Para a própria realização
A cada quinze dias, saio com um grupo de amigos de Copacabana para visitar o asilo de idosos do Caju, bairro distante 10 km do centro da cidade. Nem a distância, nem o calor, ou o corre-corre do fim de semana nos impede de ir a um encontro tão especial para bater um bom papo, por uma ou duas horas, com nossos amigos internos naquela instituição. Fazer esse gesto de caritativa não é um fardo a mais no final de semana, mas um momento de encontro com pessoas queridas e uma possibilidade de olhar para aquela Presença maior, que une a todos nós. Quem não se lembra da canção que diz: “ainda que eu falasse a língua dos anjos sem o amor eu nada seria”? Esta frase pode parecer gasta e vazia em um mundo de valores precários, como o de hoje. Mas isto só acontece se cada um de nós permitir. Na Escola de Comunidade que freqüento sempre encontro um ambiente encorajador para iniciativas de caritativa. Comecei as visitas no asilo há pouco mais de um ano e meio, aceitando o convite de uma colega de trabalho. Depois fui uma segunda vez, uma terceira, e estou com eles até hoje. Por quê? Porque preencheu uma exigência que eu trazia comigo de compartilhar algo de bom, gratuitamente, aos mais necessitados, e porque eu vi, na união daquele grupo de amigos, a beleza de algo maior que me chama para aprender a viver como Cristo. Conhecer o Movimento, ir às visitas e me dedicar a esta missão mudou minha percepção de vários aspectos do meu dia-a-dia, além do jeito de olhar para outras pessoas próximas a mim. É também um aprender que se renova a cada encontro.
Pedro Paulo, Rio de Janeiro – RJ
Classe de ferro
Caríssimo padre Carrón, sou um “jovem” da famosa classe de ferro de 1917, “renascido” para a fé em 1972, por graça de um encontro vital: Cristo se fez presente para mim, concretamente, por meio de uma companhia de pessoas que vivem a fé com toda a ternura do coração e de uma maneira verdadeiramente convincente: a companhia do carisma do nosso inesquecível Dom Giussani. Não “sinto” a dor de sua falta. Ele está sempre presente para mim por dois motivos: o carisma dele, que “sinto” cada vez mais convincente, e você, que para nós é tão querido e mestre quanto ele. No último dia 7 de julho fui em peregrinação a Assis. Durante a viagem conheci uma moça de Milão, com a qual nasceu uma profunda amizade, cimentada pela fé comum em Cristo Senhor. Eis sua resposta a uma carta minha: “Caríssimo, impres-sionou-me a beleza e a profundidade de sua carta, e esta sua ‘busca’ contínua, embora de maneira diferente, nos aproxima. Gostaria de ter o seu entusiasmo, nascido do encontro com pessoas espiritualmente ‘belíssimas’. Tem razão, quando diz que ‘renasceu’ no encontro com o Movimento e percebi o renascer dentro do grupo e nos momentos dedicados à celebração eucarística. ‘Invejo’ de maneira positiva o seu coração ‘jovem’, o seu modo de aproximar-se dos outros com entusiasmado, fruto de uma fé sempre viva, sempre profunda, sempre em busca. Por seu intermédio, compreendi como Deus pode agir maravilhosamente no coração e na vida do homem, de cada homem que se deixa arrastar pelo amor por Ele. Reacendeu em mim uma grande esperança, o desejo de ainda ter esperança no homem, apesar das torpezas do mundo, porque cada coração humano é bom, cada coração humano tem necessidade do Amor absoluto, um amor que apenas Deus pode dar-nos. Irene” . Estou cada vez mais consciente do imerecido, mas enorme dom deste “renascimento” e a cada dia suplico ao Senhor que me torne sempre menos indigno desta contínua graça.
