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Passos N.100, Dezembro 2008

RUBRICAS

Cartas

Conhecimento de si

Uma amiga nos enviou esta carta que recebeu de sua colega de trabalho, a quem havia convidado para o encontro de dia de início do ano.

Caríssima, lendo essas histórias fiquei toda arrepiada (os testemunhos do padre Aldo e de Vicky, ndr), não sei bem por quê. Como me arrepiei ontem ao ouvir alguns conceitos dos quais estou bem consciente e que procuro viver diariamente e aos quais padre Carrón, e vocês, dão o nome de fé. Eu me arrepio quando leio as palavras de Vicky: “Quando há um chamado, a gente só tem que responder sim”. Eu me arrepio porque vejo como é fácil a gente falar de si, expressar o próprio ser homens, e como o mundo complica isso. Todos se escondem atrás de motivações do tipo “reserva, dignidade, pudor, medo, dificuldade”, em vez de se abrirem, mas vocês falam das coisas mais intensas do mundo como se falassem de uma simples macarronada. As pessoas, para justificar o próprio fechamento, dizem: “É o meu jeito, eu sou assim, não somos todos iguais”; eu, ao invés, penso que todos somos iguais. Que o amor é amor, que a dor é dor. E que está mal quem não consegue expressar isso; coisa que Vicky e aquele sacerdote cujo nome não lembro conseguiram fazer. Escrevi aos amigos alguma coisa sobre o encontro, passei a eles algumas frases que me impressionaram, como aquela sobre a obediência ou sobre a gente viver seguindo as orientações do próprio coração. Não sei se eles vão me entender; talvez até pensem que estou sendo sentimentalista. Mas foi uma experiência minha e, depois que a gente experimenta essa vertigem, não tem mais como voltar atrás, porque aí, de fato, está a plenitude do coração. O resto é tédio. Até o voluntariado, se for praticado como uma obrigação, é tédio. O próprio amor entre homem e mulher é tédio, porque, no final, sem essa plenitude, ele se torna só um disfarce de algo impossível de ser alcançado. Agradeço por você ter me ajudado a tomar consciência de uma coisa que – posso garantir – já existia dentro de mim, mas à qual eu não conseguia dar um nome ou uma forma. Muita gente – eu inclusive – procura o psicoterapeuta para conseguir chegar ao conhecimento de si e à possibilidade de expressão, que, no final das contas, já está aqui: simples e clara, e além de tudo gratuita. Eu disse ao analista que estava toda satisfeita com os meus “progressos”: “Olhe, eu estou recebendo ajuda também de outras pessoas. E ousaria dizer que é até mais intensa”. Agora, é impossível, para mim, deixar de me fascinar com este percurso.
Barbara

Novo início
No último dia 5 de outubro morreu o pequeno Francesco, uma criança de dois anos e meio que frequentava a creche “La Carovana”, em Modena, que conta também com escola maternal, ensino fundamental e médio, e onde eu trabalho como professora. Esse fato representou um novo início para os professores, para os pais das crianças, para os coleguinhas da escola maternal (frequentada pela irmãzinha de Francesco). Um recomeço que se tornou possível graças à ajuda recebida da diretora Anna, que decidiu escrever, junto com Sabrina e Giovanni (outros dois diretores), uma carta a todos os pais. “Prezados pais, há uma pergunta fundamental que em acontecimentos como a morte de Francesco se torna inevitável: por que vivo? Por que trabalho? Por que me dedico todos os dias? Por que me entrego à educação dos filhos? A comoção não basta, como dizia uma mãe: depois de três dias ela passa. Não percamos a grande graça que Francesco nos proporcionou, não deixemos cair no vazio essa pergunta, que é uma grande ocasião para descobrir aquilo pelo qual vale a pena viver, amar, sofrer, alegrar-se; a pergunta que pode fazer de cada um de nós homens verdadeiros, testemunhas de uma promessa de bem, pela qual fomos criados. Estamos juntos por causa disso, para ser uns para os outros memória da grande pergunta e sustentarmo-nos na caminhada da vida. Certos eventos recolocam as coisas em sua justa dimensão e dão a elas o seu devido valor; é como se não nos fosse mais permitido ser superficiais; esse misterioso evento nos pergunta como vivemos os afetos em família, com os amigos, com os colegas, nos pergunta o que, de fato, tem valor nos nossos relacionamentos. Aceitar esse desafio é a mais bela lembrança que podemos dedicar todos os dias, a cada instante, a Francesco e à sua família”. Nos dias seguintes, a vida cotidiana é retomada e algo aconteceu nas classes, entre professores e alunos, no pátio da escola, entre pais e mestres, no carro e em casa, entre papai e mamãe e filhos... Para não deixar “escapar” esses pequenos fatos, os Amigos da Carovana (famílias que apóiam a proposta educativa da escola) e Anna propuseram um encontro para diálogo e, na noite de 13 de outubro, o auditório da escola estava lotado. “Não estamos reunidos para uma comemoração, mas para nos ajudar a enfrentar o que aconteceu, a fim de que seja um algo-mais na vida de cada um”, destacou Anna. Foi surpreendente ouvir os depoimentos de muitas mães que tiveram a coragem de abrir o coração e compartilhar com os outros o drama que viveram com a morte daquela criança, as dificuldades surgidas na tentativa de explicar o acontecido aos próprios filhos, e ainda mais chocante foi reconhecer a simplicidade e a profundidade com que as crianças viveram aqueles dias. Por exemplo, uma mãe, quando voltava da escola, disse ao filho dentro do carro: “Vou te dizer uma coisa muito feia...”, e ele a interrompe: “O quê? Sobre a morte de Francesco? Mamãe, nós não podemos fazer nada, mas podemos brincar com a irmãzinha dele”. E outra mãe contou: “Com a morte de Francesco, caíram por terra as minhas pequenas certezas; não gostaria jamais de estar na pele dos pais dele, e agora rezo e peço, porque preciso...”, essa necessidade é a verdadeira necessidade, a necessidade de um Outro.
Cristina,
Modena – Itália


