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Passos N.63, Julho 2005

DESTAQUE / A FLOR DA ESPERANÇA

Uma certeza no futuro por força de uma realidade presente

por Alberto Savorana

Do presente e do passado, histórias de encontros que fazem nascer ou que despertam a esperança

> 2005. Cinco presidiários, um professor de contabilidade e um rapaz de 19 anos. O encontro que muda a vida e torna aceitável até a própria dor e a privação da liberdade, a doença e a morte. Entre os muros de uma prisão ou no quarto de um hospital. A certeza de uma presença boa, que se afirma como positividade inexorável

> 1963. Uma estudante do Liceu Berchet permanece na classe – por acaso – no início da aula de religião. E se sente desafiada pelo padre a examinar a tradição judaica da sua família. Hoje, lembra a revolução que aquele encontro produziu em sua vida. Um progresso contínuo, de descoberta em descoberta

Dois testemunhos maravilhosos que documentam a verdade das palavras do padre Carrón nos Exercícios da Fraternidade de CL realizados neste ano sobre o tema “A esperança não decepciona”

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Uma vida que gera outra vida

“É impensável que o Senhor, como Pai, possa querer o nosso mal; portanto, embora esta doença possa parecer uma punição, não é isso, e em qualquer coisa, bonita ou feia, esconde-se sempre um desígnio do Senhor, que eu tive a felicidade de captar. O que mais me emociona em tudo isso é ter descoberto a vida na dor, coisa que me faz pensar muito na morte e ressurreição de Cristo, que são a minha Páscoa”. Quando escreveu essa carta, André tinha dezoito anos. Freqüentava o liceu em Siracusa e sofria de um tipo de leucemia que tem poucas chances de cura. Será possível?
Em setembro de 2004, André participa da Juventude Estudantil. “Desde logo me impressionou a sua vontade de viver”, conta padre Giorgio, que o acompanhou no hospital de Pavia nos últimos meses, onde ele se recuperava. “Ele tinha ficado impressionado com os rapazes que encontrara, e voltou para casa entusiasmado. Começou a viver de um modo diferente até a própria doença”.
André falava pouco e observava muito. Quem conversava com ele lembra desse olhar penetrante, que ia no profundo. Um dia, depois de um longo silêncio, perguntou ao padre Giorgio: “Por que aconteceu justamente comigo essa coisa?”. “Não sei – respondi – mas uma coisa sei com absoluta certeza: tudo o que acontece é por Deus e para o nosso bem”.
Logo percebem, no hospital, que aquele moço tem algo de diferente, é apontado como um exemplo: o sofrimento é evidente, mas não há revolta em seu rosto. Depois de um ano, a doença se agrava e André fica de cama por quarenta dias. “Ele tinha um desejo fortíssimo de voltar para casa... Siracusa, o mar...”, lembra padre Giorgio: “Veja – eu lhe disse um dia, quando estávamos sós – devemos pedir a cura e, na cura, a felicidade, o Paraíso. O mar também termina, e nós o desejamos pela abertura que nos dá. Ele me dizia apenas ‘sim’, tinha dificuldade para falar, mas em seu rosto os sinais de sofrimento pareciam atenuar-se”.
Justamente no dia em que ele morreu, chegou ao hospital a carta de cinco presidiários de Brucoli, na Sicília, que ficaram sabendo do caso dele por um professor que dava aulas na prisão; pedira a eles que rezassem por André e eles decidiram escrever uma carta, que parece mais ter sido mandada de um convento, não de uma penitenciária. “Uma amiga leu a carta” – conta o padre Giorgio – “e depois dela, eu também a reli para André. Eu lhe disse: veja, a esperança é o fim do cansaço; como eles, na prisão, estão contentes e esperam, assim também deve acontecer conosco, nesta nossa prisão que é o corpo doente”. Ele se acalmou. Morreu algumas horas depois. “Naquele instante eu compreendi o que é a visita ao Santíssimo Sacramento; estar diante daquele rapaz era como estar diante de Cristo”.
Durante todos os meses do tratamento, André foi uma presença, quase sempre silenciosa, mas real. Padre Giorgio lembra ainda: “Todas as vezes que eu entrava no hospital, sempre alguém se aproximava de mim, ora um médico, ora uma enfermeira, ora um paciente: ‘Desculpe, o sr. é o padre Giorgio, amigo de André?’. Uma vez, um jovem de 19 anos me parou, ele se chama também André, estava internado no quarto da frente do meu jovem amigo. Ele se aproxima e me diz: ‘Gostaria de falar com o sr. Estou começando a caminhada que André está fazendo’. E eu: ‘Aprenda com ele’. ‘Sabe, devo fazer a maturidade’ (correspondente ao ensino médio no Brasil; nde). E eu: ‘A maturidade da vida’. Ele: ‘Por favor, não comece a me falar de Deus, que não me interessa’. No dia da morte de André, esse jovem me vê e diz: ‘Será que o sr. não faria o favor de vir conversar comigo? Sabe, aquelas coisas sobre Deus...’. Quando me paravam para perguntar alguma coisa, a presença não era eu; a presença era André: somente a curiosidade em relação a ele levava as pessoas a me procurarem”. Padre Giorgio se lembra de uma frase que ouviu do padre Giussani: “Se alguém pertence ao grupo, basta que respire e já é uma presença”.
André se foi com a idade de 19 anos, no dia 24 de maio, uma quarta-feira. Todos estavam lá, nesse dia, ali em seu quarto, em volta do leito daquele jovem que gostava de futebol e do mar da Sicília. “O pessoal ficou admirado, sobretudo, com os pais de André; eles, que certamente eram os mais necessitados de consolo, consolavam a todos. Não pareciam os pais de um filho que acabara de falecer”, dizia o pessoal do hospital.
No final do enterro, celebrado em Siracusa, toda a classe de André foi cumprimentar o padre Giorgio. “Volte de novo, porque este não foi um enterro, mas uma festa”.
“Nós o abraçamos virtualmente e o consideramos um nosso irmão... Força, André, lute junto conosco”, escreveram a André os cinco presidiários de Brucoli. Há algo de mais admirável do que uma vida que termina e que, na morte, gera outra vida, outro desejo de vida, mesmo atrás das paredes de uma prisão?

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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