Transcrevemos aqui trechos da colocação feita no Congresso por Dom Miguel Irizar Campos, Bispo de Callao, Peru e responsável no CELAM pelo acompanhamento dos Movimentos e Realidades Eclesiais.
Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do fim do milênio”, afirmou o Papa João Paulo II aos milhares de membros dos movimentos que lotaram a Praça de São Pedro na tarde da Vigília de Pentecostes, em 30 de maio de 1998.
O que os movimentos eclesiais significam para nós
Creio que aqui necessitamos – como diria Sua Santidade João Paulo II – de um olhar que nasce do coração para entender e acolher aos novos movimentos eclesiais e comunidades que floresceram na Igreja depois do Concilio Vaticano II, como novas formas de vida associativa que o Espírito Santo suscitou nos últimos tempos.
Este florescimento realmente fecundo não foi um fato humanamente planificado. Aconteceu de maneira inesperada e, sobretudo, espontânea. Certamente não é um fenômeno uniforme, mas plural e diversificado.
Na sua mensagem aos participantes do Seminário “Movimentos eclesiais e novas comunidades na solicitude pastoral dos Bispos” de junho de 1999, Sua Santidade João Paulo II nos recorda que “sua novidade inesperada, às vezes surpreendente, [...] suscitou interrogações, mal-estares e tensões; algumas vezes implicou em presunções e intemperanças, por um lado; e não poucos preconceitos e reservas por outro”.
Nos convidava a todos, pastores e fiéis leigos dos movimentos, a caminhar rumo a uma nova etapa, procurando a “maturidade eclesial”.
“Este itinerário exige dos movimentos uma comunicação sempre mais forte com os pastores que deus escolheu e consagrou para reunir e santificar a seu povo à luz da fé, da esperança e da caridade, porque nenhum carisma dispensa da relação e da submissão aos pastores da Igreja”. Cabe aos movimentos compartilhar, no âmbito da comunhão e da missão das igrejas locais, suas riquezas carismáticas, de modo humilde e generoso.
A nós Bispos e pastores da Igreja, Sua Santidade João Paulo II pedia, como uma de nossas principais tarefas “abrir os olhos do coração e a mente para reconhecer as múltiplas formas de presença do Espírito na Igreja, valorizá-las e levá-las à unidade, verdade e caridade”.
Chaves de interpretação
Creio que é chave para nossa reflexão sobre os movimentos o discurso de João Paulo II no Encontro dos movimentos eclesiais e as novas comunidades, na celebração de Pentecostes de 1998.
Lá, nos ofereceu uma síntese formosa e precisa de seu ensinamento sobre os novos movimentos eclesiais e seu lugar na Igreja e o fez colocando como grande marco de toda a ação vivificadora do Espírito Santo. Podemos resumir seu gesto e suas palavras da seguinte forma:
1) Uma confirmação e um exigente encorajamento. O Papa confirmou a figura e o valor dos movimentos eclesiais. Como sucessor do Apóstolo Pedro, e fundamento visível da unidade do povo de Deus, confirmou os movimentos eclesiais na comunhão de toda a Igreja. Porém, ao mesmo tempo, os encorajou a responder ao dom recebido, a ser fiéis à fé da Igreja, desenvolvendo o carisma que se lhes foi confiado e colocando-o a serviço da missão da Igreja.
2) Convite à fidelidade e à maturidade no serviço à missão da Igreja. Com palavras claras e exigentes coloca as características do que é uma autêntica experiência eclesial, com abertura ao Espírito e em função da missão da Igreja. Recorda como condição para a fecundidade a fidelidade ao convite do Espírito Santo, que é fidelidade à graça batismal e seus desdobramentos.
Em sua Mensagem a este encontro dos movimentos, João Paulo II diz que: “Os movimentos se caracterizam por ter uma consciência em comum da novidade que a graça do batismo traz à vida, pelo desejo singular de aprofundar o mistério da comunhão com Cristo e com os irmãos, e pela firme fidelidade ao patrimônio da fé transmitido pela corrente viva da tradição. Isto produz um renovado impulso missionário, que leva a encontra-se com os homens e mulheres de nossa época nas situações concretas em que encontram, e a contemplar com um olhar transbordante de amor a dignidade, as necessidades e o destino de cada um”.
Carisma e instituição
Como afirmou o Cardeal Ratzinger, em sua conferência no Congresso Mundial dos movimentos eclesiais: “não nos dá uma resposta satisfatória o esquema Instituição-carisma, já que a contraposição dualista destes aspectos é insuficiente para descrever a realidade da Igreja”.
No mesmo congresso, João Paulo II afirmou: “em várias ocasiões sublinhei que não existe contraste ou contraposição na Igreja entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual os movimentos são uma expressão significativa... Os aspectos Institucional e Carismático são quase co-essenciais na constituição da Igreja e concorrem, ainda que de modo diverso, para sua vida, sua renovação e a santificação do povo de Deus”.
Discípulos e missionários de Jesus Cristo
Na encíclica Redemptoris Misio, João Paulo II chega a afirmar que: “Os movimentos eclesiais representam um verdadeiro dom de deus para a nova evangelização e para a atividade missionária propriamente dita... recomendo difundir-los e valer-se deles para dar novo vigor, sobretudo entre os jovens, à vida cristã e à evangelização, com uma visão pluralista dos modos de associar-se e expressar-se” (RMi, 72).
Se o discípulo encontra a Cristo na comunidade, como os apóstolos na comunidade de Jesus, os novos discípulos de hoje encontraram Jesus cristo nos movimentos eclesiais e nas novas comunidades que o Espírito suscitou com carismas diversos, reconhecidos pela Igreja. Nos perguntamos então: Por que não considerá-los como instrumentos providenciais no momento presente que vive nossa Igreja latino-americana e do Caribe? Sua força evangelizadora e missionária no interior de nossas igrejas particulares e sua disponibilidade para o envio para a missão universal não lhes parece um dom especial do Senhor?
Aos Bispos nos toca particularmente acolher com afeto paternal essas novas realidades eclesiais com o devido discernimento, como nos exortou Sua Santidade João Paulo II. Aos movimentos e novas comunidades cabe oferecer com humildade seus carismas e seus talentos ao serviço das igrejas particulares.
Nós, Bispos e padres, devemos convocá-los e levá-los até a plena comunhão eclesial, em diálogo permanente com os responsáveis dos movimentos em nossas igrejas particulares. Queremos especialmente acolher essa potencialidade dos movimentos e novas comunidades: sua escuta da Palavra, a formação permanente como discípulos de Cristo, a riqueza e vitalidade de sua Eucaristia e, sobretudo, sua própria realidade como comunidades eclesiais vivas e missionárias.
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