Giancarlo, Miramare – Itália
O amigo de Joshua
Junto com Theresa e Mary Ellen, acompanhadas por Kathy e Antonio, fui até Raleigh conhecer Shawn, amigo de Joshua. Eles se conheceram na prisão e Shawn foi posto em liberdade há uma semana, após ter cumprido pena por cinco anos. Depois que Joshua o encontrou, Theresa começou a se corresponder com ele, depois Kathy e Antonio também o “adotaram” e continuaram o contato. Sábado foi a primeira vez que o encontrei pessoalmente. Fomos até o seu apartamento e quando chegamos ele estava radiante pela nossa presença. É um jovem de 24 anos, que parece um personagem de desenho animado. Começou a trabalhar e faz turnos à noite, e nos disse que dorme pouco, pois durante o dia não quer perder nada. Theresa logo perguntou sobre a amizade com Joshua e ele nos contou como o tinha impressionado o seu comportamento no cárcere. Quando se conheceram eram 40 homens em um dormitório com beliches. Ficou admirado porque falava de coisas interessantes. Então começou a se aproximar dele. Uma vez conseguiu ver o que Joshua estava lendo e era a primeira página de O Senso Religioso. Disse que quando terminou aquela leitura foi como se tivesse se aberto o horizonte. Depois, finalmente, conseguiu o livro emprestado e ele gostou tanto que foi até o grupo “espiritual” que freqüentava (um grupo que falava de magia negra e bruxaria) e disse a todos: “Basta, de agora em diante nós vamos ler este livro”. Os outros o olharam desconfiados, e disseram que não queriam ler nada sobre religião. Mas Shawn respondeu: “Vocês não entenderam. Este livro não fala de religião, fala da vida! Se quiserem entender o que é a vida, precisam ler isso”. Este fato me marcou muito porque na noite anterior eu havia jantado com uma amiga, Paola, e sua colega Eliana, que me contaram sobre a experiência delas. Eliana disse que ao conhecer o Movimento tinha sido tocada pelo capítulo 10 de O Senso Religioso na primeira vez que foi a uma Escola de Comunidade. Então contei isso a Shawn e ele me disse que também ficou tocado por esse capítulo e na prisão buscava olhar todas as coisas tentando identificar-se com Dom Giussani. “E conseguia?”, perguntei maravilhada. “Sim, porque Joshua me ensinou que mesmo que a pessoa esteja presa, não significa que não é livre.” Ele foi morar em Raleigh para poder ficar perto de Rob Jones, que o ajudará nas aulas sobre catolicismo para que seja batizado, pois não tem certeza se já recebeu esse sacramento. De qualquer modo disse que prefere refazer, pois queria que fosse Luigi (que é como chama Dom Giussani) a batizá-lo.
Sara, Carolina do Norte – EUA
Nascida duas vezes
A hospitalidade faz milagres. Eu já tinha ouvido isso antes, mas agora experimentei e gostaria de lhes contar sobre isso. Nasci em Milão e no ambiente em que cresci, para não criar conflitos, eu não podia expressar livremente os meus desejos, as minhas idéias, a mim mesma. Assim, em todas as minhas relações eu me comportava do jeito que imaginava que a pessoa diante de mim gostaria que eu me comportasse. Este modo de vida me sufocava e eu arrastava a minha existência. Cheguei ao ponto de não saber mais do que eu gostava, o que eu queria, quais eram os meus desejos: eu intuía que queria ser feliz, mas não sabia como. Não sabendo o que queria, a minha maior angústia era quando precisava tomar decisões. Quando terminei brilhantemente o colegial não me inscrevi na faculdade no curso de Química, a minha paixão, porque temia não ser capaz, e assim cursei Direito, pois achei que seria mais fácil e, sobretudo, porque foi o conselho do meu pai. Eu vivia em um contínuo conflito, nutrindo esperanças e desejos que regularmente eram frustrados. O trabalho, a única coisa na qual me sentia chamada, não bastava para justificar a minha existência e eu, de fato, queria mais. Eu gostaria de ter me casado e ter tido filhos, mas como isso era possível se diante de um rapaz eu não conseguia perceber se estava realmente apaixonada? Eu não sabia se estava mais condicionada pelo medo da solidão