Jovens normais, mas, ao mesmo tempo, com um modo de pensar diferente. Uma forma nova de entender a amizade, a relação com os pais, o estudo, a família. Uma novidade que contagia pela intensidade de vida. “Isso eu não quero mais perder"
A comunidade de Aracaju, no ensolarado Estado de Sergipe, vive uma explosão de vida. Quem nos conta é Otoney, advogado de Salvador que visita frequentemente a cidade para fazer-lhes companhia no seguimento ao carisma do Movimento. No início de junho ele conduziu uma assembleia com a comunidade e voltou fascinado e comovido com o que viu e ouviu. Além dos jovens e adultos que já frequentam CL, desta vez apareceram muitas pessoas novas testemunhando a potência de Cristo que age, hoje, naquele povo.
Pessoas como o jovem padre Genário. Quando ele fazia mestrado em Roma, tinha visto pela televisão o funeral de Dom Giussani, e não dera muita atenção, pensando ser mais um Movimento; mas acabou surpreendido quando a sobrinha (que fora criada em um ambiente indiferente e mesmo hostil ao catolicismo) lhe perguntou sobre o Movimento que começara a participar em Aracaju. Essa curiosidade cresceu ainda mais quando viu suas duas sobrinhas frequentando as missas dominicais (coisa que nunca passara pela cabeça dele). Depois disso, com essas palavras, ele afirmou: “É o Senhor! Eu consigo perceber o rastro do Senhor! E eu preciso ir atrás disso, pois aqui tem alguma coisa
grande!”. E encontrar Giussani tem introduzido nele uma maneira
totalmente nova de viver o sacerdócio, introduz uma medida antes desconhecida. Coisas que antes eram apenas conceitos (obediência, sacrifício, fé, etc) ganham uma carnalidade e são vividas de uma maneira antes impensada. Outro fato que surpreendeu a Otoney foi a presença de Alice, jornalista e musicista, que durante essa assembleia contou como conheceu aquelas pessoas. Tinha sido pouco antes em um final de semana de convivência para o qual ela havia sido convidada por uma amiga. O primeiro momento foi de raiva e estranheza, pois ao chegar ao local esperando uma festa comum, encontrou uma casa para ser limpa e arrumada. Mas depois ficou maravilhada por ver como aquelas pessoas cuidavam de cada detalhe. À noite, durante o sarau, ela se deu conta de que, mesmo sem muitos dotes musicais, eles cantavam de uma forma que ela nunca tinha visto. Ela ficou muito impressionada com a alegria daquelas pessoas em dedicar-se a coisas tão simples – como tirar a poeira dos móveis –, e com o fato de “Cristo falar conosco no cotidiano”, frase essa que ouviu de Camilo, o responsável da comunidade, e a fez voltar para a própria casa e começar a arrumar tudo e a olhar para a própria mãe de um jeito que ela nunca tinha feito antes. Para não perder o que começou a experimentar ela também decidiu voltar a encontrá-los e por isso foi prontamente à assembleia. Pois mesmo sem entender direito, ela percebeu que tinha encontrado algo grandioso que a fazia viver de uma forma diferente. “Isso eu não quero mais perder.”
Entre os universitários da comunidade, nasceu uma amizade que
se mostra também como juízo dentro do ambiente. Um grupo
de alunos do curso de História começa a viver uma companhia real
na universidade, e aos poucos começam a adquirir um rosto diverso da mentalidade comum que entendem que não basta. A seguir, algumas cartas que documentam um pouco dessa vivacidade, que nada mais é do que a documentação da contemporaneidade de Cristo.
