Teresópolis. Gratuidade e gratidão
Participando da Coleta de Alimentos em Teresópolis, pude fazer uma experiência de beleza e gratidão. Gratidão porque desde o empenho para correr atrás de parcerias, de voluntários e organizar o gesto, fiz tudo sempre procurando responder até o fundo àquela exigência de bem que tenho dentro do meu coração, como aprendemos com Dom Giussani. Ali descobri que sou necessitada, mendicante. Eu sozinha não posso responder a essa exigência. Carreguei no canto dos olhos aquela frase de Dom Giussani quando diz que “o coração do homem é mendicante do coração de Cristo”. Eu poderia ter uma postura de autonomia, arrogante, onde buscaria resolver tudo com meu esforço ou ficar simples como uma criança, como um mendicante que se reconhece necessitado. Por isso, fazer o gesto junto com os amigos da Escola de Comunidade (EdC) foi fundamental. Durante a semana que antecedeu a Coleta pedi muito a Nossa Senhora para ter um olhar atento e simples, para abraçar a realidade da forma com ela se apresentasse, sem nenhuma objeção. Assim, ao ensinar um voluntário a abordar as pessoas, ao ensinar o nosso método ou confiar nos coordenadores de loja, ou ainda, ao abordar pessoalmente uma pessoa para pedir uma doação, eu pedia esse mesmo olhar. É um paradoxo que nós “vamos de encontro à necessidade do outro” e ao final, eu é que sou necessitada, como fala Carrón, “sou fome e sede de Cristo”.
Olhando para os mais jovens que estavam ali foi fácil fazer uma experiência de beleza e gratidão. Em um mercado eram os meus alunos e os universitários amigos da Nathália (à tarde chegaram para nos fazer companhia o Leandro, a Karin e o Gustavo, três amigos universitários do Rio de Janeiro); no outro, a maioria dos jovens eram os Escoteiros. Grande parte dos meninos eram os estudantes do 3º ano do Ensino Médio e existe uma grande pressão por causa do vestibular, onde se diz que a prioridade deles nesse tempo é só estudar. Eu os desafiei dizendo que participando da Coleta eles ficariam muito mais inteiros, muito mais livres e contentes diante de qualquer prova, aliás, diante de qualquer coisa. E eles toparam o desafio. Faziam tudo com uma alegria e simplicidade de coração que arrastava a todos nós adultos, porque era fascinante vê-los seguindo as indicações, se envolvendo entre eles e nas tarefas de abordagem das pessoas até na organização das caixas. Eram incansáveis! Também me tocou o testemunho disponível e alegre de três amigas da EdC que chegaram cansadas de um Congresso de educação e mesmo assim fizeram a diferença.
Alguns deixaram um pequeno testemunho, como a Danielle Leite que disse ter pensando em ficar na equipe de embalagem por ser tímida, porém quando chegou ao mercado e viu as pessoas passando sem serem abordadas, logo tomou iniciativa para não deixar passar ninguém. Ela disse ainda: “Foi uma experiência muito boa e acredito que a Coleta ajudou muito mais a mim do que a qualquer instituição. São nesses trabalhos que aprendemos a ser mais sensíveis às necessidades dos outros. A doação do nosso tempo e do nosso cansaço se transforma em alegria e bem para nossa vida. Contem comigo para o que precisar e obrigada por me proporcionar esta tarde de alegria e doação”. Já a Letícia Rosado disse: “Nunca havia participado de uma campanha que me deixasse tão feliz. Senti-me bem por fazer um pouco do que eu posso para pessoas que realmente precisam. Fiquei triste apenas com a pouca disponibilidade de certas pessoas em se doarem. Mas torço para que tenha sucesso a nossa ajuda”; Mariana disse: “O trabalho voluntário foi realizado num clima muito harmônico. É muito importante este tipo de trabalho; foi para mim um ato de doação do tempo, de disponibilidade e de caridade”; Ilson (adulto) falou: “Foi uma linda experiência, pois pude lembrar das vezes em que eu fui indelicado com as pessoas que me abordaram por qualquer motivo ou quando não parei para ouvir um filho, por exemplo. Pude ver também a desconfiança de alguns e a alegria da maioria das pessoas fazendo doações”. Já Gaby disse que aprendeu que “a nossa felicidade consiste em ver o próximo feliz. É bom dar e receber um sorriso de gratidão porque nesse gesto, nós doamos nosso tempo e recebemos em troca um sorriso, compaixão e acima de tudo, a solidariedade para com o próximo”. Os estudantes Duda Granito, Ricardo e Duda Strucchi agradeceram por estar participando da Coleta porque “essa experiência é incrível, espetacular e inédita em nossas vidas, e nos ajudou a crescer como pessoas. Hoje temos a certeza de que vamos fazer a diferença na vida de algumas pessoas”. Samuel, também do 3º ano, está saindo do colégio e me disse: “no próximo ano quero fazer a Coleta de novo, não quero ficar de fora”. Sandra, uma adulta que coordenou um mercado, disse que pôde realizar aquilo que Jesus disse: “Em verdade eu vos digo: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”. Por fim, Schirley, me escreveu dizendo: “Ao participar da Coleta de Alimentos, percebemos nitidamente a Presença d’Aquele que nos amou primeiro de forma incondicional e sem limites, fazendo com que esse amor transborde em nós e nos deixe ‘apaixonados pelo destino do outro’. Cristo nos espera em cada um que vai receber os donativos, Cristo se doa naqueles que doam alimento e carinho e naqueles que contribuíram com o tempo, o trabalho e a dedicação. Enfim, só nos resta agradecermos, agora e sempre, a Ele que está no meio de nós!”.
