos temas da sexualidade, do matrimônio e da família: o amor pelos jovens, o desejo de ajudá-los a aprender a amar, a corresponder plenamente à vocação ao amor, para assim poder vivê-lo de uma maneira bela. Ao mesmo tempo, ele observava que a realidade do amor exige que ele seja compreendido de modo espe-cial, adequado à sua natureza: o encontro com a experiência e o testemunho.
Hoje, há um ano da morte do nosso amado e venerado João Paulo II, emerge ainda mais claramente do que antes a nossa ligação com ele e o significado do fato de carregarmos o seu nome. O nosso Instituto foi querido e idealizado por ele, amado e seguido durante 25 anos com um zelo todo particular, como o testemunham os seus onze discursos, agora reunidos no número espe-cial da revista Anthropotes.

Dia significativo
A criação do nosso Instituto, depois do Sínodo sobre a família, de 1980, deveria ser anunciada justamente naquele fatídico dia 13 de maio, memória de Nossa Senhora de Fátima e dia do atentado contra o Papa na Praça São Pedro, dia do testemunho de sangue da proteção materna de Maria. É, para nós, profundamente significativo o encontro dessas datas históricas, pois tornou manifesta a extraordinária missão que a Providência atribuía a João Paulo II.
Nós nos sentimos herdeiros do seu amor pelo homem, da sua solicitude pastoral pelo amor humano e a família, da sua visão do mistério do homem e da sua vocação ao dom de si, da sua convicção profunda de que só sob a luz da verdade o amor humano será belo e capaz de salvar o homem.
Por isso, foi muito comovente, para nós, ler na primeira encíclica de Bento XVI que o centro da fé cristã, da imagem cristã de Deus e, conseqüentemente, do homem e da sua caminhada, é a revelação do amor, que não é tanto uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa (Deus caritas est 1). Que o amor é uma realidade única, embora com diversas dimensões. Que em toda a multiplicidade de significados, o amor entre o homem e a mulher emerge como arquétipo, no qual corpo e alma cooperam indissoluvelmente, desvelando para o ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível (DCE 2). Que justamente nesse plano se coloca o grande desafio que a missão da Igreja encontra hoje, no diálogo com o mundo: a Igreja, com os seus mandamentos e proibições, não tornaria amarga a coisa mais bela que existe na vida? (DCE 3). Que o cristianismo não é a rejeição do eros, mas a sua cura, tendo em vista a sua verdadeira grandeza (DCE 5). Que viver o amor significa fazer a luz de Deus penetrar neste mundo (DCE 39).

Missão evangelizadora
Essas palavras nos impressionaram pela sua surpreendente sintonia com a nossa trajetória de pesquisa e de ensinamento nestes anos, e fizeram com que nos sentíssemos dentro da missão evangelizadora da Igreja e na linha de frente do encontro com a sociedade. Com a nossa especificidade de Instituto acadêmico, único pela sua configuração, presente em Roma na sua seção central e em outros oito centros associados espalhados pelo mundo (Estados Unidos, México, Brasil, Espanha, Benin, Índia, Austrália, Áustria), nos sentimos bem no centro do compromisso de evangelização do qual os Movimentos Eclesiais são protagonistas.
Assim, no 25º aniversário somos chamados a mergulhar na riqueza da herança de João Paulo II, essa herança que é o nosso patrimônio genético mais precioso e constitui a nossa própria identidade. Não simplesmente porque se trata do magistério da Igreja, como no caso do ensinamento de todos os outros Papas, mas sim porque é uma herança confiada especificamente a nós. E não só por um olhar voltado para o passado, mas pelo estímulo que nos leva a mirar o futuro.
Nestes 25 anos, percebemos como a visão e o método aprendido na escola de João Paulo II são ricos, vitais e proféticos, capazes de inspirar uma pesquisa filosófica e teológica nova, de pôr em prática uma pastoral adequada aos desafios de hoje, de encontrar a vida das pessoas e transformá-la, mostrando como o cristianismo não exclui nada do amor humano; ao contrário, valoriza a sua prática com a promessa do cêntuplo. n
* Presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos
sobre o Matrimônio e a Família.

O Pontifício Instituto para Estudos sobre o Matrimônio e a Família foi fundado em 1981 pelo Santo Padre João Paulo II para oferecer a toda a Igreja a ajuda de uma reflexão filosófica, teológica e pastoral sobre a pessoa, o matrimônio e a família, com a colaboração das várias ciências humanas. O Instituto prepara sacerdotes, religiosos e leigos para desempenharem suas funções no âmbito eclesial e civil. O Instituto tem sede central em Roma, na Pontifícia Universidade Lateranense, e hoje está presente em todos os continentes: outras seções foram abertas nos Estados Unidos (Washington D.C.), na Espanha (Valência), México (Mexico City e Guadalajara), no Brasil (Salvador – BA), em Benin/África (Cotonou) e na Índia (Changanacherry). Algumas iniciativas estão em curso na Austrália (Melbourne) e Áustria (Gaming).
Roma, Universidade Lateranense, 11 a 13 de maio. O congresso pelos 25 anos do Instituto João Paulo II.