“ Eu sabia que aquele sábado seria um dia longo (almoço,
reunião e assembleia, e ainda tinha que resolver umas coisas antes). O almoço e a assembleia com o Otoney foram incríveis. Ali eu me dava conta de todas as experiências pelas quais eu tinha passado e as que eu tinha visto acontecer e tudo aquilo era surpreendente, pois senti o impacto de tudo aquilo, que já estava dando por óbvio. Enquanto eu ouvia o Otoney falar meu coração ardia, pois eram coisas muito concretas e pertinentes para a vida, eram concretas e ao mesmo tempo tinham uma intensidade e profundidade enormes. Eu passei a semana toda voltado para a questão ‘onde minha vida ganha mais vida por causa de Cristo?’. Assim, fiquei me observando em ação (ou tentando ao menos, pois as distrações são imensas). Em uma manhã, fiquei lembrando e tentando avaliar as experiências que tive nos meus últimos anos, até mesmo antes de entrar no Movimento: o trabalho no arquivo, os estudos, minha trajetória acadêmica, as férias, o namoro, minha entrada na faculdade, etc. Fiquei pensando e tentando avaliar tudo o que havia ocorrido comigo. Cada vez mais me parece que além dessa necessidade de sentido, tenho uma necessidade de Verdade, de que as coisas sejam verdadeiras, que tenham sentido e durem. Só assim, conhecendo essa verdade eu poderia me tornar protagonista da minha vida! E me observando, e vendo minha vida, eu percebia o quanto sou pequeno, o quanto sou mesquinho e egocêntrico. Eu não posso controlar minha vida, e já está provado por A+B que eu não me basto. Eu não sou capaz de satisfazer a mim mesmo, mas depois
desse encontro eu me dei conta dessa minha expectativa, desse meu desejo, e do meu trabalho e da minha busca para consegui-lo. O que antes era um caminho que eu tinha que seguir, se tornou um chamado, uma necessidade, necessidade de sair de mim, de encontrar esse Outro que prometeu me satisfazer, de me entregar a Ele.” (João Victor)
“ Hoje o sentimento que tenho é de uma vida que explode dentro
de mim, e uma direção para onde olhar! A vinda de Otoney foi um
acontecimento na minha vida. E me ajudou a dar-me conta que
a pergunta, sem a resposta, enlouquece! Inicialmente eu pensava
no almoço como uma possibilidade para os universitários encontrarem
o Otoney e que ele pudesse encontrá-los, para que pudesse ver a beleza
que está acontecendo em nossa amizade. Mas eu mesmo começava
a dar por óbvio essa beleza e não me dava conta de que aquilo ali
era também para mim. Cuidei de cada coisa com muito esmero
e carinho, sabia que iria receber Cristo, o que não tinha percebido
era que Cristo vinha para me encontrar! Só fui me dar conta disso
quando, por causa do preparo das comidas, eu precisei ficar saindo
da mesa a todo instante e não podia estar presente. Meu coração
queria estar à mesa, mas a realidade me pedia para estar na cozinha
cuidando da comida... Depois veio a reunião na Atalaia.
A grande expectativa: ‘Será que aparecerá alguém?’ De repente,
me via diante de nove jovens. E alguns foram dando seus testemunhos.
Quando chegou a minha vez eu me dava conta de que eu tinha
encontrado uma coisa na minha vida que não sairia mais. Eu não
consigo mais deixar Cristo... e ficou tão evidente isso que não importava
se aqueles garotos fossem embora, isso não mudaria em nada a certeza
daquilo que eu tinha encontrado! Só que essa certeza não me enchia
de um orgulho ou de um egoísmo, mas me enchia de uma ternura por
cada um, me enchia de um afeto que eu não tinha como não desejar,
do fundo do meu coração, que eles pudessem também encontrar
esse Cara que eu encontrei! E estar ali, e ver o João e a Mari,
me enchia de felicidade. Minha fé é mãe da fé deles!
Isso é um fato que se deu na história e que não pode ser apagado!
Na assembleia vivi essa mesma comoção ao ver o Ash e a Cris
cantando. Também eles encontraram essa experiência pelo encontro
comigo. Mas isso não me enche de orgulho, me faz tremer!
Porque eu nunca imaginaria que Cristo faria uma coisa desse tamanho
através de um precário sim como o meu! E desse nada que eu sou,
Ele faz uma coisa tão grandiosa como essa! Encontrar o Otoney
me ajudou de forma inimaginável em diversas coisas! Primeiro,
entendi a necessidade de seguir, de seguir o Camilo. E como ele
colocou isso com as palavras certas, dando o sentido de seguir:
por causa da encarnação de Cristo! Como é bom dar-me conta
de que, na minha história, a Encarnação de Cristo aconteceu
através dele. O sim dele gerou o meu! E quantas e quantas vezes
o sim dele gerou-me... Pude dar-me conta de que tenho feridas muito
abertas, muito vivas. Meu coração queima de tantas perguntas
e perguntas que chegam a ser insuportáveis de tão densas que são.
Mas pude ouvir a coisa mais importante: há uma resposta para essas
suas perguntas. É um homem. E ele tem um nome: Cristo!
Nos meus estudos, ajudou-me a dar-me conta de que eu preciso deixar
claro quem eu sou e no que penso. Claro que não de uma forma
imprudente, mas se faz necessário dizer quem eu sou! O desafio
de lançar O Senso Religioso não é tanto para os outros, mas para mim,
para que eu possa ter claro quem eu sou! Entendi mais do que é feita
a amizade e pude voltar a olhar para um amigo com quem tinha
brigado como no início de nossa amizade! Porque a verdade salva a relação!