Bom desígnio
Prezada redação, fiquei sabendo da vossa existência depois de uma carta que me foi enviada da prisão onde meu irmão está detido há três meses, acusado de uma suposta extorsão. Escrevo-lhes porque nunca havia percebido tanta esperança nas palavras desse meu irmão. Nós somos uma família de fé, e hoje mais praticante do que nunca, porque percebemos que só a luz de Deus está nos permitindo continuar caminhando. Meu irmão me mandou fotocópias de uma vossa publicação. Era a carta escrita por cinco presidiários da prisão de Brucoli a um jovem, André, que tinha leucemia e que depois faleceu (cf. Passos julho/2005; nde). Meu irmão pediu que eu lesse aqueles escritos e visse o que um presidiário é capaz de fazer! Chorei, e choro ainda neste momento, porque li aquelas linhas de um fôlego só e me dei conta de que a misericórdia de Deus e a Sua justiça podem chegar onde o homem não é capaz, pois chegaram ao coração do meu irmão, porque eu li nas entrelinhas que o único pensamento que lhe permite continuar caminhando e não desanimar na batalha para demonstrar a sua inocência é crer que toda a sua dor e o seu desespero são fruto de um desígnio do Senhor. E se é verdade que toda a dor que estamos experimentando será recompensada por Jesus Cristo, então todos continuaremos firmes nessa luta.
Carta assinada

Estar em casa
Caro padre Julián, estudo italiano na Universidade Católica Fu Jen de Taipé (onde me deram o nome de “Valéria”). Sou uma moça tailandesa, taoísta, que vai ao templo junto com a família. Rezamos pela paz em casa, para ter sucesso nos estudos. Quanto à religião católica, para mim era uma coisa completamente desconhecida; como, aliás, o é para a maioria dos taiwaneses. Ao frequentar um curso opcional intitulado “Religião e Arte”, dado pelo padre Paolo Costa, comecei a conhecer a história de Jesus e, aos poucos, a fazer amizade com os três padres que são também meus professores – Costa, padre Paolo Cumin e padre Emmanuele Silanos –, mas, sobretudo, comecei a ir à missa que eles celebram. Em julho, me mudei para a Itália para estudar italiano em Perugia e agora moro junto com alguns colegas católicos ligados ao Movimento. Estou feliz porque minha vida, agora, é cheia de coisas interessantes e, para mim, novas. Estar num outro país e começar a se tornar amiga de estrangeiros é uma coisa muito bonita. Padre Emmanuele me convidou para participar do Meeting de Rímini e durante o encontro que eles fez lá, contou a sua experiência dos últimos dois anos em Taiwan. Aquele dia, no salão, tão logo vi o padre Emmanuele, me senti em casa: jamais poderia ter pensado que um italiano, um dia, me transmitiria essa sensação de estar em casa. No começo da sua palestra, passaram um trecho de um documentário dedicado a Taiwan (O vento de Deus), no qual aparecem os três padres brincando com as crianças no pátio da igreja ou ensinando italiano na escola. Esses padres, por causa de sua fé, deixaram a própria casa para ir morar num país estrangeiro, tiveram que compreender uma cultura totalmente diferente da deles, precisaram aprender o chinês para transmitir a boa mensagem de Jesus Cristo. A coisa mais importante não é quantas pessoas se tornaram cristãs por causa do encontro com eles, mas que eles se tornaram nossos amigos, acompanham o nosso crescimento, nos dias felizes e nos dias tristes. Por meio de Paolo, Costa e Lele aprendi uma alegria simples, mas que é capaz de influenciar os outros. Mesmo que eu não seja batizada, talvez eu tenha entendido qual é o verdadeiro ensinamento de Jesus: a capacidade de amar.
Du Kan Qian,
Perugia – Itália


