De 2 a 23 de outubro realizou-se no Vaticano o Sínodo dos Bispos, sobre o tema da Eucaristia. O Sínodo é um organismo por meio do qual o Papa – periodicamente e sobre temas previamente fixados – quer conhecer o que pensa e como o vive a Igreja
O que nos ensina um Sínodo dos Bispos, a partir dos temas tratados, sobre a realidade da Igreja? Que ela é uma comunhão de pessoas, guiada por uma delas, que não é necessariamente a mais competente ou a mais inteligente (embora, no século passado e no início deste, tenha havido muitos Papas competentes e inteligentes). Ele é alguém escolhido por Jesus. Pedro e os seus sucessores.
Dom Giussani falou com freqüência sobre a Igreja como comunhão competentemente guiada.
“Koinonia ou comunhão são termos usados para indicar a Igreja em si; são sinônimos do termo ecclesia, indicando a unidade do povo de Deus como fato social que tomou uma determinada forma como instituição, estrutura social nova. (...) Também vimos como um dos bispos, o de Roma, ocupava uma posição especial; a ele eram submetidas as controvérsias; com ele se garantia a união, ele era alguém capaz de transcender as questões debatidas” (Por que a Igreja, Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro 2004, pp. 174-183).
Guia da Igreja
O que isso quer dizer? Como não confundir comunhão com democracia, e o “competentemente guiada” com autoritarismo? Não são essas as acusações que hoje se fazem com freqüência à Igreja: de ser pouco democrática ou muito autoritária? Por que a Igreja não é uma democracia? Recordemos aquele momento em que Jesus perguntou aos apóstolos: “Quem eu sou, no dizer do povo?”. Mas o povo não sabia. “Bem-aventurado és tu, Simão Pedro...”. Aquilo que nos foi dado, a belíssima vida que brotou quando encontramos Jesus numa comunidade de homens, não nasceu de nós. Por mais que pensássemos a respeito, não teríamos chegado a bons resultados. A comunhão não nasce de um consenso entre os homens, de um pacto de mútua assistência. É uma unidade que nasce da atração que Jesus exerce sobre nós, da força do seu Espírito, que faz de todos uma coisa só. A unanimidade dos nossos pensamentos e dos nossos corações não nasce da suavização das nossas diferenças, mas da nossa conversão para Ele.
Claro, essa nossa caminhada rumo à expressão da comunhão precisa de tempo. Dá-se, inclusive, por meio de erros, de tentativas. Precisa também da suavização das diferenças, do esforço para criar consenso. Precisa de um guia. Eis aí a missão do Papa, que não substitui Jesus, o único verdadeiro guia da Sua Igreja. O Papa faz as vezes de Jesus, como qualquer verdadeira autoridade nas pequenas ou grandes comunidades da Igreja, que conta com a promessa de assistência da parte do Senhor, o que não foi feito por nenhuma outra pessoa.
Para uma melhor compreensão
Toda essa realidade da Igreja, que está presente em qualquer comunidade cristã autêntica, aparece de modo particular no Sínodo dos Bispos. Sugerido pelo Concílio Vaticano II e criado pelo Papa Paulo VI, o Sínodo é um organismo com o qual o Bispo de Roma, periodicamente e sobre temas previamente fixados, procura ouvir o que pensa e como vive a Igreja. Ele também precisa dos outros para dirigir a casa que Jesus lhe confiou. Precisa ouvir, refletir, apreciar o parecer e a experiência dos outros, para compreender o que deve dizer à Igreja. O que dirá não necessariamente corresponde ao que ouviu; mas, também para ele, penetrar no pensamento de Jesus implica a longa caminhada de um esforço humano.
O Sínodo dos Bispos nos ensina, assim, o caminho para uma compreensão mais verdadeira e completa da verdade e da vida: a autoridade sabe bem para onde ir e conduzir, porque o caminho é traçado pelo Senhor, a partir da experiência que viveu com os apóstolos, mas ao mesmo tempo ela precisa ouvir a experiência das Igrejas. O que elas vivem pode iluminar de modo decisivo o caminho a fazer. Como aconteceu no Sínodo de 1985, dedicado aos leigos, quando entre os padres sinodais constava o nome de Dom Giussani, também agora, no Sínodo dedicado à Eucaristia, o Papa quis ouvir a nossa realidade, nomeando padre Carrón como membro do encontro sinodal.
Fundamento comum
No início das três semanas de trabalho, Bento XVI, em sua intervenção no auditório, depois da prece de abertura insistiu nos temas que procurei aqui iluminar, sublinhando que a “grande obra de misericórdia, [que é] ajudar-nos uns aos outros, para que cada um possa realmente encontrar a própria integridade, a própria funcionalidade como instrumento de Deus, exige muita humildade e amor (...). [É preciso] não só corrigir, mas também consolar, compartilhar os sofrimentos do outro, ajudá-lo nas dificuldades”.
E acrescentava: “Tende o mesmo sabor das coisas, a mesma visão fundamental da realidade, com todas as dificuldades, que não só são legítimas, mas também necessárias”. E como isso é possível? “Compartilhando a fé, que não foi inventada por nenhum de nós, mas é a fé da Igreja, o fundamento comum que é o nosso apoio, sobre o qual continuamos a trabalhar”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón