Passos N.68, Dezembro 2005

EXPERIÊNCIA / HISTÓRIAS - ÁFRICA

Coleta dominical

por Filippo Ciancia*

Domingo, 15 de outubro, durante as missas nas igrejas católicas da arquidiocese de Gulu, as ofertas dos fiéis foram dedicadas às vítimas do furacão. Há duas semanas, Charles Kilama, Luisa Carugati e o irmão Croce tiveram uma reunião com o arcebispo Odama e apresentaram o projeto da “Iniciativa”. Dom Odama mostrou muito interesse pelo projeto e decidiu dedicar, por duas semanas consecutivas, a coleta dominical das missas de toda a arquidiocese para as vítimas da calamidade.
A arquidiocese de Gulu compreende o Acholiland, ou seja, os distritos de Gulu, Kitgum e Pader. A área foi atingida por um conflito que já dura vinte anos, e dispersou 90% da população para as favelas. Mais de um milhão de pessoas vivem em 105 favelas, em péssimas condições. Essas pessoas estão oferecendo sua pequena contribuição para as vítimas do Katrina! E o farão de novo no próximo domingo.
Habitantes locais e a equipe da Avsi já recolheram mais de 350 mil xelins ugandeses. Na semana passada, em Kampala, houve um acontecimento extraordinário. Na favela de Kireka, no chamado “Acholi Quarter”, um funcionário da Usaid em Uganda, em nome do embaixador americano, presenciou o momento em que me foi entregue 1,6 milhão de xelins. As mulheres, pertencentes à organização Meeting Point International, composta por membros da comunidade local, dirigida por Rose Busingye, coletaram esses fundos. O povo da região é muito pobre. O índice de pessoas atingidas pela Aids é grande
e elas vivem em condições extremamente precárias. Ganham a vida quebrando pedras numa jazida. Essas mulheres ofereceram parte do ganho de seu trabalho às vítimas do Katrina.
Kizito Omala veio ao meu escritório junto com dois alunos; representavam as três classes do último ano. Entregaram-me 19.200 xelins e cartas de solidariedade para as vítimas do Katrina, especialmente para os jovens. Já coletamos cerca de 2.500 dólares!
Todavia, o resultado mais extraordinário foi a reação do povo simples, pessoas que foram obrigadas a abandonar as suas moradias, pessoas que vivem com a Aids, e jovens estudantes. Ao mesmo tempo, fiquei impressionado com o testemunho de Tibo, Kizito, Samuel e outros, que levaram adiante a Iniciativa e a transformaram numa extraordinária oportunidade de encontro e de educação para a solidariedade, para a atenção com os outros.

* Responsável da Avsi em Uganda