ou pelo desejo de uma verdadeira companhia. Este sofrimento que eu carregava me fez adoecer. Foram três anos de tratamento sem resultados. Nenhum médico ou tratamento conseguia recuperar o que eu havia perdido, ou talvez nunca tivesse tido: a alegria e um objetivo pelo qual viver. Depois, dois anjos (sim, realmente dois anjos: Eva e Tiziana) me apresentaram uma família que com muita simplicidade me propuseram passar um período de convalescença com eles. Eu aceitei e, com eles, renasci. Ou melhor, como o meu amigo padre Claudio me disse: ali eu nasci. Como uma criança que, cheia de maravilha, arregala os olhos para o mundo, eu comecei a entender e a sentir quais eram os meus desejos, o que eu queria, o que eu gostava. Fiquei admirada e muito feliz quando ouvi dizer que somos feitos para sermos felizes, pois eu achava que a felicidade fosse algo para quem já está no Paraíso, e que procurá-la demais era sinal de egoísmo e de pecado, como tinham me ensinado por muitos anos. Aos 38 anos, pela primeira vez eu discordei dos meus pais, dos meus irmãos e até do meu chefe, sem temer quais desastrosas conseqüências isso traria. No trabalho, onde eu nunca tinha comentado sobre o fato de ser católica, comecei a me posicionar mais livremente e a colocar no quadro de avisos anúncios das missas e documentos que o Movimento indicava. Com a ajuda de alguns amigos estou organizando uma Escola de Comunidade no local de trabalho e presenteei a revista Passos para amigos e colegas, pois desejo que eles também possam encontrar a nossa experiência e, se Deus quiser, encontrar novos amigos que também digam sim à própria vida. Tornei-me capaz de tomar decisões, seja nas pequenas como nas grandes coisas.
E experimento um grande gosto em exercitar essa minha capacidade de escolha, isto é, aderir àquilo que me faz livre. Comecei a experimentar o cêntuplo aqui. Criei laços maiores do que os familiares com os amigos de Crema que me hospedaram e com aquela comunidade. Agora sou finalmente quem eu gostaria de ser. Aprendi a reconhecer o que quero de verdade. Assim, nas amizades procuro colher o que tem de positivo em todos os que encontro, mas não me satisfaço mais com uma companhia que não me corresponda. Obrigada, Dom Giussani, pois o sinto como meu pai. Obrigada porque, por você e pelo povo que gerou, finalmente eu encontrei a Cristo. Agradeço também a Carrón, que nos Exercícios da Fraternidade se tornou mais familiar pra mim e que foi doado a cada um de nós para a nossa realização. E agradeço também a padre Mauro, de Crema, no qual reconheço a paternidade daquilo que me aconteceu e está acontecendo.
Nella, Milão – Itália
Corte de pessoal
Caro padre Carrón, quando voltei de férias em setembro, a minha empresa anunciou a demissão de 40 funcionários (entre os quais eu e outros operários que tinham em comum poucos anos de serviço). Depois de algumas semanas vividas com uma certa angústia, durante uma assembléia promovida pelo sindicato, na qual aparecia sempre mais clara a possibilidade de que isso ia mesmo acontecer, um colega e amigo me disse: “Seja como for que isso termine, nestes anos nos quais trabalhamos juntos, de uma coisa sou grato: pude aprofundar a amizade com você e tenho certeza de que esse relacionamento não vai acabar, mesmo se não trabalharmos mais juntos. Aliás, tenho certeza de que pelo modo como somos feitos, este período de necessidade nos aproximará ainda mais”. Naquele momento, tenso pelas preocupações, apenas agradeci e entendi aquela frase como algo sentimental. Depois pensei que se naquela assembléia existia alguém que estava vivendo de modo claro e total o impacto com toda a realidade, era justamente o meu amigo Alessandro. Ele não é do Movimento, mas quando falei dele a Damiano, ele me sugeriu que o convidássemos para um encontro da nossa Fraternidade, pois assim ele poderia ver e conhecer a fonte do que intuiu na amizade comigo. Eu o convidei e ele veio. Agora, não passa um dia sem que nos falemos, buscando sustentar-nos nesse momento difícil.
