Vai para os conteúdos

Passos N.74, Julho 2006

DESTAQUE - O CORAÇÃO

Para quem tem fé, nenhum problema

por L. Grandoni

Apresentamos uma entrevista com Dom Giussani publicada na edição de 21 de fevereiro de 1978 da revista italiana Panorama

Alvos da zombaria dos membros da nova esquerda da sua idade, mas sem qualquer medo de na prática serem os únicos jovens que ainda exaltam a abstinência, os membros de Comunhão e Libertação parecem ter encontrado a melhor receita para dominar as tentações da carne. E isso sem se retirar para um convento, ou fugir da promiscuidade dos sexos: entre os grupos de jovens desta época, poucos têm uma vida em comum tão intensa. Eles conversam, cantam, brincam, organizam férias sempre juntos. Mas não fazem amor antes de colocar a aliança nupcial no anular esquerdo. É fácil levar essa vida? E ela realmente gera uma harmonia, uma paz espiritual, uma maturidade de caráter, como CL insiste em declarar?
Panorama pediu a Dom Luigi Giussani que falasse sobre como esses novos cristãos encaram a sua vida sexual. Ele é docente de Moral na Universidade Católica de Milão, inspirador e orientador espiritual de Comunhão e Libertação, fundador da antiga Gioventù Studentesca, outra organização juvenil que nas décadas de 1950 e 1960 angariou desde cedo muitas simpatias por seu trabalho social avançado, mas também muitas gozações e ironias pelo rígido moralismo de seus militantes.

O sexo ainda é visto (no contexto eclesial) como algo em função do matrimônio e da procriação?
A primeira preocupação naquilo que me foi ensinado é que a maneira de conceber a existência humana deve ser razoável. E tenho para mim que, para ser razoável, é preciso em primeiro lugar não isolar um detalhe de todo o problema do homem. A tradição cristã nunca deixou de reconhecer, justamente graças ao que a Bíblia ensina, a importância da relação homem-mulher para a educação integral da personalidade, ou seja, para a consciência do nexo que a pessoa tem com o mundo, para a consciência da sua tarefa e do seu destino. Além disso, no matrimônio, âmbito da função mais radical para a natureza, o Concílio Vaticano II diz que o sexo é “sinal especial da amizade conjugal, dom livre e mútuo de si mesmo”, do qual os filhos são a expressão que mais nos enche de surpresa.

Os jovens católicos ainda aceitam a equação “sexo fora do sacramento igual a pecado”?
Um jovem católico que procure viver seriamente a sua fé, ou seja, a concepção e o sen-timento cristão do homem e do seu destino, deseja justamente um desenvolvimento da sua pessoa que seja unitário, intenso e equilibrado, e, por isso, ordenado, “governado”. Pelo ensinamento católico, fica claro que o uso coerente do sexo está implicado numa responsabilidade socialmente fundamental, a responsabilidade procriadora e educadora, e, portanto, na estabilidade necessária a essa responsabilidade. “Pecado” significa “faltar” a uma ordem ideal. A fragilidade do homem no governo de si quanto a esse ponto é grande: essa não é uma questão de escândalo ou de tormento; é uma questão de dor.

Em relação ao passado, os jovens sentem hoje maior ou menor necessidade de se confrontar com o sacerdote? Será que não resolvem sozinhos as suas dificuldades?
Para quem entende a vida como um caminho, o fato de confrontar as próprias posições é como uma companhia. Os jovens o desejam e o procuram. Mesmo que a responsabilidade do juízo e da decisão seja deles.

Como mudou a linguagem dos educadores?
Mudou muito. A meu ver, na direção de dar maior peso ao problema central: como suscitar e educar à fé, ao sentido verdadeiro e global da vida.

Qual é a posição de vocês a respeito de virgindade e relações pré-matrimoniais, castidade? O que isso significa concretamente para um católico?
Tenho a impressão de já ter respondido a isso. Para um católico, a questão é usar as próprias capacidades para atingir a finalidade integral que elas têm, não para uma finalidade reduzida de maneira egoísta. No que diz respeito à virgindade, ela é uma maneira mais profunda de viver os relacionamentos, à imitação de Cristo. O próprio Jesus disse no Evangelho: “Nem todos entenderão esta palavra”. Dificuldades e incoerências não tiram a vontade de vivê-la de quem se encaminhou para ela com seriedade consciente.

(traduzido por Durval Cordas)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página