Sempre me marca o fato de que quando agradeço a pessoa por ter dado sua disponibilidade como voluntário, a maioria diz: “Eu é que devo agradecer por essa possibilidade que me foi dada de fazer o bem, de doar um pouco do meu tempo”. Ao final, eu agradeci a Cristo pela beleza daquele dia, cuja origem só pode ser Ele, e pedia: Jesus faça com que eu possa chegar em casa com esse olhar, faça que eu chegue no trabalho na segunda-feira com esse olhar assim aberto e disponível, simples, mendicante como eu vi e vivi hoje.
(por Ângela Rocha)
Aracaju. Novos encontros em terras sergipanas
Na pequena Aracaju, cortada pelos rios Sergipe e Poxim, a ponte Construtor João Alves, que liga a cidade à ilha de Santa Luzia (Barra dos Coqueiros), é sinal de progresso. A promessa do Governo do Estado é a de interligar todo o litoral. Mas nesta localidade com 500 mil habitantes há algo que vibra. A comunidade de CL tem menos de um ano, mas já tem muitos frutos.
Desde que Camilo conheceu o Movimento pela leitura do livro de Dom Giussani, É possível viver assim?, e depois, ao aceitar o convite de Otoney para ir a Salvador conhecer a comunidade mais próxima, foram muitos os acontecimentos e mudanças na vida deste jovem e de um grupo de amigos que o segue. Em 2009, a pertença ao Movimento se concretizou. Foram realizadas outras viagens, como para as férias em Paulo Afonso, para o casamento de um amigo em Belo Horizonte, para a peregrinação a Aparecida do Norte e a Coleta de Alimentos em Salvador. A intensidade com que este grupo começou a viver também pôde ser presenciada por muitos amigos que começaram a compartilhar alguns momentos com eles. Diversos amigos de Salvador, alguns de São Paulo e inclusive Bracco, responsável nacional do Movimento, tiveram a ocasião de visitar a comunidade local e realizar assembleias e momentos de convivência juntos. Uma ajuda aos recém-chegados, mas sobretudo uma graça para quem olha e aprende com a simplicidade deles.
Aqui, as coisas não param. Pelo desejo de compartilhar com todos os que encontram a grandeza da experiência que fazem, já são dois os grupos de Escola de Comunidade na cidade. Porque em Aracaju, como afirmou padre Carrón em um encontro no Brasil, “o cristianismo se comunica por inveja”. O grupo inicial reúne-se aos sábados à tarde. São jovens recém-formados, famílias novas e também alguns pais e amigos. Durante a semana, outro grupo se reúne na universidade estadual na hora do almoço. A partir da provocação de Camilo para começarem um grupo no ambiente estudantil, Lucas e Airton começaram convidando alguns colegas mais próximos, e quem gostou foi ficando e convidando novos amigos e inclusive professores.
No início de dezembro, foi realizado mais um gesto: o retiro de Advento. Padre Julián de La Morena veio de São Paulo e estavam presentes quarenta pessoas. Um gesto simples, em uma escola pública, como é público o caráter missionário de Comunhão e Libertação. O início com uma oração, uma breve meditação de padre Julián sobre o tempo de espera do Natal e o convite a um momento de silêncio diante da pergunta: “quem és Tu que me fazes assim?”. Após o almoço, a assembleia. Ali muitas pessoas puderam compartilhar a experiência vivida nos últimos tempos, a gratidão pelo encontro, a mudança que já se percebe de quem era triste e solitário e começa a florescer. Um novo início para todos.
(por Isabella Alberto)
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón