A partir da experiência da Avsi e da CDM surgiu a necessidade de um Centro de formação ao trabalho para os jovens da periferia. Uma experiência de amizade e amor ao destino dos homens, que ajuda na realização da pessoa e gera frutos para a sociedade
Inaugurado no dia 11 de outubro de 2005, o Centro de Educação para o Trabalho Virgilio Resi iniciou suas atividades em Belo Horizonte no dia 16 de agosto deste ano. O Centro atende hoje a 50 jovens com idade entre 17 e 20 anos, a maioria estudantes do ensino médio, desejosos por aprender uma profissão. As oportunidades oferecidas no campo da formação profissional concentram-se nas áreas de alimentação e jardinagem, acrescidos de conteúdos de formação humana, informática, educação artística e física, expressão musical, português e matemática. O trabalho do Centro Virgilio Resi acumula toda a riqueza de anos de experiência no campo da formação profissional desenvolvidos pela Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (Avsi) e pela Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDM). A inauguração foi na passagem de três anos de falecimento de padre Virgilio, que era o responsável nacional do Movimento Comunhão e Libertação, e contou com a presença de alguns de seus familiares e amigos. Na Itália eles fundaram a Associação Virgilio Resi e, assim, ajudaram financeiramente na construção deste Centro.
Proposta educativa
Desde o seu início foi colocado um desafio no trabalho do Centro: para os educadores, a tarefa de arriscar o seu próprio eu em uma proposta educativa cotidiana e, para os jovens, o risco da liberdade em aderir ou em recusar esta proposta. Na experiência que vivemos com padre Virgilio, três coisas nos ajudam a enfrentar este desafio:
* A consciência de saber que Cristo é a realidade e, por isso, não existe nenhum aspecto do real que não tenha sentido ou que seja inútil;
* A consciência de que a vida é um caminho de razão e de afeição e, neste sentido, usar a razão arrasta o sentimento e faz nascer ali uma afeição cheia de ternura e de atenção;
* A experiência é o ponto de partida para o conhecimento da realidade e a primeira evidência da experiência é que não nascemos sozinhos.
Comunicar uma paixão
Nos encontros iniciais com os educadores assistimos ao filme “A Moldava”, que mostra o último ensaio do maestro Ferenc Fricsay antes da sua morte. Observando como o diretor conduz cada pessoa comunicando uma paixão, fazendo-a entender o sentido do trabalho e fazendo emergir em cada uma as suas potencialidades, tornou-se evidente para todos a necessidade de se ter um mestre para se tornar mestres. A partir dessa discussão cada educador foi chamado a anotar os pontos essenciais da própria educação como profissional e a olhar para as disciplinas a serem ministradas no Centro Virgilio Resi buscando sublinhar os aspetos educativos e os pontos de fascínio que todas aquelas disciplinas têm. Dessa forma evidenciaram-se os nexos entre as diferentes matérias e tornou-se possível, de um lado, propor um saber unitário e, de outro, valorizar todos os conhecimentos dos professores.
Os jovens que freqüentam o Centro vivem toda a desagregação social presente nas periferias e padecem da fraqueza cultural das escolas públicas e, por isto, necessitam reconhecer um fio unitário para poder enfrentar a vida. O primeiro encontro de apresentação do Centro a eles teve estas duas características: de um lado, a maravilha diante do fato de que cada aluno nos foi dado e a espera de começar um caminho juntos, e, do outro, a consciência de que a nossa proposta se cruzava com a história que cada um carrega, portando, o desejo de conhecer, respeitar e valorizar cada história particular (por isso elaboramos uma ficha de inscrição em que aparecem os momentos importantes da vida, os amigos, os grupos de referência).
A veracidade da proposta
O Centro Virgilio Resi é um lugar no qual os adultos ajudam os jovens a usar a experiência como ponto de partida para conhecer a realidade e onde se aceita apostar na realidade para sermos educados. Respondendo a realidade aconteceram muitos fatos. Em primeiro lugar, a inauguração do Centro, vivida pelos jovens como um momento no qual comunicar a maior descoberta feita. Deste desejo nasceu um sarau em que os poemas e as músicas escolhidas queriam mostrar que o homem é desejo de infinito e que ele se dá conta disso quando age e se impacta com a realidade; que o poder e a mentalidade comum tentam fazer calar este grito, mas basta um particular para recolocar o eu na postura justa.
Também foi realizada uma mostra que, por meio de imagens artísticas, trechos e observações, enfrentou os temas que constituem a vida do homem: o sonho e o desejo; a imaginação; a provocação da realidade; o trabalho (incluindo a jardinagem e a cozinha). A procura das imagens e a elaboração dos textos foram uma ocasião de discussão e confronto. Ali foi explorada toda a arte moderna até encontrar o que expressava o coração!
Outro fato marcante deste período foi perceber como tudo o que acontece no mundo pode ser instrumento de educação. Como a maioria dos jovens votou pela primeira vez no referendo sobre desarmamento, esta votação foi uma provocação para todos. Quando vimos os resultados nasceu o desejo de julgar aquilo que tinha acontecido e foi elaborado um panfleto (ver box p.26). Foi imediato reconhecer que existe um lugar de esperança.
Aprendendo a trabalhar
O Centro está oferecendo duas áreas de qualificação profissional: no campo da jardinagem e da alimentação. A escolha destes campos surgiu pelo relacionamento com empresários destas áreas. Para os jovens, depois do primeiro período de formação, chegou o momento da escolha: tornar-se um jardineiro ou um cozinheiro? Cada um deles tinha uma imagem sobre a profissão e sobre as próprias capacidades, mas precisava de um trabalho a mais para não seguir somente a instintividade ou deixar-se conduzir pelo preconceito e estereótipo de cada profissão.
Para fazer uma escolha mais consciente é preciso se conhecer melhor: saber quais habilidades, características e desejos possui e contrapor com a realidade: os limites existentes, o tempo e a idade, as possibilidades do mercado, etc. Para isso, foram organizadas visitas a locais de trabalho, palestras com profissionais do ramo e encontros com pessoas que ajudaram a olhar para a experiência.
Um encontro marcante para todos foi a visita de padre Carrón no dia 14 de setembro. Foi a experiência de ter um pai e, por isso, foi simples perguntar o que urgia no coração e na cabeça: “Mas como fazer uma escolha certa diante das propostas que a vida nos coloca?” Ele respondeu falando do trabalho que se deve fazer para verificar a correspondência com os desejos do coração. Para explicar, comparou esta correspondência ao conforto de um sapato que tem a medida do próprio pé. O exemplo do sapato se tornou o instrumento para avaliar tudo: está apertado? Está grande, largo? Tem a medida que você imagina ou tem a medida exata dos seus pés? Os jovens foram acompanhados neste trabalho de comparação e tornou-se visível o crescer da seriedade e da confiança.
O sentido do trabalho
Para a maioria deles o primeiro impacto com o trabalho foi positivo. A imaginação já os fazia excelentes chefes da arte culinária ou prezados jardineiros e começar a mexer com terra ou com massa despertava um certo fascínio. Mas, “a terra é baixa e as costas doem” ou “picar uma cenoura é divertido, picar um quilo de cenouras é chato”. A cada instante é preciso retomar o sentido do trabalho para que seja verdadeiramente a ação do eu de cada um. Não basta colocar a esperança na possibilidade futura de realização no trabalho, é necessário que seja uma experiência agora. Somente assim se descobre que a beleza de um jardim ou o capricho para realizar um prato compensa o cansaço e as tarefas repetitivas. Por isso o jardim está sendo arrumado segundo uma beleza que responde ao coração e da cozinha sai um cheiro de pizza e de pão recheado crocante!
Mas, além dos fatos mais evidentes, aquilo que marca o cotidiano do Centro é a mudança dos jovens. Caminhando juntos nasceu confiança e certeza de ter a companhia de adultos aos quais é possível pedir ajuda.
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O Referendo e nós
Lá em casa tem um poço,
mas a água é muito limpa.
Há tempos (Legião urbana)
Domingo, 23 de outubro de 2005, o Brasil decidiu com o referendo que o cidadão pode comprar armas.
“Vivemos em lugares violentos, a droga invadiu as ruas e os tiros já ressonam perto de casa..”
“Votei no ‘não’ porque onde moro preciso ter uma arma.”
“Votei no ‘sim’ porque se souberem que tenho uma arma, tudo vai se tornar mais perigoso.”
Alguns entre nós votaram no sim e outros no não.
Queremos viver com vocês a provocação que este fato da realidade nos colocou:
1. Possuir uma arma dá a impressão de ser onipotente, mas experimentamos que o homem é procura de respostas.
2. É necessário pensar na educação: cada ação para que seja humana e não pura reação, deve conter a pergunta: “o que estou ensinando?”
3. Encontramos lugares onde a vida é afirmada de forma concreta: a família, a Igreja, o Centro de Educação para o Trabalho Virgilio Resi.
Construir estes lugares é a verdadeira resposta à violência.
A água limpa existe e pode ser tomada!
Temos a consciência de que sozinhos não somos capazes de enfrentar o mundo, por isso convidamos todos: quinta-feira, dia 27 de outubro às 8h30, para “olhar-nos na cara” e pedir ajuda a Deus.
Um grupo de jovens do Centro Virgilio Resi
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón