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Passos N.59, Março 2005

BIOGRAFIA - É UMA VIDA

1993 a 1998

1993
Coleção “Os livros do espírito cristão”É por meio da educação que se constrói um povo, enquanto consciência unitária e enquanto civilização. E hoje compreendemos bem o quanto essa tarefa é urgente e necessária para quem tem responsabilidade. Ler participa desse percurso educativo para a reconstrução do humano. Encontrar a história de pessoas que viveram intensamente a realidade, e acolheram suas provocações como pergunta não respondida ou, melhor ainda, surpreenderam nela os traços de um destino bom, a ponto de chegarem à descoberta imprevista de uma resposta positiva, é a finalidade segura de tantos livros publicados na coleção. Em particular, queremos mostrar a razoabilidade e a utilidade, para o homem contemporâneo, dessa resposta ao drama da existência que tem por nome “acontecimento cristão”. Oferecemos tal resposta como contribuição sincera à educação à realidade que tem como fim uma verdadeira libertação dos jovens e dos adultos.
(“Dieci anni di libri al cuore della vita”, in Tracce, julho-agosto de 2003, p. 86)

1994
Os 40 anos de CL
À medida em que amadurecemos, tornamo-nos espetáculo a nós mesmos e, Deus assim queira, também para os outros. Espetáculo de limite e de traição, e portanto de humilhação e, ao mesmo tempo, de segurança inesgotável na graça que nos é doada e renovada a cada manhã. Daqui vem aquela audácia ingênua que nos caracteriza, pela qual cada dia da nossa vida é concebido como uma oferta a Deus, para que a Igreja exista dentro dos nossos corpos e das nossas almas, por meio da materialidade da nossa existência.
(in Litterae Communionis, novembro-dezembro de 1994, p. 36)

1995
Prêmio Internacional de Cultura Católica de Bassano del Grappa
Nós dizemos que a fé católica não é cultura, no sentido de que ela não se apresenta ao mundo como proposta de uma cultura nova. O objeto da fé “acontece”, ou seja, é um acontecimento. [...] Trata-se de um fato, de um acontecimento totalizante. Pois, se é verdade que aquele homem é Deus feito filho de uma mulher [...], trata-se de um acontecimento totalizante, “católico”, por sua natureza. “Católico” significa “segundo a totalidade”. [...] Olhar para a realidade tendo a Sua presença nos olhos exalta a experiência da correspondência, torna-nos mais capazes de perceber a correspondência do objeto desejado com nosso coração, ao nosso coração. Quando olhamos para as coisas de dentro da relação com aquele Homem, nós as vemos mais, entendemos mais se estão ou não de acordo com o que o nosso eu espera, com o que o nosso coração exige. [...] A fé realiza, salva a razão. Realiza-a, pois a razão aspira a algo que não consegue aferrar, que não consegue explicar. A fé salva a racionalidade, que é como que sua grande premissa. A racionalidade é uma premissa à fé, é como o campo imediato no qual o acontecimento de Cristo entra em tensão.
(“Una fede ecumenica”, in Un caffè in compagnia, pp. 145, 149, 153)

1997
A coleção “Spirto Gentil
Quando eu lecionava no primeiro colegial, para demonstrar a existência de Deus, eu ia da minha casa ao Berchet carregando um toca-discos [...]. Uma das primeiras peças que fiz que escutassem foi esta, de Beethoven [Concerto para violino e orquestra, op. 61; nde.]. [...] Quando os fiz escutar este concerto de Beethoven, onde há o refrain que chamei “da comunidade”, quando toda a orquestra entra e há sempre a mesma melodia, depois por três vezes o violino, que representa a singularidade, foge e vai para o seu destino, até que, cansado, é retomado pelo tema melódico da orquestra inteira, quando escutávamos a peça, na sala daquele primeiro “E”, onde reinava absoluto silêncio, uma moça que estava no primeiro banco, à direita, que se chamava Milena Di Gioia – eu lembro ainda – de repente desatou num copioso pranto, que não parava mais. Deixei-a prosseguir um pouco e depois disse: “Entende-se bem a diferença que existe entre alma e alma, entre sensibilidade e sensibilidade, entre còre e còre [coração, em dialeto milanês; nde]”; os outros certamente não chorariam. Por isso, desde aquela época esta peça tornou-se mais significativa para mim. Aquela paixão que o tema fundamental gera [...], esta paixão é o emblema da espera de Deus que há no homem.
(É possível viver assim?, pp. 249-250)

1998
O 30 de maio na praça de São Pedro
Agradeço a vocês, amigos! O que aconteceu no sábado, 30 de maio, aconteceu porque vocês existem, vocês também, juntos. É só o estar juntos que faz. Deus, de fato, está onde existe a unidade.
Sábado, dia do encontro com João Paulo II, foi para mim o maior dia da nossa história, que se tornou possível pelo reconhecimento do Papa. Foi o “grito” de testemunho da unidade que Deus nos mandou, unidade de toda a Igreja. Pelo menos o considerei assim: somos uma só coisa. Eu disse isso também a Chiara e a Kiko, que estavam a meu lado na praça de São Pedro: como é possível, nessas ocasiões, não gritar a nossa unidade?
E, além disso, pela primeira vez percebi tão intensamente o fato de existirmos para a Igreja, de sermos fator que constrói a Igreja. Senti-me agarrado pelas mãos e pelos dedos de Deus, de Cristo, que moldam a história.
Nestes tempos comecei a entender verdadeiramente – e sábado mais ainda – a responsabilidade à qual Deus me chamou. Eu não entendia, mas sábado ficou claro. E esta responsabilidade é tal na medida em que se comunica aos outros precisamente como responsabilidade. Ela é verdadeira quando é por toda a Igreja e, portanto, por todo o Movimento; quando é uma obediência ao fato de que – como diz São Paulo – “nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo, pois se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14, 7-8).
É Deus que age naquilo que fazemos: “Deus é tudo em tudo”. A nossa responsabilidade é pela unidade, até o ponto de valorizar mesmo a menor coisa boa que existe no outro.
Afeiçoadíssimo,
padre Luigi Giussani
(Carta à Fraternidade de CL. Milão, 3 de junho de 1998)

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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