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Passos N.128, Julho 2011

Em ação - O festival de Capri

Não há limite que detenha

por Fabrizio Rossi

Cesare pinta quadros que correm a Europa. Tony toca sem ter os braços. Justin canta em uma cadeira de rodas e se diz abençoado... Na região de Módena, uma exposição em que os deficientes físicos expressam a “própria alma”. Fomos ver de onde isso nasce

No dia 15 de maio encerrou-se a edição de 2011 do Festival Internacional das Habilidades Diferentes: dez dias de dança, música e teatro em Carpi, Correggio, Módena e Bolonha. O tema deste ano, o 13º festival, foi: “Twinkle. E depois saímos para rever as estrelas”. Onde, de uma comédia de Goldoni a um espetáculo de dança, os protagonistas foram eles: os deficientes, que vieram de todo o mundo para exprimir o twinkle, o “brilho” que cada homem carrega em si.
Para conhecer a origem de tudo isso, é preciso ir a Carpi, 70 mil habitantes, ao norte de Módena, onde há trinta anos padre Ivo Silingardi fundou um centro para deficientes: a Cooperativa Social Nazareno. Alguns exemplos do universo de obras nascidas deste sacerdote de 91 anos: um Centro de formação profissional para cozinheiros e padeiros. Duas casas para cerca de vinte internos da Cooperativa Nazareno. Três empresas para vender os produtos da cooperativa. A Casa Mantovani que, em Bolonha,
acolhe vinte pessoas com distúrbios mentais. A Casa das Borboletas, para jovens rebeldes. O Centro Morphé, que ajuda as empresas a formarem os funcionários...
E a Manolibera, vinte metros quadrados de oficinas em um sobrado de dois andares. Dobrando a esquina, há o Point Job, que acompanha mais de cem pessoas: “Acompanhamos pessoas com dificuldade de arrumar um emprego”, explica Chiara, a responsável. Normalmente, trata-se de trabalhos simples, como demonstram as caixas de cartas para serem envelopadas hoje. Se existe este lugar é, em boa parte, mérito de Cesare. Um homem grande que pesa cerca de cem quilos, que os outros
viam apenas como o louco do bairro. Quando chegou à Nazareno,
um dia explodiu: “Por que todos têm um trabalho e eu não?”.
Os funcionários o levaram a sério: “E, por causa da sua provocação, em 1991 nasceu a Manolibera”, conta Fernando, responsável pelo Centro.
De trás de uma parede, chega o barulho de pancadas. É o laboratório de impressão romangnola, uma técnica para decorar toalhas, aventais e tapetes. Em uma pequena mesa, as “gráficas” folheiam alguns álbuns: são Teresa e Fiorella, duas deficientes. Se algo as inspirar, provavelmente se tornará um pegador de panelas ou um pano de prato. “Aqui, cada um tem a sua tarefa”, explica Cristina, que na sala vizinha coordena a oficina de papel. Ao lado dela está Lucio. É um down de 50 anos, e quando se trata de rasgar papéis, ninguém o bate. Depois, o papel é colocado na água e fervido. Mauro é o responsável por tirá-lo da água com uma peneira. Ricardo estende os panos para enxugar o papel na prensa. Valentina e Glenda dão o toque final. E voilà, um cartão de felicitações. “Não é preciso saber fazer tudo: cada um é bom em alguma coisa. E, juntos, chegam a um resultado”. Quer se trate de passar verniz em um copo a manhã inteira, como Danny no laboratório da argila, ou de colar uma flor em uma bombonière, como Giulia. Ou mesmo
fazer um quadro abstrato, como Gianluca, que há alguns meses fez uma exposição até em Munique, na Baviera. Um down de 31 anos, que nem sabe ler. No entanto, parecia perfeitamente à vontade entre os visitantes e os críticos: “Sem saber uma palavra, comunicava-se com todos”, conta Sergio Zini, presidente da Cooperativa, que estava com ele na exposição. “No fim, disse a mim mesmo: Hoje, era eu o deficiente”.
Mas aquilo que é produzido na Manolibera – agendas de couro, marcadores de livros, jarras, porta chaves, etc – não fica nas prateleiras. A marca “Banco Artesão das Artes e Ofícios”, uma rede de negócios entre Bolonha, Carpi e Pavullo, recolhe os produtos para venda. “Esta também é uma ocasião educativa”, explica Milena, responsável pela filial de Carpi. Com ela, trabalham todos os dias cinco deficientes que etiquetam os produtos e organizam o depósito. Cada um ajuda como pode. E eles crescem. Fabio, por exemplo: “Antes eu precisava dizer tudo para ele. Agora, assim que chega, confere se as cestinhas estão vazias e tira o pó da caixa”. Parece pouco, mas são passos de gigante.

Como pérolas. Stefano, um outro professor, também nos fala sobre eles. Nas últimas semanas tem ido visitar Vincenzo, interno de uma clínica psiquiátrica: “Estamos verificando se vamos trazê-lo para cá”, explica. “Com ele, é preciso se envolver”. Quer dizer, é preciso fazer de tudo para entrar em relacionamento: “Às vezes ele fala sobre futebol, ou pergunta por que a cadeira está colocada de determinada maneira”. E as coisas pequenas também contam muito: “Como quando, outro dia, depois de uma manhã em que não tinha aberto a boca, de repente me disse: ‘Ontem fiz 41 anos’. Ali, meu coração se escancarou”.
No fundo, é a raiz dessa obra: olhar cada um pela riqueza que é.
“Ver neles, pérolas”, diz o diretor Marco Viola. Em 1984, veio aqui
por causa do serviço militar. E ficou: “Para ficar perto de padre Ivo”. Uma pessoa que, aos 91 anos, não para um instante: “Desde que eu era jovem tinha em mente que a minha vida seria para os pobres e para fazer Cristo ser conhecido”, conta. Dali nasceu tudo: uma escola para jovens abandonados, um refeitório, cinco casas para famílias... Até chegar aos deficientes: “Eles estão entre os pobres da época moderna, porque não correspondem aos modelos de hoje”.
Destas pérolas, o Festival estava cheio. Como Tommaso, um jovem down, que faz parte de uma companhia de dança. Contou-nos o que o estimula a treinar todas as manhãs:
“Fazendo os exercícios, preparo meu corpo para exprimir minha alma”. Ou como o canadense Justin Hines, que compõe e canta, sentado em uma cadeira de rodas. O corpo está atrofiado, mas a voz não. E quando alguém pergunta se não é um problema viver assim, ele responde: “O ponto é a satisfação naquilo que você faz. Para mim, cantar é uma paixão, então me sinto abençoado”.
Não há limite que detenha.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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