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Passos N.118, Agosto 2010

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A história

Os passos de Simon

Este é um dia triste. Tem sido um período duro, pois Thiago, brasileiro, está partindo para Roma e Luca, italiano de Pádua, acabou de se mudar para o Chile. Assim, Simon se vê sem os companheiros de todos os dias. Inseparáveis, há um ano fazem tudo juntos. Encontraram-se na pós-graduação em economia, motivo pelo qual Simon saiu de Nairóbi e mudou-se para Milão. Desde então, os três estão sempre juntos. Simon nunca tinha vivido uma amizade tão intensa. Precisava se esforçar para lembrar que, vistos de fora, eram três pessoas de etnias diferentes: Quênia-Itália-Brasil. E talvez também seja por isso que nunca tenha se dado conta de alguns olhares pelas ruas. Até hoje.
Com Marta, acompanha Thiago até a Estação Central. Abraçam-se. E o amigo entra no trem que o levará à capital. Segundo golpe, em tão pouco tempo. Que bom que Marta está ali. Marta foi a primeira pessoa que Simon conheceu quando chegou em Milão. Quando pensa, fica maravilhado pelo modo como se tornaram amigos. Como, sem perder tempo, ela encheu sua vida com outros amigos. Tanto que o trio tinha aumentado.
Quando o trem se afasta, ele e Marta se olham, não há necessidade de dizer nada. Deixam a estação em meio à multidão apressada. E, quando estão finalmente fora, param para conversar. Em meio ao vai-e-vem na saída da escada rolante do metrô, falam daquilo que estão vivendo. Estavam impacientes para conversar sobre isso. Estão ali. Ela, uma bonita italiana, ele, muito negro.

“Está tudo bem?”. Quem pergunta é totalmente desconhecido, um homem grandão. Não olha para Simon, apenas para Marta. Coloca-se a sua frente, para protegê-la. “Está tudo bem? Precisa de alguma coisa? Quem é este?”. “Olha, está tudo bem”. Marta fica incomodada. “Tem certeza?”. “Claro. Não preciso de nada. Pode ir”. Mas ele não vai embora. Começa a fazer perguntas, insiste. Pergunta se Simon é um clandestino e o que faz ali. “É um amigo meu, está tudo bem”. Simon fica em silêncio. É difícil ouvir as palavras daquele homem que olha para Marta, e depois para ele de uma maneira diferente, fixamente. Simon sorri para ele e o sujeito se afasta. De longe, observa, depois se vai.
Há como uma pausa no ar. Ele e Marta se olham. Outra vez sem dizer nada. Depois, começam a falar de onde tinham sido interrompidos.

Simon vai a pé para casa. Tem vontade de caminhar um pouco. Caminha e olha para seus passos. Olha para os braços, para a cor da pele e lembra as perguntas daquele senhor. “Por que será que eu não me senti mal?”. Mal terminou de perguntar-se e a resposta aparece diante de seus olhos. “Marta estava lá. Eu estava com ela”. Não precisou nem pensar quando estava ali. O relacionamento com ela era mais forte do que aquele homem. Era mais decidido do que aquele tom de voz desconhecido. “Era mais intenso. Não poderia escolher algo menor, como me irritar. Não podia escolher reagir como aquele senhor”. Em pé, na praça em frente à estação, havia duas coisas. Uma delas era interessante: “A amizade com Marta. Uma presença”. Que faz com que ele veja a si mesmo. Olha para si: seus passos para casa, a cor da pele, seu estado de ânimo. “Estava presente de tal forma, que me mudou”. Sem que Simon fizesse nada.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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