Um dia marcado por dois grandes encontros com padre Carrón. Testemunhos de como a sua paternidade tem ajudado a guiar o caminho de muitos amigos e, como este seguimento tem gerado homens verdadeiros. Vidas mudadas por uma amizade que não se explica, "senão por Deus"
Em fevereiro deste ano, padre Carrón, em visita ao Brasil, fez um grande encontro público no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, onde ouviu o testemunho de alguns jovens da Associação dos Trabalhadores Sem-Terra. Após aquele evento, em um diálogo com Cleuza e Marcos Zerbini, ele fez uma nova provocação: “Devemos ajudar estes jovens a fazer um caminho educativo”. Provocação aceita! Cleuza e Marcos, junto com alguns amigos, repensaram o modo como até então faziam as reuniões da Associação e decidiram começar todos os encontros mensais com uma assembleia de perguntas ou testemunhos e, em seguida, a apresentação do novo texto e uma pergunta final que provocasse esse trabalho pessoal. Assim, mensalmente é preparado um folheto com as colocações mais recentes de Carrón e, assim, o que se viu foi um espetáculo de beleza, pois muitos aderiram à proposta. A cada encontro o que se relata é o trabalho de quem começou a comparar tudo com as exigências do coração, a se questionar sobre o modo de trabalhar e estudar ou viver os relacionamentos. Em alguns adultos também nasceu o desejo de receber os sacramentos e, no dia 9 de julho, o Cardeal de São Paulo, Dom Odilo Scherer, celebrou o batizado de nove jovens e em seguida a primeira comunhão e a crisma de trinta e dois membros da Associação. “A primeira turma de muitas outras que virão”, afirmava Cleuza naquele dia.
Neste caminho muitos encontros foram sendo realizados e muitas pessoas foram mudando. Por isso, na manhã de domingo do dia 13 de setembro, padre Carrón foi convidado a assistir um destes encontros com 3.000 jovens. O tema trabalhado no mês foi “a correspondência”. Após uma breve introdução de Marcos Zerbini os jovens começaram a contar o que viveram para responder à pergunta: “Qual experiência de correspondência você fez neste mês?”. A primeira jovem falou da experiência de se sentir amada pelo pai doente, que continua lutando e se sacrificando pela família; em seguida, a estudante de pedagogia falou de seu relacionamento com um menino autista: ele se acalma ouvindo algumas músicas e sorri para ela; outro jovem falou da situação de estar desempregado e do seu desejo de ser ativo, útil, desejando viver positivamente esta situação. Muitas mãos se levantavam, mas o tempo foi curto para todos os que queriam intervir. Natália, uma jovem evangélica da Igreja Metodista, contou sua história. Está terminando a faculdade e é grata por ter encontrado essas pessoas da Associação. Quando afirmou sua religião ninguém a olhou diferente: “Fui acolhida, amada e respeitada como nunca me senti em nenhum outro lugar. Nunca poderei retribuir o que eles fizeram por mim. Não só o desconto da faculdade, mas tudo o que eu aprendi como pessoa estando aqui, e sobre Deus”. Diante do seu testemunho Carrón afirmou: “Natália fez uma experiência. Veio, se relacionou com as pessoas da Associação, e viu que o modo como as pessoas a tratavam correspondia. Ela disse ‘eu nunca tinha me sentido tão acolhida e tão respeitada’. Chamou tanto a sua atenção a ponto de dizer ‘eu entendi que aqui está Deus’. Essa é a experiência cristã: eu não posso explicar uma coisa sem chegar a Deus. E é isso que corresponde, porque o desejo que temos no coração é infinito e por isso nada nos basta, nada nos satisfaz. Cristo veio ao mundo para que nós pudéssemos encontrar um homem com o qual nós disséssemos esse ‘sim’ que corresponde àquilo que eu desejo. E só quem pode reconhecer é quem usa o coração”.
