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Passos N.65, Setembro 2005

MEMÓRIA / GIUSSANI

Amigos por toda a vida

por Giovanni Marengoni, MCCJ*

Padre Giovanni Marengoni, missionário na África, dá um testemunho sobre a época em que era jovem seminarista junto com padre Giussani, fiel a Cristo e à sua Igreja desde então. “Da comunhão, a libertação”

"No último dia 5 de março, na Catedral de Nairobi (Quênia,) foi celebrada uma missa em memória de padre Giussani, presidida pelo arcebispo de Nairobi, Raphael Ndingi. À missa, também estava presente padre Giovanni Marengoni, sacerdote comboniano que viveu os primeiros anos de seminário junto com padre Giussani. Marengoni, alguns meses mais velho que ele, assim que soube de sua morte, apesar de seus graves problemas de saúde, veio, acompanhado de um seminarista, até nossa escola, que fica fora de Nairobi, para poder falar sobre o seu caríssimo amigo a quem o conhecia. Com muita paixão, lembrou os anos em que conviveu com ele, no ginásio."
Nunzia Capriglione, Nairobi

Testemunho dado no dia da missa em memória de padre Giussani

“Deus onipotente, alegremente Te dei tudo”. Padre Giussani, o senhor disse e viveu esta oração desde a juventude. No dia 3 de outubro de 1933, aos 11 anos e já tendo descoberto a vocação ao sacerdócio, nos conhecemos no seminário menor de Milão. Fiquei feliz por ter lhe encontrado. Cinco anos juntos naquele seminário, um lugar inesquecível que, naqueles anos, produziu grandes homens, entre eles, o senhor. Durante cinco anos, nós, jovens adolescentes, correndo atrás da nossa vocação. Certos, nenhuma dúvida, nenhuma imposição: anunciando, anunciando a comunhão e a salvação. Vocação: para mim, uma vocação de missão para a África, para o senhor, padre Giussani, uma vocação para todo o mundo por meio do seu grande Movimento Comunhão e Libertação.
Como cumpriu o seu chamado? Tendo Jesus Cristo no centro. A centralidade de Jesus em todos os eventos, em todas as situações. Jesus, centro. E Ele é o centro verdadeiramente presente; fazendo memória de Ti – não a memória de um Jesus do passado, histórico –, memória de Ti presente, aqui e agora. Vivendo as minhas preocupações, as minhas dificuldades, compreendendo os meus erros e os meus limites, olhando sempre para Ele e servindo-O com amor. Ele me convida: ‘Olha-me! Olha-me! Estou contigo, segue-me, segue-me até a eternidade”.
Padre Giussani, roga por nós para que também nós possamos viver esta centralidade de Jesus a cada dia, por meio de Comunhão e Libertação. Comunhão, comunhão – juntos, juntos, estar juntos –, comunhão, primeiro com Jesus presente aqui e agora. Comunhão com Jesus e comunhão com todos, próximos e distantes. Padre Giussani, este era o seu espírito. Da comunhão, a libertação! Liberdade do pecado, da ânsia e do mal...
Estando em comunhão com Deus e com todos os outros homens.

Texto escrito por ele para os amigos do Movimento, depois da sua visita à escola S. Kizito Vocational Training Institute
Conheci monsenhor Giussani quando éramos adolescentes. Convivemos dos 11 aos 16 anos, desde o nosso ingresso no Seminário Menor de Severo, São Pedro (Milão), em 1933 até quando eu deixei o Seminário de Venegono Inferior (1937) para me tornar missionário. Companheiros de classe, vizinhos de carteira, éramos amicíssimos e nos conhecemos profundamente. Embora separados pela distância e pelo trabalho, sempre nos ajudamos.

Li com profunda comoção e vivo interesse, a mensagem que o Santo Padre escreveu a todos “os filhos espirituais de padre Giussani” no dia de sua morte. E, com intensa alegria, constatei que as principais posturas espirituais e humanas de padre Giussani já estavam presentes como sementes no adolescente Giussani. Escrevo-as, resumidamente, aqui:

A glória de Deus
A glória da regra que São Carlos Borromeu deu aos seus seminaristas, conservada até hoje nos seminários milaneses “com poucas mudanças e pequenos acréscimos” (disse o beato cardeal Schuster quando apresentou a nova regra para nós, seminaristas ambrosianos).
Escrevo pela honra de padre Giussani, que sempre relevou a sua constante fidelidade aos impulsos da graça e da sólida educação humana e cristã recebida quando adolescente, sobretudo no Seminário Menor.
Escrevo para encorajar todos os educadores a darem a máxima importância à “adolescência” de seus filhos-alunos.

Estas são as virtudes humanas e cristãs de padre Giussani, exaltadas pelo Papa em sua mensagem:
“Uma fé ardente!” Evidente no adolescente Giussani que, quase sempre, colocava as mãos juntas sobre o peito quando rezava (e o fazia com muita freqüência).
“Coerência sem imposições”: alguns zombavam dele por causa de sua grande piedade quando era adolescente. Mas Giussani perseverou, vencendo todo medo “de ser escarnecido”, ganhando o respeito humano, sempre coerente com as suas convicções.
“Padre Giussani sempre foi corajoso no seu serviço à Igreja.” O adolescente Giussani sempre defendeu os superiores e os professores, mesmo aqueles que não eram muito bons.
"Padre Giussani sempre foi resoluto e franco ao convidar muitos jovens a um encontro pessoal com Cristo, para encontrar nEle a resposta definitiva às expectativas mais profundas do coração humano.” O adolescente Giussani sempre foi humilde, mas convicto e decidido em convidar qualquer companheiro a acompanhá-lo numa “visitinha” a Jesus na Eucaristia, explicando: “Você vai ficar muito feliz”.
“Padre Giussani propôs a muitos jovens ‘a companhia com Cristo’.” O adolescente Giussani falou a muitos companheiros seminaristas sobre “a amizade com Cristo” para que evitassem outras amizades perigosas para um seminarista.
“Padre Giussani colocou de lado qualquer perspectiva de uma carreira acadêmica.” Giussani adolescente, sempre o “primeiro” da classe, todos os anos recebia a “medalha de outro” pela nota mais alta (lembro que o beato cardeal Schuster – que todos os anos vinha entregar as medalhas – um ano, ao ver Giussani aproximar-se para receber a medalha de ouro exclamou, com sorridente satisfação: “Sempre ele o primeiro!”). Mas o adolescente Giussani conservou-se sempre humilde! Nunca fez “pesar” sua primazia sobre os demais, ao contrário, os ajudava com grande simplicidade a fazer os trabalhos.
“Em padre Giussani sempre houve constante docilidade em relação ao magistério.” O adolescente Giussani nunca se opôs aos docentes, nunca os criticou, mesmo aqueles que não eram bons professores.
“Padre Giussani soube envolver muitos no seu apaixonado programa missionário.” Giussani adolescente soube trazer “muitos adeptos” aos “círculos missionários”, dos quais saíram “muitos missionários”.
“A síntese da vida e do apostolado de padre Giussani é: Cristo e a Igreja.” O adolescente Giussani mostrou-se apaixonado por Cristo Senhor, com suas freqüentes e ardentes visitas a Jesus presente na Eucaristia, e provou ser pleno de zelo pela Santa Mãe Igreja, repetindo freqüentemente, com convicção: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”, acrescentando, sem nenhum sentido de vanglória: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia mediolanensis” (onde está Pedro, está a Igreja de Milão).
“Padre Giussani foi um advogado da razão humana, um campeão de piedade humana e um mestre de humanidade.” Foi fundador de um Movimento mundial, de um Instituto Religioso (a Fraternidade), de uma Associação de leigos (Memores Domini), todos denominados e inspirados por um ideal: Comunhão e Libertação.
O adolescente Giussani, muito superior a todos os seus companheiros pela bondade, pela piedade e pela inteligência, sabia fazer de todos uma “comunhão, libertando todos de qualquer tentação de inveja, de oposição e de ofensa”.
Sim, Giussani adolescente, por um “chamado” especial e por graça de Deus, tornou-se fundador de Comunhão e Libertação nos anos iniciais de sua adolescência.
Oh, padre Giussani! Continue no céu a incidir em muitos adolescentes os ideais de uma verdadeira comunhão cristã e humana e de uma total libertação de qualquer instinto de egoísmo e de violência para serem “fiéis servos do Evangelho” – como o Papa o definiu na mensagem que escreveu no dia de sua partida para o céu.

* Padre Giovanni Marengoni, MCCJ faleceu no dia 27 de julho de 2007, em Milão.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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