Ajuda de Nossa Senhora
Queridos amigos, escrevo para contar um pouco de como o Movimento tem me ajudado a abraçar os fatos que ocorrem na vida. Conhecei CL através de Dom Guido em 1993, na paróquia Cristo Redentor. Ele, de uma forma muito simples e dinâmica, mudou o rumo e o sentido de minha vida. As dificuldades continuavam a existir, porém eu as olhava de forma positiva. Passaram-se os anos, eu entrei na universidade e finalmente consegui vaga em uma república. Eu já estava segura de mim, digamos assim, pois tinha trabalho e um local seguro para morar. Foi aí que eu engravidei e tive novamente o ombro e a companhia de Dom Guido que me acolheu como um pai. Todos na república me diziam que eu era louca em levar a gestação em frente, pois ter um filho naquele momento atrapalharia a minha vida. Não dei ouvidos e logo tratei de avisar a todos que seria mãe. Todos me questionavam como seria a minha vida e diziam que eu estava muito passiva diante daquele fato. Realmente eu experimentava uma tranquilidade muito grande. Lembro-me muito de sempre pedir ajuda a Nossa Senhora. E assim levei a gestação adiante e fiquei na república até o oitavo mês. Como minha família reside longe, achei mais cômodo ter meu filho em Salvador. Visitei a maternidade e aparentemente estava tudo certo. Depois de alguns dias, eu fui à maternidade novamente para ver como estava a gestação e o médico disse que eu deveria ficar internada para a realização do parto, pois já havia passado alguns dias. A princípio tudo bem, porém, quando vieram as contrações percebi uma certa preocupação na expressão do médico. Foram horas de dores e dúvidas, pois temia muito a perda do meu filho. Nesse momento, sempre pedia a misericórdia de Nossa Senhora. Finalmente, Thiago nasceu e, devido ao fato de ter o cordão umbilical envolvido no pescoço, estava praticamente sem vida, e não conseguia chorar para assim poder respirar. Levaram-me para outra sala e eu ainda muito debilitada ouvia toda movimentação médica para salvar a vida do meu filhinho. Foi aí que eu fiz um pedido assim: “Por favor, Nossa Senhora, vai lá, pega meu filho e cuida dele como a Senhora cuidou do menino Jesus”. Foi só eu fechar a boca e Thiago começou a chorar. Chorava tanto que não deixou mais ninguém dormir. O médico, muito exausto dos procedimentos, sentou-se na cama ao lado da minha e disse: “Foi um milagre o seu filho ter sobrevivido!”. Hoje, Thiago tem 4 anos e, por causa destas complicações no parto, precisa fazer tratamento de reabilitação. E o milagre é visível, pois todos os médicos que o atendem ficam surpresos com a evolução dele, pois por tudo que ocorreu se esperaria que ele ficasse atrofiado em uma cadeira de rodas. E, graças a Nossa Senhora, Thiago nunca teve convulsão e é uma criança muito dinâmica. Mostro ao mundo a criança maravilhosa que Cristo me deu e agradeço a cada manhã pela presença dele, que me faz fazer memória de Cristo. Thiago, com o seu olhar brilhante, cativa a todos que o encontram, seja no ônibus, na rua, na creche. Todos falam do seu olhar e da sua determinação perante os obstáculos que ele, de forma muito simples e criativa, supera a cada dia. Novamente sou questionada porque, mesmo tendo um filho com essa limitação, encontro disposição para estudar, trabalhar, fazer a reabilitação, levá-lo para creche, sair com ele no final de semana e tenho sempre um sorriso no rosto. A resposta é simples: a presença de Cristo através de meu filho, na Escola de Comunidade, no encontro das crianças, na Associação Famílias para Acolhida, na missa... É a certeza de que eu sou Tu que me fazes!
Paula,
Salvador – BA


Eleições na escola
Caro Carrón, há três anos faço parte do grupo dos colegiais. Sou uma pessoa apaixonada por política e todo ano faço uma lista, com meus amigos do Movimento, para nos candidatarmos para o Conselho do Instituto. Este ano, não pudemos fazê-la, tanto por motivos técnicos quanto pela falta de gente que quisesse aceitar este desafio. Então, como eu continuava interessado em me candidatar para fazer entender que é possível viver a escola de um modo diferente, pedi a um colega que me aceitasse na sua lista. Inicialmente, eu pensei que tinha menos valor uma lista que não fosse constituída só por “colegiais”, mas depois comecei um trabalho divertido e muito útil com meus novos colegas de lista, o que me levou a conhecer melhor Paolo, que era um deles. Nasceu, então, uma belíssima amizade entre nós. Eu o convidei para uma assembléia dos colegiais. Ele não só apareceu como ficou muito impressionado com o fato de haver tantos jovens como ele que haviam encontrado Alguém maior. Ele também foi ao encontro de dia de início de ano em Pádua, e me agradeceu por tê-lo convidado e por ter criado a ocasião para ele conhecer “uma coisa tão bonita”. Eu não tenho um temperamento muito fácil e ultimamente me lamentava de algumas coisas que estavam acontecendo nos colegiais, por causa de vários preconceitos de minha parte e de algumas pequenas verdades. Mas aconteceu aquilo de que eu estava precisando! A amizade com Paolo me fez reabrir os olhos.
Giovanni,
Ferrara – Itália


Nascer de novo
Caros amigos, estou escrevendo para contar-lhes sobre a minha recente experiência de ter visitado a Itália. Há muito tempo eu tinha vontade de ir a Rímini para ver de perto o Meeting e, por isso, vinha fazendo uma poupança. Neste ano, procurei alguém para ir comigo e fiquei na expectativa, colocando tudo nas mãos de Deus. Queria muito viver esta experiência e pedia que, se fosse para o meu crescimento, que o Senhor encaminhasse as coisas. Decidi não ter nenhum preconceito e deixar-me guiar pela companhia, sem questionar muito. Para quem me conhece, sabe o quanto isso é difícil para mim, pois sou muito teimosa, mas aceitei esperar que o Senhor Deus escolhesse alguém para viver esta aventura comigo. Logo, a Mirtes me comunicou que viajaria comigo, junto com Gisa e Renata. Nenhuma delas era do meu convívio, mas eu disse para mim mesma que isso não seria empecilho para que eu vivesse algo muito maior, pois apesar de nos encontrarmos pouco, fazemos parte do mesmo carisma que nos uniu um dia. Então, disse para Mirtes tomar todas as decisões necessárias e elas traçaram o roteiro de onde iríamos. E aconteceram muitos fatos que me mostraram como o amor Deus por nós é grande. Primeiro, eu tinha que comprar a passagem e ainda faltava um pouco de dinheiro e inesperadamente recebi um complemento salarial exatamente no valor que faltava. Resolvido este impasse, faltava o dinheiro para comprar os Euros, e então no mês de julho recebi a restituição do imposto de renda, logo no segundo lote. Eu que sempre recebi no mês de setembro, não sabia se ria ou se chorava, tamanha era a minha felicidade. Senti-me totalmente abraçada por Deus. Na escola propus para um colega dar as minhas aulas e eu lhe pagaria. Ele topou e não cobrou nada dizendo que faria com prazer, pois é devoto de Nossa Senhora como eu. No dia 17 de agosto, às 17 horas, começou nossa aventura. Chegamos a Lisboa no dia 18 pela manhã e fomos ao Santuário de Fátima. Foi uma emoção muito grande saber que estávamos onde Nossa Senhora apareceu. Lembrava do canto do Movimento, “como é grande a tua bondade”, sentia que era um milagre que estava se realizando em minha vida e agradecia continuamente, pois era tão belo estar ali que eu só podia agradecer. À noite, fomos para Milão e a Luciana nos esperava no aeroporto e nos levou para o hotel. Quanta bondade e disponibilidade naquela pessoa. Novamente o Senhor me mostrava que eu tinha que confiar na companhia e, cada vez mais, eu tinha certeza de que “eu sou Tu que me fazes”. Eu estava radiante e no dia seguinte fomos conhecer Milão. O nosso principal objetivo era visitar o túmulo de Dom Giussani e, quando estávamos a caminho, encontramos Dom Filippo. Que alegria! Abracei-o saltitante e experimentava uma letícia inexplicável. No cemitério, eu não fiquei triste como era de se esperar, mas me veio uma certeza nunca antes sentida. Ali estava alguém que nunca me viu, nem sabia quem eu era, mas que havia me amado, amado muito, com um amor irrestrito, então chorei. Chorei muito, agradecendo ao Senhor Deus pelo carisma que deu a Dom Giussani e agradecia por ter me feito encontrar esta companhia de amigos que, de modo tão singelo, me abraçara sem olhar para minha pequenez. Agradecia continuamente pela vida de todos os que eu consegui lembrar. Eu me dava conta da palavra fraternidade e pensava: “Senhor, obrigada pelos meus fraternos”. Ali, diante de Dom Giussani, eu pude perceber que ele fora para todos nós um pai e todos nós somos irmãos e que Deus olhou para todos nós usando Dom Giussani como instrumento de amor. Depois, fomos para Chiavari, na casa de padre Giorgio, que morou muitos anos em Brasília. Eu esperava ansiosa por este momento, pois o Giorgio é para mim um pai e eu o amo muito. Foi tudo muito lindo. Fomos conhecer alguns lugares da região e eu – que morro de medo de altura – até andei de bondinho, para irmos ao Santuário de Nossa Senhora do Monte Alegro. Na casa do padre Giorgio, conhecemos um casal de amigos, Francesco e Angela, e suas filhas. Este casal foi para mim exemplo de simplicidade, amizade e dedicação. Os dois passaram o dia todo cuidando de nós como se já nos conhecessem há muito tempo. No jantar, percebi que eu não posso ficar esperando que os outros façam, que me procurem, pois sou eu que tenho que ter abertura e me jogar nas coisas. Pois eu já fui chamada, já tive a oportunidade de conhecer o carisma, e se o que encontrei é verdadeiro para minha vida, não posso continuar sentada esperando que outros façam por mim. Hoje, me sinto como Nicodemos, não mais fazendo a pergunta: “Senhor, o que faço para nascer de novo?”. Já tenho a resposta. Não me perguntem por que eu tive que ir tão longe para obter a resposta, porém, hoje, passados quase dois meses da viagem, digo que nasci de novo aos 54 anos, e reconheço como Deus tem sido bom para mim. Sinto-me abraçada por Deus como nunca tinha sentido antes.
Glória,
Samambaia – DF


Viver o real
Caríssimo padre Carrón, a partir das férias, ocasião privilegiada para experimentar uma plenitude de experiência e comunhão, favorecida pelas férias junto com a comunidade – daquela vivida com os meus amigos da Fraternidade e pelas jornadas passadas no Meeting de Rímini –, eu vivia um certo mal-estar, porque notava que aquela exigência de que isso permanecesse no trabalho, na família, no dia-a-dia, evidenciava uma desproporção, tudo era aparentemente árido. O que estava faltando nesse trabalho? No encontro de dia de início de ano, você propôs uma provocação falando da Escola de Comunidade: que seja sempre um confronto com a realidade e a experiência que fazemos dela. Depois de 25 anos, descobri de fato que aquilo que me falta é um real trabalho de Escola de Comunidade; não que não tenha participado dela, mas participando eu falava daquilo que Dom Giussani dizia. Esta semana estive com uma cliente para pegar uma velha fatura que ela me devia; fui com a cabeça feita e decidido a tomar uma atitude, mas ao encontrá-la, olhando nos seus olhos e ouvindo-a falar das dificuldades que estava vivendo (a obrigação de transferir a empresa, que coincidiu com a doença e a morte do marido, a ausência forçada do trabalho, as dificuldades se acumulando, o aperto dos especuladores...) e que haviam colocado a firma em situação difícil, me surpreendi olhando-a com a compaixão com que Cristo deve ter olhado a viúva de Naim, que havia perdido o filho. Comparando esse fato com a razão que havia me levado até ela, percebi que o coração me dizia alguma coisa diferente do meu propósito inicial, acabei obedecendo ao meu coração e redirecionei o rumo da conversa. Qual foi o juízo que me permitiu fazer essa mudança? Fazer memória de tudo o que você anda nos dizendo ultimamente, vivemos o real fazendo experiência de Cristo, tendo nos olhos e no coração essa misericórdia que desceu até a mim e abraçou o meu nada. Se vivermos assim, até o que aparentemente é mais árido se transforma, e assim construímos, ali onde estamos, um pedaço de humanidade renovada, a Igreja.
Franco,
Abbiategrasso – Itália

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón