De secretário de Togliatti, do partido comunista italiano, a católico convicto. Findas as ideologias, hoje elas têm faces diferentes. “A Igreja é liberdade; sem ela ou contra ela, não há vida”
Massimo Caprara, durante 20 anos foi secretário de Palmiro Togliatti, presidente do partido comunista italiano, e jornalista co-fundador de Il Manifesto. Depois descobriu a Igreja e a fé, numa caminhada que relatou ao jornalista Roberto Fontolan, num belíssimo diálogo que veio a público no ano passado no livro Riscoprirsi Uomo (Redescobri-se Homem, da editora Marietti, não disponível em português; nde). Filho de uma época em que o cristianismo esteve ameaçado, ele é uma testemunha privilegiada de um tempo em que ainda é necessário explicar por que a Igreja é tão necessária.
No livro Por que a Igreja, Dom Giussani escreve: “A função da Igreja, na história, é chamar para a realidade das coisas. (...) A Igreja indica a melhor posição para se enfrentar os problemas humanos: não tem como missão direta fornecer ao homem a solução dos problemas que ele encontra em sua caminhada; a sua função na história é educar para o senso religioso da humanidade”. Como interpretar essa indicação, na nossa época?
O que me parece é que a Igreja olha com preocupada objetividade o desenrolar das coisas na Europa e no mundo, expressando legitimamente advertências ou simples apreensões quando a doutrina e a fé o sugerem e a presença ativa e atuante da tradição o exige. Pessoalmente, acho que essas intervenções fazem parte do zeloso cuidado da Igreja com a saúde espiritual do país e com o seu equilíbrio orgânico entre mundanidade e liberdade. São vigilantes suportes à inteligência criadora do homem, zelo pela sua humanidade. Não se trata de ingerência indevida!
Mudou o papel da Igreja no curso das últimas décadas?
Acho que a Igreja viu robustecida a sua função, intervindo na defesa de experiências imutáveis no tempo, libertando-se da defesa oitocentista dos poderes temporais, assumindo uma função incentivadora da paz, frente aos Estados e nações. Em especial o Papa João Paulo II foi um grande defensor da paz e contribuiu para derrubar as ideologias por um contínuo apelo à realidade, à verdade e à dignidade de todo homem. Foi o maior exemplo de que é possível vencer as batalhas sem declarar guerra, reconhecendo o homem como o centro da vida.
Mas já estamos livres das ideologias?
Não, a batalha está longe de ter sido vencida. As ideologias, hoje, são escombros de ideologias falidas, mas são mais totalitárias, porque aparentemente libertárias. Por isso, o zelo pela vida é a ajuda que o Papa dá contra o vazio da ideologia e do seu predomínio cultural, como já indicava o Concílio Vaticano II, há 40 anos.
A experiência totalitária do século passado sempre tentou tirar da Igreja a liberdade de expressão, reduzindo-a ao silêncio. Segundo a sua experiência específica, o que fará falta a uma sociedade se a Igreja for negada e violada?
Quando uma sociedade nega a liberdade de expressão, todo o quadro histórico-social sofre e retrocede, caem vítimas inocentes, perdem-se valores e as instituições próprias da democracia e da vida. A Igreja é liberdade, como escrevia Santo Ambrósio. Sem ela ou contra ela, não há vida, o homem torna-se impotente contra o desespero, fica desprovido de esperança. O homo viator encontra na Igreja a sua plenitude e, na liberdade, a busca do melhor. Quando o Papa pede mais liberdade, pede-a para todos, não só para os cristãos.
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