Há vinte anos nascia a companhia de missionários guiada por padre Massimo Camisasca. Em Roma, no último dia 17 de setembro, o Cardeal Ruini celebrou uma missa de ação de graças. A seguir, trechos da homilia
Estou muito feliz por estar aqui com vocês esta noite para esta missa de ação de graças pelo dom da Fraternidade São Carlos, no vigésimo aniversário de sua fundação. Meu primeiro pensamento é para o Santo Padre Bento XVI que sempre os seguiu de perto com grande afeto. (...)
Antes de mais nada, quero agradecer ao Senhor pelo laço de amizade que já há muitos anos me liga a padre Massimo Camisasca. É a ele, de fato, que se deve o nascimento e o crescimento da vossa obra singular. Ele foi amadurecendo dentro de si a convicção cada vez mais clara de que o Senhor o chamava a constituir um novo Instituto dentro da Igreja, a fim de poder responder com mais eficácia ao premente convite de João Paulo II voltado aos membros de Comunhão e Libertação, em 1984: “Ide pelo mundo inteiro levando a verdade, a beleza e a paz que se encontram em Cristo Redentor”. Pelas palavras do grande Papa, há pouco desaparecido, padre Massimo sentiu ecoar o chamado do Senhor: “Ide também vós para a minha vinha”. (...)
Tudo a partir de uma amizade
Tudo aquilo pelo qual agradecemos hoje ao Senhor não teria sido nem mesmo imaginável sem Dom Giussani. Pelo dom da sua pessoa vai, mais uma vez, toda a nossa gratidão a Deus. A Fraternidade São Carlos nasceu da amizade de Dom Giussani com padre Massimo. Ela deve a Dom Giussani não só o seu carisma, mas também a sua impostação pedagógica e a paixão comunicativa que anima a missão de seus membros. Ela deve a Dom Giussani uma companhia paterna que o sacerdote lombardo, fundador de Comunhão e Libertação, sempre garantiu pessoalmente; uma companhia que assumiu, nas diversas ocasiões, a forma da proximidade, do sustento, do impulso em direção ao futuro. (...) Ele percebeu imediatamente, naquela pequena realidade nascida em 1985, algo de importante, não somente para a vida do Movimento fundado por ele, mas também para a missão da Igreja. O herdeiro desta tarefa é, hoje, padre Julián Carrón, seu sucessor à frente da Fraternidade de CL, que concelebra conosco esta Eucaristia e a quem saúdo com simpatia e afeição. (...)
A primeira casa no Brasil
“Ide também vós para a minha vinha”. Estas palavras, tiradas do Evangelho de Mateus, que acabamos de escutar, ressoaram muitas vezes nos nossos ouvidos.
O primeiro padre da Fraternidade foi enviado, em 1989, ao Brasil. Depois surgiram pontos de presença na Irlanda, na França, nos Estados Unidos e na Sibéria. Esta última missão, iniciada em 1990 e ainda em curso, teve dentro da breve história da Fraternidade uma função paradigmática. Os padres da Fraternidade, no ano seguinte à queda do muro de Berlim, dedicaram-se particularmente à recuperação da comunidade católica de origem alemã dispersa naquele grande mar de neve que separa por centenas de quilômetros os vilarejos da região ao sul de Novosibirsk. Posso testemunhar que João Paulo II seguiu com interesse os primeiros passos dados naquela região pelos padres guiados por padre Massimo. Depois, nos anos seguintes, nasceram outras casas: na Alemanha, na Áustria, na Espanha, em Portugal e, depois, na América Latina, na América do Sul e na África. A Diocese de Roma também foi beneficiada pelos anos de serviço que vocês prestaram em duas paróquias dedicadas à Mãe do Senhor, Nossa Senhora do Rosário da Pompéia, em Magliana, e Santa Maria, em Dominica, Navicella. Sou pessoal e profundamente grato a vocês por este serviço. Mais recentemente, a Fraternidade voltou sua atenção ao leste europeu abrindo casas em Praga, Budapeste e Moscou. Também à Ásia, a Fraternidade dedicou um interesse particular, mais uma vez seguindo uma sugestão de João Paulo II: a casa de Taipei significa, hoje, devido à vossa realidade jovem, uma possibilidade de conversão deste grande continente ao amor a Cristo.
