As comunidades de São Paulo e Rio de Janeiro se uniram para a peregrinação mariana no Santuário Nacional. Foi o primeiro gesto em comum com a Associação dos Trabalhadores Sem-Terra de São Paulo, depois da entrega desta comunidade ao Movimento de Comunhão e Libertação. Como guia as palavras de Carrón: “Que possamos ver aquilo que o Senhor faz acontecer entre nós”
Quando ela desceu do ônibus, teve a certeza de que os passos que daria dali em diante a ajudariam a alcançar o milagre que esperava. Seguiu calada, rezando e acompanhando as centenas de amigos da Associação dos Trabalhadores Sem-Terra e do Movimento Comunhão e Libertação (CL), que também seguiam a pé para o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no dia 25 de outubro. As pernas, doentes, não doíam. Assim que chegou à Basílica, procurou a capela e decidiu se confessar. Era o passo que faltava para conseguir a graça que pretendia.
“Vivi em pecado por mais de oito anos, me relacionava com um homem casado. Nos últimos quatro meses, vinha pedindo a Nossa Senhora que ajudasse a me libertar disso. Quando iniciei a caminhada, sabia que seria atendida. Depois que voltei de Aparecida e atendi o telefonema daquele homem, me chamando pelo nome, disse a ele que esta pessoa a quem ele procurava não existia mais. Desliguei o telefone e ele nunca mais ligou. Sou mais feliz agora”, conta a mulher sexagenária, entre lágrimas.
O relato do que ela considera um milagre na sua vida está entre os vários que confirmaram a impressão do padre Julián de La Morena sobre a peregrinação: “As pessoas se deixaram olhar por Nossa Senhora. Eu observava como elas se moviam, em silêncio, em direção à imagem de Aparecida. A partir dali, vi gente voltar a freqüentar a comunhão, a confessar, depois de muito tempo afastada dos sacramentos. Encontrei tanto jovens como velhos realmente tocados pelo olhar de Maria, pessoas que se deixaram olhar pelo Mistério que olha a cada um”, diz o sacerdote que, pela primeira vez, acompanhava a peregrinação a Aparecida.
Cláudio, 20 anos, que participa do grupo dos universitários (CLU), diz ter feito também uma experiência de “milagre” nesta peregrinação. “Assim que acabou a missa, pela manhã, antes de embarcarmos para Aparecida, fui encarregado de cuidar da cruz. Eu não queria fazer isso porque sabia que exigiria um grande esforço. Obedeci, mas não conseguia rezar durante o trajeto. Caminhava distraído, como nos anos anteriores, sem me dar conta do que repetíamos. Ouvindo as pessoas rezarem, e sem conseguir acompanhá-las, pensei: ‘que o sacrifício de carregar a cruz, sob o sol, seja minha oração’. Quando estávamos quase chegando à Basílica, entreguei a cruz a outra pessoa. A partir daquele momento, fiquei atento a tudo, cantava de verdade! Lembrei do que uma amiga já tinha me dito outra vez: até para rezar é preciso pedir porque nem isso a gente consegue”, conta o estudante.
A distração, até mesmo numa curta caminhada como aquela a Aparecida, é inevitável, lembrou Bracco, responsável nacional de CL, antes de começar o percurso. “Iremos fugir com os pensamentos, mas com essa companhia, com a companhia dos amigos verdadeiros e a de Nossa Senhora, podemos retomar sempre o caminho e voltar. E assim essa familiaridade (com Cristo) poderá aumentar, até pensá-Lo, percebê-Lo presente como era e é presente para Maria”.
Mais amigos
Cláudio já tinha participado muitas vezes da peregrinação a Aparecida com o Movimento. O encontro com amigos de outros Estados sempre era a grande motivação, diz. Neste ano, a experiência de encontrá-los, após a caminhada, foi ainda mais bonita, afirma o jovem. “Sou muito grato por esta peregrinação, com todo o cansaço. Depois dela, percebi entre os meus amigos um desejo maior de ficarmos juntos, tanto que marcamos um churrasco já para o dia seguinte. Isso me ajuda a ficar mais atento. Ainda me distraio, mas aprendi que até para rezar é preciso pedir”.
Responsável pelos universitários, padre Julián conta que, no retorno a São Paulo, após a caminhada, o clima no ônibus era outro. “Na volta, eram mais amigos, eram pessoas tocadas de verdade pelo olhar de Maria”.
Um pedido
“Um dos meus amigos me perguntou qual pedido eu tinha a fazer a Nossa Senhora Aparecida. Nunca tinha pensado, até então, em ir a Aparecida e pedir alguma coisa... Nas vezes anteriores em que fui lá, sempre fui com a intenção de fazer compras nas feiras livres e barracas. Quando fui convidado este ano, por uma amiga do Movimento, achei diferente o termo que usavam: falavam de um gesto...”, conta Charles, do Rio de Janeiro.
A experiência deste ano foi um momento muito especial, garante o jovem. “Olhar aquelas pessoas que caminhavam em direção à basílica, aqueles rostos necessitados, como o meu, pedindo e agradecendo juntos. Olhar pra essa experiência e ver que esse gesto, fez um sentido, que não encontrava quando visitava a basilica antes de encontrar o Movimento, há sete meses. Agora tinha um motivo, uma intenção. O encontro com aquelas pessoas que eu não conhecia, com aquele calor, me fez perguntar o porquê de estar ali, senão por Cristo?
Tornar Cristo familiar, vendo-O nos fatos, como Ele foi um fato na vida de sua mãe – um fato que ela viu chorar e rir, ressuscitar os mortos e morrer na cruz –, foi o pedido proposto aos mais de 800 participantes da peregrinação a Aparecida neste ano. O gesto reuniu amigos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
“Que possamos ver aquilo que o Senhor faz acontecer entre nós”
A nossa maior dificuldade, dizia Carrón, é que, para nós, Cristo é abstrato. Muitas vezes nós dizemos: “Mas, onde Ele está?”. Temos que ter a coragem de nos fazer essa pergunta: “Mas, para nós, Cristo é uma coisa real?”. Podemos ser cristãos, participar da vida da Igreja há dez, vinte anos, podemos ser do Movimento há muito tempo, mas sem Cristo! Sem a alegria, sem a satisfação, sem a paz que só uma presença real, só a presença real d’Ele pode gerar.
É aquele Homem, sobre o qual narram os Evangelhos, que nós procuramos todos os dias. É aquele olhar que precisamos encontrar dentro das dificuldades, das alegrias e tristezas dos nossos dias, é aquela familiaridade que nos falta. A familiaridade que Maria tinha.
Para Maria, Cristo não era abstrato! Era o filho dela, era o tudo dela! Ela O viu chorar e rir, ressuscitar os mortos e morrer na cruz. Ela sempre tinha diante dos olhos fatos, Fatos! Como nós. Como Carrón nos indicou na intenção desta peregrinação: “Que possamos ver aquilo que Ele faz acontecer entre nós”.
Poderemos, olhando para Nossa Senhora, nos ajudar a não deixá-Lo se tornar uma abstração, a reconhecê-Lo a partir dos fatos que Ele faz acontecer entre nós. Se nos identificarmos com ela, se pensarmos nela, e pedirmos a ela, poderemos arrancar de nós todo essa abstração, poderemos chegar a ver os traços inconfundíveis da presença d’Ele hoje, porque ela é a “certeza da nossa esperança”, como nos dizia Dom Giussani.
(Saudação inicial de Bracco)
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón