Hoje em dia, os valores são pensados freqüentemente
como um conjunto de normas a serem cumpridas e que parecem não encontrar correspondência dentro do homem. Mas Santo Tomás de Aquino, já no século XIII, nos advertia se tratar justamente do contrário ao explicar que a moral é o próprio ser do homem, que possui em si uma bússola capaz de lhe indicar o caminho para o bom, o belo e verdadeiro. Mas como reconhecer a moral?
Se algo é do homem, a melhor maneira de identificá-lo é olhando para a própria experiência. Para isto, é necessário ater-se constantemente ao real, porque é a partir dele que o homem pode alcançar a própria realização. Mas esta adesão à realidade não é simples e isto pode ser relatado com as imagens de outros pares muito presentes no cotidiano: claro/escuro, memória/esquecimento, afirmação/negação.
O reconhecimento dos valores pode ser muito mais fácil e rapidamente identificado se houver a ajuda de um mestre, de uma autoridade em seu sentido etimológico. Luigi Giussani nos esclarece que o vocábulo de origem latina, auctoritas, indica aquilo ou quem faz o outro crescer (cf. Giussani, L. Educar é um Risco. Edusc, São Paulo, 2004). Hannah Arendt confirma em um preciso e incisivo ensaio intitulado “O que é autoridade?” esclarece que “a palavra auctoritas é derivada do verbo augere, “aumentar” (cf. Arendt, H. Entre o Passado e o Futuro. Ed. Perspectiva, São Paulo, 2003, p.163). Isto porque a presença de uma autoridade permite que o outro saia de seus devaneios e seja colocado frente ao real e aos valores que dele emanam.
O filósofo contemporâneo espanhol Alfonso López Quintás, também, retomando a etimologia, esclarece, que tradição “vem do latim tradere e significa entrega, a entrega que cada geração faz à seguinte, incrementando-a para realizar a mesma entrega ao novo que chega”(cf. Quintás, A. L. Inteligencia Creativa: el descubrimiento personal de los valores. Biblioteca de Autores Cristãos, Madri, 2002). Luigi Giussani reforça a idéia de legado, afirmando que a tradição “é como uma hipótese de trabalho com a qual a natureza lança o homem na comparação com todas as coisas”. Sem essa primeira hipótese de valores a ser verificada, o homem fica refém daquilo que lhe propõe, particularmente, da mídia e da moda. Cabe ao educador-professor, pai ou amigo ajudar a fazer o reconhecimento dessas pontes entre o que vivemos e o valores mais profundos gravados em nossa natureza com o auxílio do legado humano que cada homem recebe ao nascer.
* A autora é professora de Antropologia Filosófica da Faculdade Santa Marcelina (São Paulo – SP)
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