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Passos N.59, Março 2005

BIOGRAFIA - É UMA VIDA

Seminário

Lembro-me de uma vez, na escada, quando estávamos descendo para a Igreja em silêncio, e Manfredini - transgredindo a regra, portanto - me disse: “Mas, se pensarmos que Deus se tornou um homem como nós...”. E parou no meio da frase, que me ficou impressa, tanto que eu a repito a vocês: “Que Deus se tenha tornado homem é uma coisa do outro mundo!”. E eu acrescentei: “É uma coisa do outro mundo que vive neste mundo!”, e por isso este mundo se torna diferente, mais suportável. Torna-se mais bonito. [...]
Uma noite de inverno, no seminário, depois do jantar [...], Enrico Manfredini, com um outro colega nosso, De Ponti [...], chega perto de mim e me diz: “Escute, se Cristo é tudo, o que tem a ver com a matemática?”. Nós não tínhamos ainda dezesseis anos. Daquela pergunta nasceu tudo na minha vida. Aquela pergunta canalizou numa iniciativa orgânica tudo o que a minha vida viria a ser capaz de dar em termos de pensamento, de sentimento, de operosidade. [...] A partir daquela pergunta de dom Manfredini [nomeado bispo em 1969; ndt.] teve início, no dia seguinte, algo que duraria por muito tempo. Com outros dois amigos nossos, constituímos um grupinho ao qual demos o nome de Studium Christi: busca do reflexo de Cristo.
(Apresentação de E. Manfredini, La conoscenza di Gesù, pp. 8, 9, 16)

Como escreve Camus: “Não será pela força de escrúpulos que um homem se tornará grande. A grandeza chega, se Deus quiser, como um belo dia”. Para mim tudo acontece como a surpresa de um “belo dia”, quando um professor do primeiro ano do colegial [padre Gaetano Corti; nde] – eu tinha 15 anos – leu e explicou a primeira página do Evangelho de São João. Naquela época era obrigatório ler essa página no final de cada missa, então eu já havia ouvido milhares de vezes. Mas acontece o “belo dia” (...) quando aquele professor explicou a primeira página do Evangelho de São João: “O Verbo de Deus, ou seja, a consistência de todas as coisas, se fez carne, e isso significa que a beleza se fez carne, a bondade se fez carne , a justiça se fez carne , o amor, a vida, a verdade se fez carne: o ser não está no espaço, mas se fez carne e é um entre nós”. Naquele momento lembrei-me de uma poesia de Leopardi, estudada naquele mês de “fuga” no terceiro ano do ginásio, intitulada À sua dama. (...) Naquele instante pensei como aquela poesia de Leopardi fosse, 1800 anos depois, uma mendicância daquele acontecimento que já havia acontecido, o qual São João anunciava: “O Verbo se fez carne”
(L’avvenimento cristiano, pp. 31-32)

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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