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Passos N.68, Dezembro 2005

EXPERIÊNCIA / HISTÓRIAS - ÁFRICA

Do continente negro,
ajuda para a América

por Vanessa Akello

Para ajudar as vítimas do furacão Katrina ocorrido nos Estados Unidos, as mulheres do Acholi Quarter, em Uganda, quebraram pedras para arrecadar dinheiro; e os doentes terminais de Aids doaram seus próprios recursos ou suas orações

Pedras africanas
É uma luminosa manhã de quinta-feira e nos dirigimos a Acholi Quarter, na favela de Kireka, em Kampala (capital de Uganda). Tomando uma estrada secundária, encontramos mulheres, jovens e anciãs, quebrando pedras; algumas carregam os filhos pequenos nas costas. Com o rosto triste e molhado de suor, as mulheres quebram ritmadamente as pedras maiores, transformando-as em pedaços pequenos, que depois serão vendidas aos empresários da construção. Quando nos aproximamos e as saudamos, as marteladas cessam e imediatamente um sorriso ilumina seus rostos. Em seguida, notamos que há também homens no fundo da jazida, tentando arrancar blocos da rocha.
Nossa visita a essa colina tem o objetivo de presenciar o lançamento de uma campanha em que pedras serão quebradas em favor das vítimas do furacão Katrina, na América. O dinheiro recolhido graças a esse duro trabalho será destinado às vítimas do Katrina, em especial às famílias desabrigadas da Louisiana (Baton Rouge e Laplace) e do Texas (Houston), para ajudá-las em suas necessidades primárias: casa, trabalho, assistência médica e escolar.
Compareceram à cerimônia o representante da Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (Avsi) em Uganda, doutor Filippo Ciantia, a consultora da Agência americana para o desenvolvimento internacional (Usaid) para o HIV/Aids, Amy Cunningham, e alguns amigos do Meeting Point International.
“Fiquei comovida com o vosso presente, com a vossa simplicidade e com o vosso coração”, disse Amy Cunningham, dirigindo-se ao povo de Kireka. “É comovente ver que pessoas que vivem fora dos Estados Unidos preocupam-se com a América.”
Dirigindo-se ao povo de Acholi, o doutor Ciantia agradece dizendo: “Como as pessoas desabrigadas pelo Katrina, também vocês foram dispersados pela guerra no norte de Uganda. No entanto, isso não os impediu de ajudar outras pessoas em dificuldade”.
A Avsi está recolhendo fundos, em resposta ao apelo do papa Bento XVI em favor dos que foram atingidos pelo furacão Katrina em Nova Orleans e no Mississipi.
No conjunto, o modo mais significativo de reagir como seres humanos frente a catástrofes como o Katrina, ou como o terremoto no Paquistão, é resumido nas palavras de uma mulher chamada Betty: “Não tenho nada, e aquilo que posso dar é uma gotinha. Mas, junto com outras, elas podem encher uma xícara”.

Testemunhos

Estou agradecida por esta ocasião, que me é dada, de poder lhes escrever. Sou uma voluntária do Meeting Point International. Fiquei triste com a notícia do furacão Katrina e do sofrimento que ele causou na cidade onde vocês moram. Minha decisão de ajudá-los – a vocês que perderam tudo – é um modo de estar junto com vocês nesta hora dura. Também rezo para que Deus fortifique os seus corações neste momento difícil e esteja com vocês. Rezo também para que Deus toque o coração de muitas outras pessoas e as induza a ajudar, mesmo não conhecendo vocês. Como alguém que sabe o que é sofrer, gostaria que soubessem que estou com todos vocês, sobretudo por meio da oração. Obrigado,
Aber Margaret

Saúdo a todos vocês, meus amigos da América. Fiquei sabendo da notícia do furacão Katrina, que me deixou muito triste, pela devastação que provocou na vida de vocês. Mando-lhes meu pequeno presente, como sinal das “minhas lágrimas”, da minha dor pelo que aconteceu com vocês. Identifico-me com vocês, porque sei o que significa sofrer. Tenho Aids e sei que poderei morrer a qualquer momento; no entanto, não tenho medo porque sei que alguém cuidará dos meus filhos. Mesmo agora, enquanto lhes escrevo, pessoas que nem me conhecem estão mantendo as minhas crianças na escola (por meio das adoções à distância da Avsi; nde). Assim, entrego também a vocês um pouco do amor que me foi dado. Meu presente é um sinal daquele amor que me foi doado por pessoas que sequer me conheciam. Então, a maior coisa que existe neste mundo, maior até do que o sofrimento ou a doença, é o amor recíproco.Obrigado,,
Akullu Margaret


Caros amigos americanos, o que me levou a contribuir com vocês, que estão longe, na América, foi o fato de também não conhecer as pessoas que me ajudaram (beneficiária de um projeto de combate à Aids, apoiado pelo governo americano; nde). Sou soropositiva, tenho Aids. Aprendi que aqueles que me ajudam sequer me conhecem, e eu não poderia esperar ter bastante dinheiro para também começar a doar. Se hoje tenho 200 xelins, então devo ajudar agora. Alguém que eu não conheço demonstrou amor por mim, e por isso decidi começar hoje a compartilhar com vocês esse amor, através da minha contribuição, que é uma gota d’água, a ser somada a outras gotas. Vocês são meus irmãos e irmãs e por isso dividimos os problemas, mas a coisa mais importante é partilhar o amor. Obrigada,
Betty Mukatijeli

Rezo por vocês, amigos, e gostaria de repartir os problemas que os afligem. Mais importante: gostaria de partilhar com vocês o amor que aprendi. Tenho muitos problemas: estou doente de Aids e posso morrer logo, mas sei que pessoas que eu sequer conheço poderão tomar conta dos meus filhos (são os amigos do Meeting Point; nde), como já cuidam de mim agora. Vivo graças a esse amor. Agora, gostaria de dividir esse amor com vocês. Aqui há pessoas que pertencem a tribos diversas, mas são pessoas que se preocupam umas com as outras, melhor do que fazemos dentro da nossa tribo. Aprendemos a amar assim e a minha contribuição é uma demonstração disso. Gostaria de estar em Nova Orleans, para poder viver junto com vocês, na minha pequena cabana, e dividir com vocês o nosso alimento. Mas, embora distantes, continuaremos a rezar por vocês e a pensar nos seus problemas. Obrigada,
Flavia Kizito

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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