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Passos N.68, Dezembro 2005

DESTAQUE / BRASIL

A bioética e a experiência elementar

por Dalton Luiz de Paula Ramos *

Para meu trabalho acadêmico na área de bioética foi extremamente representativo o resgate do senso da pessoa em sua totalidade que a obra de Dom Giussani nos oferece. Este resgate da totalidade se torna possível quando a experiência elementar se torna um paradigma para enfrentar os problemas básicos da saúde e da vida. Dom Giussani nos mostrou que a pessoa é movida por este “coração”, esta natureza íntima, onde ela é desejo de felicidade, de beleza, de realização – que ele chamou de “experiência elementar”. Quando olhamos para o outro a partir da consciência desta experiência, quando percebemos que ela é comum a todos nós, temos a capacidade de acolhê-lo na totalidade de seus fatores constitutivos e de realizarmos uma reflexão ética sobre a vida que busca o sentido e a felicidade para todos.
Contudo, é obrigatório que esta reflexão passe pela experiência concreta de encontro com o outro. Se isto não se torna concreto, palpável, a reflexão se torna abstrata e ideológica, e a pessoa é mais uma vez substituída por um esquema determinado por quem tem o poder. Vi isto tanto na relação entre profissional da saúde e paciente quanto na relação entre pesquisador e sujeito da pesquisa. Não se pode compreender e vivenciar estas relações sem uma base antropológica adequada, sem uma reflexão sobre a experiência concreta de ser pessoa. Nos tempos de hoje, pode parecer um absurdo falar de uma reflexão que nasce da experiência de ser pessoa. Mas isto é o personalismo, a grande corrente de pensamento que – sem ser exclusiva dos católicos – orienta a reflexão bioética e a doutrina social da Igreja.

* Professor livre-docente de Bioética na USP, assessor da CNBB para questões bioéticas, membro da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e da Pontifícia Academia Pró-Vita, Vaticano.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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