Mas como é possível ir tão longe sem perder aquela paixão que fez São Paulo escrever: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro”, como ouvimos na segunda leitura? A resposta dada pela Fraternidade a esta pergunta é abrigada e tornada concreta pela realidade das casas, descrita pela vossa Constituição e vivida por vocês, seus membros. Só é possível inclinar-se como pastores, mestres e amigos sobre as misérias dos homens para levar-lhes a proximidade e o conforto de Cristo se se faz a experiência em primeira pessoa desta proximidade e deste conforto. Seus fraternos são, para vocês, o primeiro sinal da proximidade de Jesus. Na comunhão com eles vocês reencontram continuamente a força, a coragem e a energia para ir de encontro às necessidades do homem. A casa é, para vocês, o lugar onde, no silêncio e na ordem, é facilitada a oração. Esta oração, que é relacionamento pessoal com Cristo, é a alma de toda paixão apostólica.
Experiência de Comunhão
Quero, hoje, com gratidão, chamar a atenção de todos para esta expe-riência de educação à vida em comunidade, ao sacerdócio e à missão. O seminário da Fraternidade São Carlos é o início de uma experiência que seus missionários vivem, depois, nas casas das missões. Certamente, a formação filosófica e teológica tem seu peso relevante. Mas, mais importante ainda, é esta experiência de comunhão num lugar onde Cristo redime a pessoa para poder, depois, enviá-la como um instrumento dócil à sua vontade. Em tudo isso, a graça particular que os seminaristas e os padres da Fraternidade São Carlos estão vivendo, é a da convivência com seus fundadores. Padre Massimo desenvolveu, durante estes anos, um trabalho cotidiano, que permanece oculto à maioria, de uma companhia paterna a muitas gerações de seminaristas. Ele foi a fundo naquele “desafio da paternidade” – que dá também o título a um dos textos – pelo qual ele acolheu e ofereceu à Igreja esta experiência significativa.
Não poderia haver formação de seminaristas e padres, não poderia existir educação dos jovens, não poderia existir renascimento de um povo cristão sem esta experiência fundamental: o relacionamento direto e vivo dos seminaristas e dos padres com seus superiores e seus formadores; relacionamento de amizade e, ao mesmo tempo, de paternidade recebida.
“Ide também vós para a minha vinha”: mediante a Eucaristia que nos preparamos para celebrar, queremos pedir ao Senhor que muitos jovens aceitem seu convite unindo-se a vocês e à vossa obra com paixão, inteligência e santidade. Confiemos este desejo a São José e São Carlos para que continuem a lhes proteger com suas mãos paternas. Que a Santa Mãe de Deus seja luz em vosso caminho. Amém.
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A Fraternidade sacerdotal dos missionários de São Carlos Borromeu
nasceu em setembro de 1985, no seio de Comunhão e Libertação, como Associação Sacerdotal. Encorajados por Dom Giussani, os jovens sacerdotes que lhe deram vida desejavam se sustentar reciprocamente na estrada da vocação em comum e, idealmente, responder ao convite de João Paulo II de ir a todo o mundo, como foi dito ao Movimento na audiência por ocasião dos 30 anos de CL (29 de setembro de 1984). Assim nasceu uma Fraternidade missionária, que, em 1989, foi reconhecida como Sociedade de Vida Apostólica, pelo cardeal Ugo Poletti. “Fraternidade” e “Missão” são as palavras programáticas dessa jovem comunidade: servir aos homens com a disponibilidade para ir aonde as necessidades da Igreja e a vida do Movimento pedem a presença de sacerdotes; portanto, em todo o mundo, a experiência de CL “por uma energia missionária sacerdotal”, como escreveu o fundador, padre Massimo Camisasca. Além da Itália, a Fraternidade São Carlos está presente em outros 14 países. As principais atividades dos sacerdotes dizem respeito à vida das paróquias que lhes são confiadas e ao ensino, seja nas escolas médias, seja nas universidades. Maiores informações no site da Associação: www.fscb.org
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón