Passos N.72, Maio 2006

IGREJA

As tuas breves respostas

por Laura Cioni

Maria e a Samaritana. O sim da Mãe de Jesus ao anjo e junto à cruz. A partir daquele sim, o homem e a Igreja foram gerados. Trechos de Efrem, o Sírio, e de São Bernardo

Se hoje se observa, também devido aos tempos difíceis, a urgência de voltar às origens da fé, poucas coisas são mais fecundas do que examinar o estreito relacionamento que liga Maria à Igreja. A teologia o fez no curso da história, em documentos escritos por nomes como Clemente Alexandrino, Ambrosio, Agostinho, Cesário de Arles, Bernardo de Chiaravale, Isacc della Stella, Lutero, Roberto Bellarmino, Cardeal Newman, De Lubac e um elenco interminável.
A contribuição de Efrem, o Sírio, um teólogo do século IV que gostava de se exprimir poeticamente, foi singular. Ele escreveu, relacionando Maria e a Samaritana:

Em ti, mulher, eu vislumbro
Um prodígio grande como o que há em Maria!
De fato, ela, de seu seio,
deu à luz, em Belém, o seu corpo, como um menino,
mas tu, pela tua boca, o tornou manifesto
como um adulto, em Sichem, cidade da casa de teu pai.
Bendita sejas tu, mulher, que deu à luz, de tua boca,
a Luz, para aqueles que estavam nas trevas.
Maria, a terra sedenta, em Nazaré,
concebeu o Senhor nosso através de seu ouvido.
Mas também tu, mulher sedenta de água,
concebeste o Filho, através do seu escutar.
Benditos são os teus ouvidos que beberam na fonte,
e que deram de beber ao mundo.
Maria o depôs em uma manjedoura,
tu, no entanto, nos ouvidos dos que ouvem.

Maria, figura da Igreja, a samaritana, figura da Igreja: com efeito, João narra o encontro de Jesus com a samaritana ao meio-dia, hora insólita para tirar água, e observa que Jesus estava cansado e sozinho, enquanto seus discípulos tinham ido à cidade procurar alimento. Como não pensar no cansaço e na solidão de Jesus na cruz, ao meio-dia? Como não ver na mulher a figura da humanidade perdida, que se tornou mãe dos crentes, imagem da Igreja, como Maria que, em Canaã, fez com que a água se transformasse no vinho da nova criação? Neste trecho fala-se muito sobre água e sobre o alimento que nós não conhecemos, que é fazer a vontade do Pai: porventura não é símbolo da Eucaristia e da obediência de Jesus, oferecida no Horto das Oliveiras? O Senhor olha os campos prontos para a colheita e pensa na conclusão de sua obra, a salvação do mundo: a ela associa a mulher; a samaritana junto ao poço de Jacó, um buraco na terra, e sua mãe Maria, junto à cruz, que também se erguia de um buraco na terra.

Princípio da salvação
O princípio feminino da salvação é reforçado, como afirma São Bernardo em um admirável comentário sobre a Anunciação:

Fomos todos feitos no Verbo eterno de Deus e, no entanto, morremos; na tua breve resposta podemos ser recriados para ser chamados à vida. Esta resposta, ó Virgem Misericordiosa, te pede suplicante Adão, que chora, exilado do Paraíso com a sua descendência infeliz. Esta resposta, a pede Abrão, Davi, a solicitam os outros santos pais, os teus pais, que também moram na escura região da morte. O mundo inteiro espera essa resposta. Ó Virgem, dá logo a tua resposta. O mesmo Rei e Senhor de todas as coisas que tanto desejou a tua beleza, também deseja o teu consentimento, por meio do qual quis salvar o mundo. Responde o mais rápido possível ao anjo e, por ele, ao Senhor.

Necessidade de testemunhas
E Maria disse sim, naquele momento e na hora da morte de Jesus. Von Balthasar diz que o sim de Maria aos pés da cruz é o fato crucial do qual nasce a Igreja. Por isso, a partir do sim de Maria, nós todos somos gerados, a partir do nosso pequeno sim, a igreja se dilata, sem necessidade de projetos e de visibilidade. Dilata-se aos nossos olhos porque nos torna mais contentes, aos olhos dos outros porque os atrai à alegria, aos olhos de Deus porque a alegria do homem é exatamente o motivo do único plano pastoral eficaz, o do Pai.
Isso não significa, evidentemente, que as diretivas sejam supérfluas e que as iniciativas para tornar mais eficaz a obra da fé sejam estéreis mas, apenas, que não se deve colocar nelas toda a própria esperança. Não se trata de se confiar a uma espontaneidade repleta de sentimento ou de uma aura vagamente mística para superar a aridez dos discursos e das prescrições, mas de invocar a mudança de si àquele que está em condições de operá-la transformando a criatura em uma contagiante testemunha do bem. Porque o mundo de hoje precisa mais de testemunhas que de professores (de doutrina e de moral) e, já foi amplamente dito, de vozes que se façam respeitar.