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Passos N.124, Março 2011

A PALAVRA DO PAPA

Levar a todos a comunhão que nasce do coração de Cristo

por Bento XVI

Discurso do Santo Padre aos participantes da Assembleia Geral da Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu. Roma, Sala Clementina, 12 de fevereiro de 2011

Caros irmãos e amigos, é com verdadeira alegria que vivo este encontro convosco, sacerdotes e seminaristas da Fraternidade São Carlos, aqui reunidos por ocasião do 25º aniversário de seu nascimento. Saúdo e agradeço o fundador e superior geral, Monse-nhor Massimo Camisasca, o seu con-selho, e todos vós, parentes e amigos, que circundam a comunidade. Particularmente, saúdo o Arcebispo da Mãe de Deus de Moscou, Dom Paolo Pezzi, e padre Julián Carrón, Presidente da Fraternidade de Comu-nhão e Libertação, que expressam simbolicamente os frutos e a raiz da obra da Fraternidade São Carlos. Este momento traz à minha memória a longa amizade com Monsenhor Luigi Giussani e testemunha a fecundidade do seu carisma.
Nesta ocasião, gostaria de responder a duas perguntas que o nosso encontro me sugere: qual é o lugar do sacerdócio ordenado na vida da Igreja? Qual é o lugar da vida comum na experiência sacerdotal?
A vossa amizade nascida do movimento de Comunhão e Libertação e a vossa referência vital à experiência eclesial que ele representa, põem diante dos nossos olhos uma verdade que foi se reafirmando com particular clareza desde o século XIX e que encontrou uma expressão significativa na teologia do Concílio Vaticano II. Refiro-me ao fato que o sacerdócio cristão não é fim em si mesmo. Isso foi querido por Jesus, em função do nascimento e da vida da Igreja. Todo sacerdote, por isso, pode dizer ao fieis, parafraseando Santo Agostinho: Vobiscum christianus, pro vobis sacerdos. A glória e a alegria do sacerdócio é servir a Cristo e ao seu Corpo místico. Isso é uma vocação muito bela e singular na Igreja, que torna Cristo presente, porque participa do único e eterno Sacerdócio de Cristo. A presença de vocações sacerdotais é um sinal seguro da verdade e da vitalidade de uma comunidade cristã. Deus, de fato, chama sempre, também ao sacerdócio; não pode haver crescimento verdadeiro e fecundo na Igreja sem uma autêntica presença sacerdotal que a apoie e alimente. Sou grato, por isso, a todos aqueles que dedicam suas energias à formação dos sacerdotes e à reforma da vida sacerdotal. Assim como toda a Igreja, de fato, também o sacerdócio precisa renovar-se continuamente, reencontrando na vida de Jesus as formas mais essenciais do próprio ser.
Os diversos caminhos possíveis para esta renovação não podem esquecer alguns elementos irrenunciáveis. Antes de tudo, uma educação profunda à meditação e à oração, vividas como diálogo com o Senhor ressuscitado presente na sua Igreja. Em segundo lugar, um estudo da Teologia que permita encontrar a verdade cristã na forma de uma síntese ligada à vida da pessoa e da comunidade: somente um olhar sapiencial pode, na verdade, valorizar a força que a fé possui de iluminar a vida e o mundo, conduzindo continuamente a Cristo, Criador e Salvador.
A Fraternidade São Carlos sublinhou, durante o curso breve, mas intenso, da sua história, o valor da vida comum. Tive a oportunidade de falar sobre isso em várias de minhas intervenções antes e depois do meu chamado ao trono de Pedro. “É importante que os sacerdotes não vivam isolados, mas que estejam juntos em pequenas comunidades, se sustentem e, assim, façam experiência do estar juntos no serviço de Cristo e na renúncia pelo Reino dos Céus e tomem cada vez mais consciência disso” (Luz do Mundo, 2010). Estão sob nossos olhos as urgências deste momento. Penso, por exemplo, na carência de sacerdotes. A vida comum não é uma estratégia para responder a estas necessidades. Não se trata, muito menos, por si mesma, apenas de uma forma de ajuda diante da solidão e da fraqueza do homem. Tudo isto pode haver, certamente, mas apenas se a vida fraterna for concebida e vivida como caminho para imergir na realidade da comunhão. A vida comum é, de fato, expressão do dom de Cristo que é a Igreja, e é prefigurada na comunidade apostólica, que deu lugar aos presbíteros. Nenhum sacerdote administra algo que lhe é próprio, mas participa com os outros irmãos de um dom sacramental que vem diretamente de Jesus.
A vida comum, por isso, expressa uma ajuda que Cristo dá à nossa existência, chamando-nos, através da presença dos irmãos, a uma configuração sempre mais profunda à sua pessoa. Viver com outros significa aceitar a necessidade da própria conversão contínua e, sobretudo, descobrir a beleza de tal caminho, a alegria da humildade, da penitência, mas também da conversão, do perdão mútuo, e do mútuo sustento. Ecce quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unun (Sl 133, 1).
Ninguém pode assumir a força regeneradora da vida comum sem a oração, sem olhar para a experiência e o ensinamento dos santos, particularmente dos Padres da Igreja, sem ma vida sacramental vivida com fidelidade. Se não se entra no diálogo eterno que o Filho mantém com o Pai no Espírito Santo, nenhuma autêntica vida comum é possível. É preciso estar com Jesus para poder estar com os outros. É este o coração da missão. Na companhia de Cristo e dos irmãos cada sacerdote pode encontrar as energias necessárias para cuidar dos homens, para encarregar-se das necessidades espirituais e materiais que encontra, para ensinar com palavras sempre novas, ditadas pelo amor, as verdades eternas da fé de que têm sede os nossos contemporâneos.
Caros irmãos e amigos, continuai indo a todo o mundo para levar a todos a comunhão que nasce do coração de Cristo! A experiência dos Apóstolos com Jesus seja sempre o farol que ilumine a vossa vida sacerdotal! Encorajando-vos a continuar no caminho seguido nestes anos, de bom grado concedo a minha bênção a todos os sacerdotes e seminaristas da Fraternidade São Carlos, às Missionárias de São Carlos, a seus familiares e amigos.

© Copyright 2011 - Libreria Editrice Vaticana

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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