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Passos N.128, Julho 2011

TESTEMUNHO - NA PRISÃO

Eu, na prisão pela primeira vez

por Alberto Savorana

Nunca tinha entrado na prisão de Pádua, apesar da insistência de Nicola Boscoletto. No fundo, pensava que os encontros que havia feito com alguns deles no Meeting e os artigos de Passos já tivessem me fornecido uma imagem precisa do que acontecia por lá. Mas, visitar a penitenciária Due Palazzi foi outra coisa: vi “diretamente” a documentação física, carnal, do título dos últimos Exercícios da Fraternidade de CL: “Se alguém está em Cristo é uma criatura nova”. Vi homens “velhos” (tipo Nicodemos) e “maus” (muitos cometeram crimes gravíssimos) tornados crianças, mudados. E seus rostos eram como os de pessoas polarizadas por uma presença. Durante todo o dia pareceu-me estar dentro de uma cena dos Atos dos Apóstolos: que familiaridade e que concórdia entre eles! Inacreditável, no entanto são condenados a prisão perpétua ou quase isso. Todos se empenhavam em apresentar o amigo que eu não conhecia. E que ligação entre aqueles que já cumpriram a pena – como Andrea Wu, batizado na noite de Páscoa – e quiseram voltar para festejar o Batismo de Giovanni Bledar, que também recebeu a Comunhão e a Crisma, junto com Umberto e Ludovico. E ainda o relacionamento com os agentes penitenciários, que quase se desculpavam por estar fazendo seu trabalho: controlar e acompanhar uma centena de pessoas em uma prisão de segurança máxima. Por fim, a amizade com Padre Lucio, Padre Eugenio e os outros que frequentam a prisão há tempos.
Foi surpreendente para mim, ver homens que fizeram todo o percurso humano, até o fundo obscuro do mal, mas para os quais aquela ferida foi a fresta por meio da qual outra coisa entrou neles, e sentiram renascer em si uma esperança tão certa quanto cheia de dor pelas vítimas de seu mal. Uma novidade que também contagiou Carlo Castagna, Gemma Calabresi e Margherita Coletta, surpreendidos pela evidência de uma misericórdia que só a fé torna experiência possível e da qual eles mesmos são testemunhas.
Vi, em Pádua, um pedaço de mundo velho feito novo, desde o primeiro olhar, assim que atravessei o grande portão de aço: em tudo dentro dos muros da prisão e no jardim botânico da escola de jardinagem, como se o Senhor tivesse tomado um pedaço de terra árida e a tivesse feito florescer diante de nós. Mas, sobretudo, foi surpreendente ver Giovanni Bledar com a veste branca de Batismo e, na primeira fila, toda sua família vinda da Albânia, entre eles o pai muçulmano e a mãe ortodoxa, que cumprimentavam e agradeciam, como se tivessem reencontrado um filho perdido. Foram superados esquemas, preconceitos e opções religiosas.
Tocou-me, ainda, ver nos presos que eu já conhecia, o empenho com os outros setecentos e tantos presos da Due Palazzi que não estão envolvidos com a Cooperativa Giotto de Nicola Boscoletto e Andrea Basso. Ninguém se satisfaz com “nós trabalhamos, temos nossos amigos lá fora, quem se importa com os outros”, tanto que um deles pediu para ter como companheiro de cela um jovem “que precisa mais do que todos”. É o empenho para que os outros também encontrem aquilo que eles viram e ouviram.
E, por fim, Padre Carrón, Dom Giussani... Nomes familiares e recorrentes durante todo o dia. Lembrando a nós, hóspedes temporários, a raiz daquela singularidade com a qual os presos falam de Jesus, de fé, de amizade e de perdão. A única queixa: não ter encontrado uma pessoa que conheço há anos “por correspondência”. Um dia antes da festa de Nossa Senhora de Fátima, conseguiu a prisão domiciliar. Ele diz que é um milagre do seu “Giussani guardião” – como o chama –, para quem reza dia e noite. Bom para ele.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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