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Passos N.74, Julho 2006

SOCIEDADE - MILÃO | CARIDADE

É bela La Strada

por Paula Bergamini

A história de um grupo de amigos de La Strada. O início, nos anos 80, em uma paróquia da periferia de Milão, o encontro com um amigo do Movimento, e o dilatar-se de uma experiência que enfrenta e dá uma resposta às necessidades que encontra

Um jovem geômetra com um bom trabalho e a “idéia fixa” do dever social; um recém formado em piano pelo Conservatório que decide fazer o serviço civil junto à Caritas; um físico nuclear que deixou a atividade científica quando um amigo pediu uma ajuda para a reorganização de uma obra de caridade. Três histórias que convergem à rua Salomone, bairro violento na periferia de Milão, na Paróquia de São Galdino, onde o vigário, padre Giancarlo, criara, nos anos 80, a Associação La Strada para enfrentar o problema da tóxico-dependência que já se estendia por anos. Mas o que os uniu foi uma paixão pelo homem e, sobretudo, o encontro com a amizade cristã, que se deu em diferentes caminhos e que marcou suas vidas. Sentados ao redor de uma mesa, na sede da rua Piazzetta, eles contaram a Passos como, pouco a pouco, tomou vida uma série de obras que sempre tiveram como método a partilha das necessidades que a realidade colocava diante de seus olhos.

O início e as novas necessidades
“Eu tinha 24 anos – começa Gilberto – quando padre Giancarlo me propôs abrir uma comunidade para tóxico-dependentes em Imbersago, num bairro que lhe tinha sido destinado. Deixei o emprego em uma empresa petrolífera e, com alguns amigos, coloquei-me à frente desta aventura onde permaneci por cinco anos, durante os quais me casei e tive minha primeira filha. Num certo ponto, percebi que deveria fazer escolhas, sobretudo em relação à minha família. Além disso, La Strada estava iniciando novos caminhos para responder a novas necessidades e sentíamos que precisávamos administrar este crescimento imprevisto”. “Sim, aquele foi um momento determinante também para mim – diz Diego –. Estava terminando o serviço civil e, independente de qualquer intenção que eu tivesse – no início pensava que aquele seria um parêntese em minha vida –, tinha decidido ficar com esses amigos. Com o centro diurno para tóxico-dependentes, surgiu uma série de problemas como a re-inserção na vida normal, a dispersão escolar, a inquietação juvenil etc. Éramos um ‘bando’ de amigos que trabalhava conforme as necessidades que encontrava. Nesse período, padre Giancarlo foi transferido para outra paróquia. Demo-nos conta de que precisávamos fazer uma reflexão”. “Naqueles anos, de fato – explica Gilberto –, cada um de nós era apaixonado por um pedacinho da obra La Strada e a levava em frente. Por exemplo: tinha sido colocado à nossa disposição um bom lote de terra; ali, Marco, um dos nossos, criou uma cooperativa de paisagismo. Esta característica permaneceu sempre viva. Num certo ponto, percebemos que precisávamos de alguém que conduzisse toda essa estrutura complexa, tendo em vista um crescimento. Então, em nossa história, há uma linha de demarcação, que se deu pela passagem de uma fortíssima obrigação ideal inicial ao momento da tomada de consciência do valor pelo qual trabalhávamos, que coincidiu com o encontro com algumas pessoas do Movimento. Eles nos ajudaram a abandonar uma certa lógica pauperista, típica de um determinado âmbito católico, para ir a fundo nas razões pelas quais trabalhávamos, para que pudéssemos responder às necessidades de modo adequado”.

Educação e assistencialismo
“Era 1987 – conta Valter – quando, por intermédio de Vittadini e de Dom Giussani, encontrei Angelo Abbondio que me pediu para acompanhar algumas obras de caridade que ele ajudava, entre elas, La Strada. Imediatamente percebi que aquelas pessoas tinham uma generosidade e uma humanidade excepcionais, mas corriam o risco de perder de vista o objetivo. Fiquei com eles, vivendo o método que Dom Giussani tinha me ensinado quando fazíamos caritativa na Bassa: encontrar o outro com suas necessidades. O jovem que vai mal na escola tem o pai alcoólatra, a mãe desempregada e está sem moradia? Ok, não basta ajudá-lo no estudo. É preciso encontrar para ele uma casa. Então, porque não criar uma cooperativa que ajude pessoas nestas mesmas condições? Segui esse caminho: quando via que um grupo estava interessado por um problema específico, convidava-o a construir uma obra própria. Exatamente o contrário do que fazem os outros, que se fixam em um único problema. Mas isso só é possível se o homem é considerado em sua totalidade e o olhar alcança 360 graus. É isso que move a Companhia das Obras: um critério ideal, uma amizade operativa. Não por acaso, periodicamente, sempre fizemos encontros sobre o motivo pelo qual se trabalhava: as necessidades concretas chamam à necessidade maior, ao Destino. Isso une assistente e assistido. E aqui está a diferença entre educação e assistencialismo”.

Holding de acolhida
Essa é a história. E hoje? Hoje a diversificação das respostas criou uma verdadeira e própria Holding. Ao grupo La Strada – do qual Valter Izzo é presidente – estão ligadas doze cooperativas que trabalham com acolhida (vide box), que vão de centros para acolhida de jovens em risco a um consultório médico para excluídos, oficinas de artesanato na prisão de Opera, comunidades para doentes terminais de Aids etc... Mais de 400 pessoas são empregadas nas várias estruturas.
“Tudo isso foi possível – explica Diego, presidente da Cooperativa Galdus, que se ocupa da orientação, formação e estágio de jovens e adultos – por causa da relação de amizade que existe entre nós. Quando começaram a nos falar sobre “redes” nós nos olhamos e dissemos: mas nós já fazemos isso há anos. Entre uma cooperativa e outra não há nenhum laço formal, mas é natural, entre nós, interagir. E isto, essencialmente, porque nos queremos bem e queremos bem aos outros. Queremos o bem deles. Que é, também, o nosso. E isso, sobretudo em relação aos jovens, é determinante. Na maioria das vezes sua inquietação nasce da falta de um adulto capaz de fazer uma proposta significativa e sobretudo de sustentá-la. Querem alguém que os acompanhe. E que, por exemplo, pela manhã, ligue para a casa deles para estar seguro de que tenham se levantado e ido à escola. Ou, como aconteceu a dois de nossos operadores, que tomem o avião por conta própria para procurar uma jovem que fugiu para a Sicília. Quem, ou o quê, leva alguém a fazer isso, a não ser uma paixão pelo outro?”.

Amizade criativa
Gilberto, hoje presidente da Cooperativa La Strada, que se ocupa da administração de serviços, atividades e projetos de assistência social, intervém: “Então, o que me faz estar aqui dentro é uma paixão, um gosto pelo qual sinto este trabalho como uma coisa minha. E, depois, devo dizer que a amizade entre nós e a descoberta contínua de novas necessidades também nos faz ser criativos. Não por acaso, há pouco tempo nasceu a Academia das Obras, que realiza eventos musicais. Assim, Diego pôde desempacotar seu diploma de músico e colocá-lo em ação!”. Começamos a rir.
Diego acrescenta: “Assim também foi possível continuar respondendo ao desejo de ‘belo e infinito’ de todos os homens”. “Este é mais um desafio – conclui Valter –, que faz com que eu me lembre de meu pai, que foi solista na orquestra da Marinha. Fui rendido pela amizade que existe entre nós ”.

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Os números
Abaixo, estão relacionadas as atividades realizadas e o número de pessoas acolhidas pelo grupo La Strada em 2005:

> 10 centros de agregação para jovens com risco de delinqüência (800 jovens);
> 7 comunidades para menores, jovens mães, tóxico dependentes e doentes de Aids (80 pessoas);
> 30 alojamentos para sem-teto em situação de emergência (120 pessoas);
> Um centro para terapia de menores vítimas de maus tratos e/ou abusos (40 crianças e suas famílias)
> Um ambulatório médico e dentário para excluídos (1 000 usuários);
> Laboratórios, barracões e estufas para inserção trabalhista de adultos em dificuldades – ex-tóxico dependentes, ex-detentos, imigrantes, portadores de deficiência física etc – (80 trabalhadores);
> Uma agência de trabalho para imigrantes (1 100 casos – 400 aceitos);
> Um centro para o trabalho apoiado pelo setor público e privado para orientação, formação e inserção no mercado de trabalho (4 000 pessoas encontradas, 650 inseridas em empresas);
> Uma agência de formação que opera na re-inserção escolar e na formação profissional de jovens incluindo cursos de especialização (4 500 alunos);
> 3 oficinas de artesanato – ferro batido, trabalhos com madeira e com pedra – na casa de detenção de Milão-Opera (40 trabalhadores);
> Uma casa de férias na Sardenha para pessoas em dificuldades e famílias (160 hóspedes).

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Grupo La Strada
As principais cooperativas


LA STRADA SOCIEDADE COOPERATIVA SOCIAL
Organiza e dirige serviços para menores e adultos em dificuldades em diversos campos: adolescentes em risco – luta contra a dispersão escolar, tóxico dependência e Aids –, sem residência fixa, menores vítimas de maus tratos e abusos etc.
Da Cooperativa La Strada fazem parte, entre outros:
* Centro de Agregação Juvenil Tempo&Poi
Acolhe rapazes e moças de 10 a 18 anos, com propostas educativas e atividades de reforço escolar, lúdico-recreativas, esportivas, musicais, passeios e férias etc.
* Centro In-Presa
Acompanhamento educativo de jovens em dificuldades, formação e colocação no mercado de trabalho.
* Centro Coriandolo
Acompanhamento educativo de jovens estrangeiros.
* Comunidade Familiar O Horizonte
Acolhida de menores em caráter familiar.
* Casa de Hospedagem São Genésio
Acolhida e cuidado de pessoas com AIDS.
* Housing social
Acolhida de pessoas e núcleos familiares em grave emergência de moradia em 30 alojamentos.

GALDUS
É constituída por um grupo de profissionais da educação, que elaboram e realizam projetos de formação profissional, orientação e colocação ocupacional. As atividades de pesquisa e as publicações que estão aos cuidados do pessoal da Galdus completam o quadro das atividades institucionais.
A Instituição é direcionada àqueles que têm dúvidas e precisam de orientação e motivação.
Além disso, a Galdus realiza cursos formativos e intervenções de suporte profissional em diversas penitenciárias.
Uma outra iniciativa da Galdus é o EASY, centro para o trabalho, cujo objetivo é fornecer serviços de orientação, formação e cruzamento entre a demanda e a oferta de trabalho.

ASSOCIAÇÃO CENTRO DE SOLIDARIEDADE SÃO MARTINO
Obra para o mercado de trabalho, a Comunidade de Zelo Surrigone (casa de acolhida com pequenos aposentos e leitos para mães estrangeiras e suas crianças), ambulatório médico e dentário, cursos de Italiano e Educação Cívica.

CENTRO TIAMA
Serviço de excelência voltado a menores vítimas de maus tratos e abusos e suas famílias. Oferece psicoterapia aos menores acolhidos e formação especializada para neuropsiquiatras em todo o território nacional.

COOPERATIVA O HORTO BOTÂNICO
Para inserção trabalhista de pessoas com dificuldades no setor de paisagismo e de manutenção do verde.

ACADEMIA DAS OBRAS
Realiza eventos musicais e concertos. Organiza uma das temporadas musicais na Sala Verdi, do Conservatório de Milão.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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