Giordano, Ascoli Piceno – Itália
Liberdade provocada
Caro Julián, escrevo para lhe contar o que aconteceu comigo neste último período. Casei-me com Marta em dezembro passado e esperávamos uma filha para o próximo dezembro, quando, durante uma consulta médica foi diagnosticado um problema de alimentação da criança e escasso fluxo de sangue. Isto levou à internação imediata de Marta e, depois de alguns dias, ao nascimento prematuro de Elisa, aos sete meses. Ela agora está na incubadora, sua saúde inspira cuidados e ainda deve permanecer ali por um bom tempo. Minha esposa passa os dias entre a casa e o hospital, e eu, após o trabalho, também vou encontrar minha filha. Esta foi uma coisa imprevista que eu jamais teria imaginado pra mim, pois pensava que estava imune a situações deste gênero. E, no entanto, justo eu tenho que viver esta grande dor; dor por uma filha que luta entre a vida e a morte. Não sei bem como explicar, mas este fato foi uma provocação à minha liberdade, como se esta filha prematura me tirasse todas as defesas. Sou eu com toda a minha pessoa diante de Elisa e é como se a minha liberdade fosse despertada, provocada. Quando ela nasceu ficou evidente que o que eu tinha diante de mim era o bem – a vontade de viver de Elisa – e o mal – a morte que de um momento a outro pode prevalecer. E, depois, eu com o desejo dentro do coração, a exigência, quase a pretensão, de querer julgar aquele fato. Não sei se consigo me explicar adequadamente, mas é como se este fato me pedisse para ser mais homem. Eu percebi como é radical essa posição que me obriga a uma seriedade diante da vida, e percebi o quanto a liberdade é preciosa. Eu disse o meu sim a Jesus e a minha liberdade se moveu por um novo sim, mais consciente. É como se me perguntasse: “De que lado você está? Qual lado escolhe pra você?”. Posso dizer, com certeza, que o nascimento de Elisa fez com que aumentasse a fé de seu pai, mesmo não tirando a dor por uma filha que está lutando pela vida.
Luca, Torino – Itália
Ex-alunos... no Seminário
Sou professor há 26 anos em uma escola técnica. É uma escola caótica, os alunos são desmotivados e há tensão entre os colegas de classe. Não estava com nenhuma vontade de recomeçar as aulas (os anos pesam e eu estava um pouco desanimado). Porém, no primeiro dia encontrei um aluno recém-formado que eu conhecia só de vista. Ele me disse: “Vim cumprimentar os meus ex-professores e aproveito para te saudar, mesmo que não tenha sido seu aluno. Eu acabei de entrar no Seminário e tenho certeza de que se o Senhor me chamou me dará forças para cumprir a Sua vontade. Agradeço pelo testemunho que você dá nesta escola fixando os cartazes de CL no mural. Continue assim e reze por mim”. E eu lhe disse: “Sim, e você também reze por mim. Trabalhamos todos pela glória de Cristo. E sou eu que devo lhe agradecer pelo que disse e, sobretudo, pela escolha que fez. E, depois, você me deu um grande presente hoje: o entusiasmo para recomeçar”. Eu o abracei e desejei que encontrasse o Movimento. Depois, relembrando o fato, pensei: mas, o Movimento, ele já encontrou pelo encontro comigo. Não é indispensável que ele freqüente o Movimento, mas que encontre Cristo e siga a modalidade com a qual foi chamado. Eu, todas as manhãs, posso renovar o meu encontro com Cristo oferecendo-lhe o meu trabalho com os alunos, pela Sua glória, mostrando simplesmente, apesar dos meus limites, aquilo que há 53 anos continua a me entusiasmar. Para mim o Movimento é isso e o êxito é pura graça.
Valerio, Ferrara – Italia
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón