Passos N.74, Julho 2006

EXPERIÊNCIA - Brasil / O Milagre da Hospitalidade

Na iminência de
um grande amor

por Paulo André Carvalho de Fontoura

RIO DE JANEIRO.

No último dia 17 de junho, Mar-
co Mazzi e Rosanna Serio estiveram no Rio de Janeiro. Essa foi a última escala da viagem que compreendeu uma série de encontros para a apresentação do livro O Milagre da Hospitalidade, além de contatos com obras do Movimento, em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. A estada dos dois na cidade, embora breve foi bastante intensa, tendo se iniciado com uma visita à imagem do Cristo Redentor, no Corcovado.
Em seguida, participaram de almoço com 15 casais de adultos de CL, quando estes puderam dirigir-lhes perguntas sobre a experiência pessoal de ambos e conhecer mais a fundo a iniciativa desenvolvida pela Associação Famílias para a Acolhida.
É que “para entender bem os fundamentos, os motivos últimos da capacidade de acolhida, não se deve pensar no pobre que se acolhe em casa, mas na esposa, no marido, ou no filho que cresce: se no relacionamento com eles esses fatores não afloram, é só porque tal relacionamento é vivido de forma obtusa, como coisa óbvia, e não nos apercebemos do que está acontecendo” (O Milagre da Hospitalidade, pp. 15-16).
Isto é, a primeira acolhida dá-se, não ao “estranho” que chega pela primeira vez e até então não era conhecido, nem ao pobre em suas necessidades mais prementes, mas àquele mais próximo, com quem se divide a vida e que faz parte do convívio mais imediato da pessoa. Enfim, a acolhida consiste, em essência, e se expressa, antes de tudo, na capacidade de acolher a realidade que está à sua volta.
Capacidade que requer o “perdão da diversidade”, a consciência de que o outro é diferente, abraçando-o e amando-o tal como é, gratuitamente, porém que não é fruto do esforço ou do mérito humanos, mas provém de Deus, que, em Sua infinita misericórdia, é Aquele que primeiro nos acolheu e acolhe.
Somos capazes de acolher, portanto, porque temos um Pai: o Pai celeste. E também um pai na terra, mediante o qual Deus se manifesta e nos alcança concretamente.
Na experiência pessoal de Marco Mazzi e de Rosanna Serio, este pai é Dom Giussani, que lhes ensinou que a realidade é positiva. Graças à sua paternidade na fé, foi e é possível esta experiência de grande liberdade: acolher em suas próprias casas e responder ao chamado de desenvolver o trabalho da Associação.
A visita destes dois amigos culminou, na noite do mesmo dia 17 de junho, com a apresentação pública do livro O Milagre da Hospitalidade. Ali, Marco e Rosanna destacaram, ainda, que a primeira característica da família cristã é a acolhida, “única modalidade de um relacionamento humanamente digno, porque somente nela a pessoa é exatamente pessoa, ou seja, relação com o Infinito”.
Nesse sentido, o conteúdo do acolhimento é a educação à gratuidade, na medida em que o homem participa de algo mais, é levado a reconhecer Algo maior do que ele; e o primeiro fruto da acolhida é a mudança da própria pessoa.
“Olhar para aquela criança que se adotou ou acolheu dentro de casa, permite que todos os dias façamos memória, de modo particular, de Cristo, como origem da vida e daquele gesto totalmente gratuito da nossa liberdade”, afirmou Rosanna Serio.
Por fim, Marco relata que a Associação Famílias para a Acolhida conta com seis mil famílias inscritas na Itália, sendo que 600 já fazem a experiência concreta da guarda provisória ou da adoção definitiva, ao passo que as demais aprofundam as razões do gesto e amadurecem o desejo de adesão, enquanto aguardam as providências legais necessárias ou a manifestação de circunstâncias concretas que imponham o pedido à liberdade da família. A grandeza do gesto é que não parte de um voluntarismo, mas se manifesta como resposta à realidade que se apresenta.
Para todos os que participaram do lançamento do livro e, principalmente, para os 15 casais que se encontraram com os amigos da Associação Famílias para a Acolhida aumentou a certeza de que a abertura à possibilidade de se tornarem famílias acolhedoras deve-se ao fato de serem acolhidos cotidianamente por Aquele que os amou primeiro.