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Passos N.60, Abril 2005

ESPECIAL - João Paulo II e CL

“Não um caminho, mas o caminho”
A imensa gratidão de filhos

por Massimo Camisasca

Encontros e palavras que marcaram a história de amizade entre João Paulo II e o movimento Comunhão e Libertação. Audiências, mensagens, cartas. A aventura de uma ligação com o Bispo de Roma, a quem padre Giussani sempre indicou como “margem estabelecida para a segurança da nossa fé católica”

“Admiramos, com feliz gratidão, a juventude e a liberdade da Igreja”. Assim, no dia seguinte ao 16 de outubro de 1978, o Conselho Nacional de CL acolheu a eleição de João Paulo II. A ascensão de Karol Wojtyla à sede pontifícia foi uma surpresa absoluta para o mundo todo e uma descoberta para quase toda a Igreja. Para alguns membros de CL, Wojtyla não era um desconhecido. O cardeal de Cracóvia, aliás, era bem-conhecido daquele pequeno grupo de jovens que, alguns anos antes, o haviam encontrado nas férias, nos montes Tatra. E, sobretudo, do padre Francesco Ricci. Foi ele quem sugeriu esse nome para os vaticanistas que preparavam para os seus jornais a ficha biográfica dos cardeias mais cotados. Vittorio Citterich, jornalista italiano, na época no Tg1, recordou isso várias vezes.
Chega-se assim ao dia 18 de janeiro: padre Giussani é recebido em audiência. É a primeira de uma longa série de encontros no período compreendido entre 1979 e 1984. Tão logo retornou a Milão, Giussani apressou-se em escrever a todos os “caríssimos amigos” do seu Movimento. A carta inaugura uma tradição de relatos epistolares, que se tornarão muito comuns com o passar dos anos. Pelas palavras do fundador, finalmente todo o Movimento se encontra com o novo Papa. E tem logo a percepção de um evento que vai bem além de um ato meramente devoto e formal de homenagem ao novo Pontífice. Tratava-se do encontro entre uma realidade missionária nascida há apenas 25 anos, e que crescera enormemente nas últimas décadas, mesmo do ponto de vista numérico, e um Papa que, tendo chegado “de um país distante” à cátedra de Pedro, buscava, como é compreensível, as realidades com as quais se sentia mais em sintonia para apoiar sobre elas o início do seu pontificado. [...]
O fundador de CL, logo ao sair da audiência, declara com decisão o seu desejo: “Sirvamos a Cristo nesse grande homem, com toda a nossa existência”.
Quem acompanhou a história pessoal de Giussani de 1954 a este momento, não terá dificuldade em compreender a sua emoção naquelas horas: visto por muitos bispos com desconfiança, podia registrar no novo Papa uma convergência de visão absolutamente surpreendente. Padre Giussani mesmo anota seus pontos principais: Jesus Cristo é a verdade do homem todo; a fé é a forma de toda a vida; é necessário que a fé se expresse como cultura. São essas as palavras do Papa recolhidas pelo padre Giussani durante o encontro com ele.
Temos a possibilidade de acompanhar a audiência do Papa com o “responsável pelo Movimento Comunhão e Libertação” (assim prudentemente se expressavam o prefeito da Casa Pontifícia e o diário da Santa Sé, ao dar a notícia do acontecimento) também pelo relato que padre Giussani fez dele aos estudantes de Milão, um mês depois. A impressão era ainda muito viva em seu espírito: os dois dias que antecederam a audiência, desde que ele ficara sabendo dela, ele os havia passado cheio de emoção. Mas esta desaparecera “tão logo entrou na biblioteca”, porque o Papa o deixara à vontade. “Eu me ajoelhei... e ele me segurou o punho e me levantou... apertou de um modo terrível... Me levantou e me disse: ‘Nós nos conhecemos’. Eu havia decorado a lista das coisas que precisava dizer apressadamente... mas ele me reteve durante 35 minutos, fora a sessão de fotos. Eu lhe disse: Santidade, veja, nós queremos apenas uma coisa: queremos viver a fé. E para nós quer dizer que a fé deve ser uma coisa interessante para toda a vida, para todos os sentimentos da vida. Ele tem a cabeça que parece a cabeça de um leão, é um leão no sentido literal da palavra. E ele começou a mexer aquela cabeçona como se dissesse ‘sim’. Entendem? A fé em que Jesus Cristo é o coração da vida”.
No dia 4 de março de 1979, João Paulo II publica a sua primeira encíclica, Redemptor hominis. A linguagem, completamente nova e inusitada para um documento pontifício, e os conteúdos originais fazem dela um texto logo coberto pelo manto do silêncio do próprio mundo eclesial, que, para além das celebrações rituais, não compreende o seu alcance. CL faz dela o texto da Escola de Comunidade por todo o ano seguinte.
Março é também o mês da grande audiência de João Paulo II aos doze mil universitários de CL, que aconteceu justamente no dia 31 daquele mês. Como no dia 23 de março de 1975 (passaram-se apenas quatro anos!), o Papa e padre Giussani se encontram perante milhares de jovens do Movimento. Mas desta vez não é o furtivo encontro com Paulo VI, depois da missa, e sim uma audiência pública que demora duas horas: os jovens de CL “talvez nunca se sentiram tão encorajados, reconhecidos e até louvados pelas palavras de um Papa. Não se pode fingir que o Papa não deu um encorajamento afetuoso e completo ao Movimento de Comunhão e Libertação”. [...] Desde então, rapidamente esses encontros aumentaram. Os universitários reviram o Papa no dia 15 de abril, junto com os seus colegas dos colégios de ensino médio de Roma para a celebração anual da Quaresma, que João Paulo II nunca deixou de presidir, exceto nos últimos anos. Mas a 17 de maio o encontro foi verdadeiramente singular: era a véspera do dia do seu aniversário. Dois mil universitários da comunidade de Roma e de outras cidades vizinhas se reuniram nos jardins vaticanos, diante da gruta de Lourdes: de novo canções polonesas e italianas. “Este não deve ser a comemoração de um ano, mas a comemoração de um mês”, disse então Wojtyla, como se quisesse dizer: voltem todo mês. E eles voltaram.

(Trecho extraído do livro Comunhão e Libertação, volume III, edição italiana a ser publicada em junho de 2005)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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