E, por fim, a verificação com essa garota, essa companhia que estou
encontrando. A possibilidade de colocar isso no seu lugar mais justo,
de olhar com realismo e me dar conta de que ela não é a resposta
aos desejos do meu coração. Isso me faz amá-la ainda mais. Meu Deus,
meu coração pula, vibra, fica inquieto! O que mais virá? Eu toquei
em Cristo, e quero tocar novamente! E quero levar minha vida ainda
mais a sério, para poder encontrá-Lo de novo!” (Lucas)
“ O que dizer daquele sábado, 4 de junho de 2011? Por que ele será
inesquecível para mim? Porque neste dia, assim como na Romaria,
nas Férias ou nos Exercícios (apenas para citar alguns exemplos),
Cristo mostrou-se para mim de forma concreta, viva. Sim, Cristo
ressuscitou e está presente naqueles amigos, naquela companhia
que é, realmente, para a vida! Mais uma vez Ele mostra-me que
nunca me deixará desamparada e sempre quer me cativar, de forma
especial, como na primeira vez. Porém, acredito que a principal lição
daquele sábado é procurar mostrar Cristo em todos os ambientes.
Mostrar que eu, Emanuela, apesar de ser uma pobre pessoa finita,
cheia de defeitos, sou cristã e por isso desejo a vida em plenitude,
desejo estar inteira sempre. Resumindo: quero me tornar um ser
vivente! Para isso, espero manter meu coração tão vivo como
no sábado, não só no Movimento, mas com a minha família, com
os meus estudos, com o meu trabalho e com os meus amigos.
Não é uma tarefa fácil, até porque a cada novo gesto do Movimento
este desejo reacende, mas acabo me distraindo por causa da minha
preguiça. Mas carrego comigo as experiências de pessoas próxima
a mim, como Lucas, Cris, João e Gabi, e algo que Otoney disse:
‘A realidade torna-se delirante se Cristo não penetrar nela’.
Esta afirmação me perturba, chega até a me causar certa impaciência,
mas permite que eu me mova, que o meu desejo do Infinito não
se apague. Permite, por exemplo, que eu possa ajudar meus pais
com as coisas da casa com mais dedicação, porque eles também
são a face de Cristo. E hoje, tenho certeza, Cristo está sempre
querendo me oferecer o cêntuplo!” (Emanuela Carla)
“ Até semana passada, estava pouco entusiasmando, levando
as coisas, inclusive a Escola de Comunidade, mecanicamente.
A Beleza que encontrei e que me fascinou estava apagada.
Deixei problemas de relacionamento pequenos nublarem o principal:
a amizade que me leva a Cristo. Na assembleia, algo que me marcou
muito foi a explicação que Otoney deu sobre a autoridade. Ela existe
não para impor coisas, mas para ser um referencial para nós, para mim.
Deus não se identifica com a figura da autoridade, mas se utiliza dela,
‘passa por ela’ para chegar a todos. Percebi que se estou no movimento
Comunhão e Libertação, se identifico que esse é meu carisma, devo
me empenhar nos gestos que são propostos. Pois, o carisma do Movimento
é a forma especial como Cristo chega a mim. Existem inúmeros outros válidos,
mas foi esse que me provocou. Por fim, o encontro de domingo foi muito
importante para corrigir os rumos de algumas coisas, alguns pequenos desentendimentos. Otoney, de forma muito clara, disse que na amizade,
não importa que briguemos – pois isso é completamente humano –,
desde que reconheçamos que Aquele que nos une é maior que todas
nossas limitações. Portanto, não é justo, não é ‘razoável’ perder essa
amizade, essa beleza, por nossas fraquezas. Só um relacionamento
baseado na rocha que é Cristo pode perdurar sem ressentimentos.
Nesse fim de semana fui invadido por uma alegria, um entusiasmo,
e uma paz como no meu primeiro encontro com Cristo. Espero não
perder esse brilho nos olhos tão facilmente. Por isso, conto com o auxílio
dos amigos.” (Ailton)
“ A mudança na minha vida tem sido uma surpresa. Nada disso
vem de mim, é mais forte. Simplesmente o recomeço vem acontecendo,
enquanto eu oro a Deus pela graça da minha conversão, ao ler os textos,
ao me encontrar com vocês no grupo. Coisas tão simples, mas muito
importantes. Recomecei a minha vida a partir daquela noite mais uma
vez. Todo o Movimento vem me tocando muito, e quero muito permanecer
no grupo, dar um passo a cada dia. Ontem à noite fiquei feliz porque darei
mais um passinho: participarei da caritativa. E estou feliz porque desta vez
até o universo conspirou a meu favor, porque vou trabalhar pela manhã
e a caritativa será durante a tarde. Deus vem me dando as segundas chances
de refazer minha vida, de recomeçar sempre. Sinto um pouco de medo,
sinto vontade, sinto tristeza com algumas faltas em minha vida,
mas ao mesmo tempo, apesar de tudo, me sinto em paz. Uma paz que
não sentia há um bom tempo. Venho me observado em casa, até com
os afazeres domésticos que costumava odiar fazer e agora os faço como
uma terapia. No trabalho também tenho vivido com muita disposição
e jogo de cintura, não vivo mais me lamentando, ou me ‘matando’
por coisas tão pequenas. Também gosto de reconhecer que ainda há
muito o que se fazer. Quero estar preparada para ter forças para reerguer-me
quando as quedas vierem. Orar, ‘CLelizar’ e vigiar... Na assembleia,
enquanto o Camilo falava eu ficava pensando como foi que ele pensou
em abraçar este grupo. Meu Deus, quanta gratidão pelo Pai e quanta
humildade ao reconhecer que apesar de sermos parte da perfeição que
é Cristo, somos tão imperfeitos, tão humanos e fracos! Sou grata à sua
esposa Ana Paula também, por acreditar nisso junto com ele. Por mais
que eu saiba que Deus é misericordioso e cheio de surpresas, eu continuo
sempre me surpreendendo com tudo que acontece. Ainda bem!”
(Alice)
“ Ao entardecer do sábado, em meio às atividades paroquiais,
participei de uma assembleia de CL na casa de Lucas. Como não recordar
aquele dia! Todos reunidos escutando o Otoney falar de Cristo ressuscitado,
de um modo fascinante, descontraído, mas que levava a refletir
no coração sobre Aquele que vive. O que me marcou foi a concepção
de autoridade, uma realidade vivida por mim no ministério sacerdotal,
mas da qual faltava o sentido. A encarnação de Deus, neste mistério
o próprio Senhor quis utilizar de pessoas com seus limites, mas escolhidas
por Ele. Então, presença d’Ele no nosso meio. Depois me coube falar
do meu testemunho, da experiência de ter encontrado o Movimento.
Quando estava em Roma, no último ano de conclusão do mestrado
em História da Igreja, auxiliando uma paróquia, os meus amigos já tinham
retornado para o Brasil, pois eu havia passado um ano em casa devido
à morte na família. Neste contexto, o MSN se tornou um meio
de comunicação com os familiares e amigos. Certo dia conversando
com minha sobrinha, Maria Gabriela, ela perguntou sobre um tal Movimento Comunhão e Libertação, se valeria a pena participar. Confesso que já tinha
ouvido falar e me lembrava do funeral de Dom Giussani. Respondi
apressadamente: ‘vale, continue’. Pensei comigo: ‘ao menos está
na Igreja’. O tempo passou, e ao retornar para o Brasil e começar
a administração da paróquia encontrei alguns jovens do Movimento,
por meio do seminarista Wendell, da Arquidiocese Militar.
Convidaram-me para sair. Via jovens normais, mas, ao mesmo tempo,
um modo de pensar diferente. Certo dia, fui convidado para a Escola
de Comunidade. E, com o decorrer do tempo, algo me despertava
curiosidade e me fazia refletir: ‘é possível jovens em um ambiente
hostil a Deus, viver a fé, seguir a Cristo, Aquele que vive,
o Ressuscitado?’ Sim, seguiam o Nazareno, dando sentido à vida
por meio do Evangelho. Via as minhas sobrinhas, criadas num ambiente
indiferente e contrário à fé católica, fazer um percurso de fé, participar
da Eucaristia. Fiquei marcado quando uma delas, ao perder uma amiga,
conseguiu seguir um diálogo sobre a experiência do Ressuscitado
que tinha passado com a morte do avô delas, meu pai. Ela, mesmo
triste humanamente, compreendia e se comovia pelo nosso Deus,
o qual venceu a morte e a sua vitória é nossa também. Diante disso
compreendi que este algo é o Senhor. O viver intensamente cada
realidade que nos é proposta é um encontro com o Ressuscitado.
Mesmo sabendo que em cada Missa celebrada estou com Ele em
minhas mãos sacerdotais, neste encontro vivo um renovar e dar
sentido à minha vocação. Ele me chamou a estar na sua presença
constante, a servi-Lo. Agradeço esta oportunidade, concedida
a mim pela Divina Providência, de viver essa experiência em
minha vida sacerdotal, agradeço por esses amigos, e posso dizer,
como os discípulos do Senhor: ‘Realmente o Senhor ressuscitou
e apareceu a Simão’ (Lc 24,34).”
(Padre Genário)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón