A verdade mais fascinante de uma mulher ou de uma música ou de uma coisa bela é ser sinal de um outro. Quando o homem pressente isso – como Leopardi o pressentiu no ápice da sua trajetória humana, no hino À sua dama –, imediatamente submete sua alma a esperar essa outra coisa: mesmo diante do que pode tomar em suas mãos, espera uma outra coisa; toma em suas mãos o que pode tomar nas mãos, mas espera uma outra coisa. A esperança não está naquilo que você pode tomar nas suas mãos, mas num outro.
Um outro... Assim, falando uma vez, numa noite, numa noite escura, preâmbulo da paixão, Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6) – eu sou a beleza, eu sou a verdade, eu sou aquilo que você busca, eu sou aquilo que o seu coração busca.
A esperança que Cristo desperta e alimenta, portanto, é a esperança humana, da qual é subtraída, por graça, a ilusão que provém de todas as coisas; não porque as coisas sejam negativas em si, mas porque a positividade delas é remeter a uma outra coisa, do contrário elas se tornam ídolo. A esperança cristã é a esperança do desejo humano, mas carrega em seu conteúdo um mundo diferente. Não um outro mundo: este mundo, onde o rosto da mulher se torna mais significativo, onde a música se torna mais fascinante, onde a beleza da natureza se torna mais verdadeira. Tudo se torna mais e ao mesmo tempo é outro.
Jesus, tu és outro e és maior do que aquilo em que eu humanamente fixo, ou fixaria, a minha esperança; mas não estás fora daquilo em que fixo a minha esperança, estás dentro desse rosto, estás dentro dessa natureza, estás dentro dessa música, estás dentro – feito carne –, estás dentro. A palavra cristã é a palavra humana à qual foi revelado, desvelado, o seu verdadeiro objeto, que não anula nada, que não se livra de nada, mas de tudo revela a verdade: revela a tudo como sinal de si.
O sinal, por sua natureza, é provisório, exceto aquele que leva você a Cristo; quando o sinal é sinal de Cristo, permanece, como Cristo, por toda a eternidade. A eternidade se manifesta no rosto da mulher amada, a eternidade se manifesta no panorama da natureza que você contempla com veneração, a eternidade se manifesta nas notas da música de que você gosta. A esperança cristã é de que tudo se transforme dessa forma.
* Texto extraído de "Si Può (Veramente?!) Vivere Così?", Ed. Bur, Milão 2002, pp. 337-338.
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