UM POVO SEDENTO. Na tarde do mesmo domingo, 13 de setembro, foi realizado outro grande encontro em praça pública. Cinquenta mil pessoas lotavam o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Os olhares estavam voltados para um pequeno palco, muitas vezes montado ali para comícios políticos ou discursos de lutas sociais. Mas o que se ouviu naquela tarde foi a verdadeira revolução: o testemunho de vidas mudadas por um encontro verdadeiro. O encontro começou com um grande coro cantando Povera voce. A música foi sendo ensinada nos encontros da Associação nos últimos meses e estavam todos ali afirmando “a nossa voz canta com um porquê”. Estavam ali os membros da Associação que aceitaram o convite de Marcos e Cleuza para ver e ouvir este caro amigo que os ajuda a viver a vida com seriedade, além de membros de CL vindos de várias cidades do país. Ivone, uma das coordenadoras da Associação dos Trabalhadores Sem-Terra, foi a primeira a contar a sua história. Depois de 20 anos de luta, descobriu o verdadeiro sentido de suas ações e entendeu um pouco mais das ações de Deus em sua vida: “Em 1979 eu ganhei na loteria esportiva. Emprestei o dinheiro e nunca mais recebi de volta. Agora, depois do encontro com Comunhão e Libertação, entendo que se eu tivesse ido atrás daquele dinheiro eu teria comprado a minha casa e essa história não existiria. Foi por causa da minha necessidade que eu fui atrás da Associação e encontrei Marcos e Cleuza. Só em 1992 consegui comprar minha casa e hoje estou aqui. Vocês olham hoje para uma pessoa apaixonada por pertencer a este Movimento. Sou abraçada todos os dias e estou aqui muito feliz”. Camilo, de Aracaju, veio a São Paulo especialmente para este encontro. Contou a todos sobre a explosão de vida que lhe aconteceu após o encontro com Dom Giussani por meio da leitura de É possível viver assim?. Ele já era católico, mas foi algo tão verdadeiro que o fez procurar a comunidade mais próxima, em Salvador, e estas são as pessoas com quem hoje compartilha a vida. Por fim, padre Julián Carrón começou saudando a todos em português: “Estou feliz de reencontrar vocês neste lindo dia. Uma amizade verdadeira é compartilhar o caminho para o destino. Estou aqui como companheiro de caminhada”. E diante daquele povo, o que Carrón novamente quis comunicar foi a afirmação da beleza de ser cristãos: “O cristianismo é fácil como no primeiro dia. Basta encontrar alguém que nos ame assim, que nos respeite assim. Esse cristianismo é para todos. Por acaso vocês conhecem alguém que não deseje ser amado desta forma? Que não queira ser respeitado assim? Que não queira ter uma vida assim? E é por isso que nós somos cristãos. Nós não somos estúpidos. Somos gente que usa a razão e o coração. E sabemos muito bem reconhecer quem nos trata bem e quem brinca conosco. E, por isso, o seguimos, porque não queremos perdê-lo. (...) Somos amigos por isso: para poder participar desta vida”.
Muitos dos que estiveram no Vale do Anhangabaú nem conheciam o Movimento. Foram levados por amigos e familiares, curiosos para saber quem era o padre espanhol de quem Marcos e Cleuza tanto falam. No final do encontro, uma senhora, que foi junto com o marido, foi agradecer a coordenadora Miriam pelo convite: “Foi uma grande emoção conhecer padre Carrón. O que ele disse foi como um alimento para mim”. Ou Camilo, que afirmou: “Quero agradecer porque Dom Giussani me fez amar a Cristo concreto, que se manifesta em rostos amigos, e a Carrón que me ajuda a ser filho de Dom Giussani. Quando abracei Carrón pensei imediatamente na minha esposa e em como eu gostaria que ela estivesse abraçando ele comigo. Ele trouxe para minha vida uma bondade que eu gostaria que a minha mulher, que eu tanto amo, também vivesse”. É o cristianismo vivo, que continua movendo as pessoas hoje, como há dois mil anos.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón