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Passos N.74, Julho 2006

EXPERIÊNCIA - SÃO PAULO | UNIVERSITÁRIOS

Uma experiência de gratuidade

por universitários de São Paulo

A seguir, o testemunho de alguns jovens que participam da caritativa - doação do tempo livre em trabalhos gratuitos - com a Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo

Desde que entrei no CLU foram poucas as vezes que
fui a uma caritativa, portanto fui da primeira vez na Associação pensando que poderia estar lá descansado, ou fazendo outra coisa qualquer. Com o tempo, indo sempre, aquilo pra mim ganhou uma outra dimensão, deixou de ser algo à parte da minha vida, um sábado por mês que estava fora do meu cotidiano. Isso foi acontecendo porque eu ficava comovido com as pessoas que trabalhavam lá: o empenho delas, toda a dedicação para com aquela obra, o desejo de ajudar todo aquele povo, mesmo tendo uma vida dura (pelo menos bem mais que a minha). A amizade com a Tamar, a Sabrina, a Juma, a Denise, o Guilherme, entre outros foi me comovendo de tal forma que eu já começava a me relacionar com os meus pais de outro jeito quando ele pedia que eu fosse ajudá-lo no trabalho dele. Não é que ajudar meu pai tenha se tornado algo legal e que eu goste, mas lembrar da experiência da caritativa me colocava numa outra posição diante do meu pai; eu passei a ajudá-lo por uma afeição à pessoa dele. Pra mim isso tem sido fascinante, pois me coloca no mundo com um coração maior, mais atento com cada pessoa com que eu me relaciono.
Maurício Shimabukuro

Nestes 12 anos de Movimento, de todas as experiên
cias de caritativa que fiz, este é o maior “doar-se”.
O que me provocou foi aquela concentração de olhares, enquanto o Zerbini e a Cleuza falam. É possível ver como cada um fica tocado ao lembrar de seus desejos e sonhos.
Leandro Nilo

Eu nunca tinha feito caritativa no CLU. Quando surgiu
essa idéia de fazermos com os universitários do Zerbini, achei meio maluca, mas mesmo assim, resolvi aceitar. Depois, fui percebendo que a idéia é ficarmos perto do Marcos e da Cleuza, que os ajudemos no que eles precisarem. Quando comecei a perceber isso, foi mudando um pouco o jeito de ver a caritativa. O começo disso tudo foi bem cansativo, pois a proposta era que ficássemos lá o dia inteiro. Eu estudo de manhã e trabalho até às 20h todos os dias da semana. Sábados e domingos são os únicos dias que tenho para descansar, ficar um pouco em casa e sair com os amigos. Imagina que um sábado inteiro eu ia “perder” na caritativa. Mas, de novo, resolvi seguir a proposta. Uma coisa bem legal que tem acontecido comigo, por causa da caritativa, é a minha disponibilidade pra ajudar os meus pais em casa. Continuo não gostando de lavar louça ou de varrer o chão da cozinha, mas hoje estou muito mais disponível para fazer essas coisas do que antes. Porque ajudar a minha mãe nas coisas de casa tem o mesmo sentido da caritativa, um doar-se gratuitamente. A atitude é a mesma.
Carol Oliveira

Ir fazer caritativa tem significado para mim cada vez
mais a possibilidade de olhar para o meu próprio pertencer ao Movimento Comunhão e Libertação. Digo isso não somente pelo fato de o Marcos e a Cleuza serem capazes de liderar grandes massas, mas por ver que tudo o que eles falam para as pessoas e o modo que eles estão com elas parte da fé que eles encontraram. Eu sempre penso se aquelas 800 pessoas que estão ali ouvindo a apresentação do texto tivessem encontrado uma experiência partidária, com certeza aquela reunião seria um momento de doutrinamento, de fundamentação ideológica. Mas por terem encontrado o Marcos e a Cleuza, que por sua vez encontraram CL, naquele momento eles ouviam alguém falar sobre o desejo de felicidade, sobre a relação da pessoa com o Infinito. Eu também estou aprendendo muito com os meus amigos da Escola de Comunidade, pois eles me ensinam o que significa respeitar a liberdade do outro, o que significa entregar-se à obra de um outro livre dos preconceitos que normalmente eu coloco diante da realidade. No fundo quem está tirando proveito da caritativa sou eu mesmo.
Eliandro Silva

Falar da experiência da caritativa é falar de uma cor
respondência quase inimaginável. Ao menos pra mim, que, aos domingos, não costumo acordar às 6h30 da manhã... No entanto, estes domingos de caritativa têm sido todos surpreendentes. E isso não significa que seja fácil acordar cedo (num dia que todo mundo acorda mais tarde), desviar meu caminho para encontrar as pessoas que ainda não sabem chegar ao local e me colocar à disposição para a obra de um outro. A caritativa tem sido mais do que um momento de trabalho: um exercício de estar à disposição para realizar este serviço quando o outro me pede e na forma que ele me pede. Porque a obra é dele, não é minha. E é ele quem sabe o que pedir de mim e a hora de pedir. A consciência disto tem me permitido fazer uma experiência de liberdade surpreendente!
Carol Morais

No ano passado ouvi Padre Pino falar da importância
da caritativa: “A caritativa é sempre um instrumento de ajuda a uma pessoa. É usar um pouco do meu tempo livre para partilhar uma necessidade, não resolver o problema”. Eu sempre pensei o contrário, e percebi que não vivia a caritativa como era proposto viver, por isso não me marcava muito, não me ajudava, a ponto de eu ter desistido de participar do gesto. Nesse mesmo encontro, Carrón nos pedia pra julgar tudo aquilo que era proposto, julgar e avaliar se corresponde ao nosso coração. Pensei que somente alguém que tem certeza daquilo que encontrou tem coragem de dizer isso, e a partir daí resolvi participar do gesto da caritativa. Aos poucos, percebi algo que pra mim não era óbvio: que aqueles universitários, junto com os meus amigos da faculdade, tinham os mesmos desejos que eu. E que eu estava ali como um instrumento de mudança, daquele encontro com Alguém que muda tudo. Comecei a ficar amigo dos universitários e das pessoas da Associação que trabalham lá voluntariamente, com a simplicidade que eles vivem, e essa doação gratuita de todos os dias é algo que eu quero pra mim também, e foi esse desejo que me mudou em relação ao meu cotidiano. Hoje sou diretor do Centro Acadêmico da minha faculdade, mas isso se estende também ao meu relacionamento com meus amigos, com minha família, no meu estágio, porque se Cristo tem a ver com tudo, Ele tem a ver com todas essas pessoas, e gestos como esse da caritativa me fazem viver mais belos e intensos os meus dias. Rezo para que isso seja cada vez mais claro e que seja novo todos os dias.
Eduardo de Souza

A experiência de caritativa que estamos fazendo trata-
se de uma ajuda muito simples ao “Movimento Faculdade”. Tenho percebido que fazer caritativa lá me ajuda a aprender uma maneira nova de amar, de estar diante do outro. Por meio dessa experiência rica de simplicidade e disponibilidade de coração, tenho me dado conta de que esse interesse pelos outros faz parte da minha natureza. Tenho descoberto mais quem eu sou. Que Cristo tem a ver com a minha vida inteira! Depois de ir à caritativa não posso ir trabalhar na segunda-feira da mesma forma. Eu percebo que alguma coisa mudou. Isso aumentou meu interesse pela minha família, meu trabalho, meus amigos. Fiquei entusiasmada com a minha própria vida. É o pequeno tempo livre que me educa. Educa a minha liberdade, o meu coração a estar aberto a todos aqueles que encontro. Diante de todos aqueles jovens também é impressionante reconhecer que todas as pessoas esperam por Cristo. É comovente participar das discussões dos grupos, ouvir as perguntas que tocam no fundo do senso religioso e que buscam verdadeiramente encontrar uma resposta. Eu volto pra casa sempre muito grata por ouvir aquelas perguntas que eu não consigo esquecer, que marcam os meus dias, me provocam a julgar a minha própria experiência. Estar ali é também a possibilidade de comunicar aos outros que essas perguntas têm uma resposta, e que nós, por gestos muito simples, como arrumar cadeiras e distribuir panfletos somos sinal do amor de Cristo para a vida deles.
Ana Lúcia de Souza

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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